Li esta semana um pequeno livro do Rev. John Stott, cujo título é "Cristianismo Equilibrado". O livro é muito interessante... Hoje vou postar uma parte do livro que chamou minha atenção...
Crer também é pensar...e sentir!
“A fuga da razão é um sinal  distintivo da vida secular contemporânea (...) Porém, este tipo de antiintelectualismo é muito  mais sério na igreja evangélica, pois a Palavra de Deus ensina que a nossa  razão é parte da imagem divina na qual Deus nos criou. Ele é o Deus racional que nos fez seres racionais e nos deu uma revelação racional. Negar nossa  racionalidade é, portanto, negar nossa humanidade, vindo a ser menos do que  seres humanos. As Escrituras proíbem que nos comportemos como cavalos e  mulas que são “sem entendimento”, e ao contrário, ordenam que sejamos “maduros” em nosso entendimento” Sl. 32.9, I Co. 14.20. De fato, a Bíblia  nos diz constantemente que cada área da vida cristã é dependente do uso  cristão de nossas mentes. Permita-me dar um exemplo: o exercício da fé.  Muitos acham a fé e inteiramente irracional. Mas as escrituras nunca  colocam fé e razão uma contra a outra, como sendo incompatíveis.
Pelo  contrário, fé somente pode nascer e crescer em nós pelo uso de nossas mentes:  “em ti confiarão os que conhecem o teu nome” (Sl 9.10); a confiança deles  brota do conhecimento da fidelidade do caráter de Deus. Novamente, em  Isaías 26.3: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti,  porque ele confia em ti”. Aqui, confiar em Deus e manter a mente em Deus  são sinônimos e uma perfeita paz é o resultado.
À luz desta ênfase bíblica a respeito do lugar da mente na vida cristã, o  que é que devemos dizer para a geração moderna dos antiintelectuais, os  emocionais? Sinto muito ter de dizer que eles estão se autoproclamando  intensamente, como sendo crentes mundanos.
Pois “mundanismo” não é  apenas uma questão (como fui ensinado a acreditar) de fumar, beber e dançar,  nem tampouco aquela velha questão sobre embelezar-se, ir a cinemas, usar  minissaias, mas o espírito do século. Se absorvemos sem qualquer exame os  caprichos do mundo (neste caso, o existencialismo), sem que primeiro  sujeitemos isto a uma rigorosa avaliação bíblica, já nos tornamos crentes  mundanos.
Sinto-me na obrigação de acrescentar, contudo, que se o antiintelectualismo é perigoso, a polarização oposta é quase igualmente perigosa. Um hiperintelectualismo árido e sem vida, uma preocupação exclusiva com ortodoxia não é cristianismo do Novo Testamento. Não há dúvida de que os crentes primitivos eram profundamente motivados pela experiência de Jesus Cristo. Se o apóstolo Paulo pode escrever sobre a “excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”, e o apóstolo Pedro pode dizer que os crentes “alegram-se com gozo inefável e glorioso” (Fp. 3:8; I Pedro 1:8), ninguém pode facilmente acusá-los de tristonhos ou insensíveis.
A verdade é que Deus nos fez criaturas, tanto emocionais, como racionais. Se é um perigo negar nosso intelecto, é um perigo também negar nossas  emoções. Mesmo assim, é o que muitos de nós estamos fazendo.
Qual, então, a verdadeira relação entre o intelecto e a emoção?
Em particular, nada coloca o coração tão em fogo como a verdade.
A verdade não é fria e seca. Pelo contrário, é cheia de calor e paixão, e em  qualquer que seja o momento em que novas perspectivas da verdade de Deus surgem diante de nós, não podemos ser apenas contemplativos.
Somos  movidos a responder, seja em penitência, ira, amor, ou adoração.
Pense nos dois discípulos a caminho de Emaús; na primeira páscoa, á tarde, quando o  Senhor ressuscitado falava com eles. Quando Ele desapareceu, eles disseram um para o outro: “Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo  caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?”(Lc. 24.32). Eles  tiveram uma experiência emocional durante toda a tarde. Por isso, descreveram a sensação que tiveram como um coração ardente. E qual foi a  causa do ardor espiritual? Foi Cristo, abrindo-lhes as Escrituras!
É o mesmo hoje. Sempre que lemos as Escrituras e Cristo as abre para nós, para que captemos verdades novas, nossos corações devem arder dentro de nós. Esta combinação verdadeira de intelecto e emoção deveria ser visível, tanto na pregação como na compreensão da Palavra de Deus.
Rev. John Stott
Extraído do Livro “Cristianismo Equilibrado”
 
