segunda-feira, outubro 13, 2008

Marcos 1.1-13 - JESUS ENTRA EM CENA!


Texto: Marcos 1.1-13 - JESUS ENTRA EM CENA!
Intr. Estes treze versículos marcam o inicio do evangelho segundo Marcos. Note que Jesus é o personagem principal (como será em todo o evangelho), mas aqui ele não toma iniciativas, ele é um personagem passivo. Aqui Jesus é apresentado. 
1) SUA AUTORIDADE É CONFIRMADA PELAS ESCRITURAS: AS PROFECIAS DO AT APONTAVAM QUE UM PROFETA ANUNCIARIA A VINDA DO FILHO DE DEUS. MARCOS 1.2-8
2,3 Antes de Marcos relatar o primeiro acontecimento, ele o fundamenta na palavra profética. A citação da profecia de Isaías é apresentada por uma parte de Êx 23.20: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, e outra parte de Ml 3.1:O qual preparará o teu caminho. Desta maneira, a palavra de Is 40.3 que segue recebe direção: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 
O leitor da Antigüidade logo sabia do que se tratava, ele conhecia visitas dos reis. As cidades orientais não tinham coleta de lixo ordenada, de modo que geralmente grandes montes de detritos entulhavam os aces¬sos aos portões. Quando da visita do rei, tomavam-se todas as providências para que os carros da sua comitiva pudessem entrar na cidade sem quebrar eixos em buracos ou tropeçar sobre imundícies. 
2) SUA AUTORIDADE É CONFIRMADA PELO CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS: O PRECURSOR
4 Portanto, aconteceu aquilo que Isaías profetizara: apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados. Quando ouvimos a palavra "deser¬to" pensamos logo em areia e aridez até onde os olhos alcançam. 
O deserto se diferencia da terra cultivada por ser pouco habitado, razão pela qual é considerado um lugar de encontro in¬tenso com Satanás (v 12), mas também com Deus (v l0s). Foi no deserto que o povo de Deus nasceu. Foi ali que recebeu lei e aliança, presenciou os mila¬gres de Deus e usufruiu da sua direção. Por isso, em retrospectiva, a tempora¬da no deserto foi, para Israel, o tempo ideal e o lugar de todos os novos começos (Is 43.19; Jr 2.2; Os 2.16-25; Am 5.25), apesar de todos os terrores. 
João pregava, batismo de arrependimento; portanto, um batismo que desafiava à con-versão total e estava recheado de arrependimento. Conversão a quê? Era uma conversão à espera daquele que viria e do seu reino. 
O batismo acontece tendo em vista a remissão de pecados. "Pecados" refere-se à seqüência de rompimentos da alian¬ça e sua somatória, que conserva Israel sob julgamento. 
5,6 João, portanto, era profeta. "Todos consideravam a João como profeta" (11.32). Isto também prepara sua próxima afirmação. Em comparação com o v 4, agora se fala claramente do conteúdo do que ele pregava, dizendo:
7 Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu. Quando um arauto proclamava numa praça de mercado a visita de um rei, muitas vezes ele era recebido pela população com honrarias exageradas, para, através dele, se conseguirem as boas graças do rei. Este arauto está em situação semelhante. Ele diz, de modo a deixar bem claro, quem ele é e quem ele não é. Ele não é a luz, não é o Messias. Ele não prepara o caminho para si mesmo, mas para o mais forte.
Este mais forte ele apresenta de modo anônimo: Vem alguém (cf Mt 11.3; Mc 11.9). 
“desatar as amarras das sandalhas” era algo que não se podia pedir nem a um escravo judeu. Agora João declara: Até este serviço mais baixo de um escravo, que só um escravo pagão faria, ainda é digno demais para mim quando o Senhor vier.
8 Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batiza¬rá com o Espírito Santo. O que o une com Jesus é que ambos batizam, e que suas ações estão em seqüência lógica. O batismo de João prepara o batismo daquele que vem, e o batismo deste confirma o batismo de João. 
3. SUA AUTORIDADE É CONIRMADA PELO PAI: A autenticação de Jesus pela voz do céu depois do batismo, Marcos 1.9-11
9 Naqueles dias......veio Jesus de Nazaré da Galiléia. Sua origem é o primeiro choque. Ele veio de um povoado afastado, Nazaré, que só podia ser encontrado com aju¬da: da Galiléia (cf v 14
10 Logo, ao sair da água, Jesus teve uma visão. 
O som da voz, porém, é introduzido por uma evento aterrorizante. Jesus viu os céus rasgarem-se. O verbo é o mesmo de 15.38, com certeza com o mesmo sentido, e nas duas vezes seguido de uma confissão de que Jesus é o Filho de Deus. Nesta passagem, porém, temos de remeter ao AT. O céu se abrindo vinculado à revelação do Espírito lembra muito o grito de angústia de Is 64.1 (cf v 11,14). Este brota da indizível aridez espiritual de Israel. O povo de Deus não tinha mais Deus com ele e estava entregue ao seu próprio legalis¬mo. Céu e terra tinham se fechado um para o outro e os abismos estavam escancarados. Deus é quem precisa derrubar o bloqueio, rasgar os céus e derramar sua força e suas dádivas sobre a terra. Este evento cósmico é ligado aqui com o batismo terreno de Jesus. Em Jesus, Deus rompe seu silên¬cio e intervém com seu domínio salvador.
No momento em que ressoa a voz do céu aberto, irrompe a salvação. Uma pomba dá o sinal, como ao término do julgamen¬to do dilúvio na época de Noé. É a pomba do Espírito Santo, como podemos entender aqui sem uma explicação especial.
11 A voz do próprio Deus agora se coloca ao lado da voz humana (v 2): Então, foi ouvida uma voz dos céus. Entenderemos o sentido da nossa passagem se prestarmos atenção ao pe¬queno acréscimo: “amado”. Este vocábulo significa "o mais amado, privilegia-do, escolhido" (cf Gn 22.2,12,16; cf Is 42.1 a seguir). Portanto, trata-se de um Filho em sentido exclusivo, privilegiado em sentido incomparável, um segre¬do entre Deus e Jesus.
4. AUTORIDADE CONFIRMADA DIANTE DE SATANÁS, Marcos 1.12,13
12 E logo, é a continuação significativa (cf v 10n). O Filho de Deus, o que batiza com o Espírito, que acabou de ser manifesto, se revela cada vez mais, seu poder irrompe. O Espírito o impeliu. Também em 12.6 o Pai envia o Filho amado para fora do aconchego. Esta "expulsão" lembra a de Gn 3.24, ao mesmo tempo que se diferencia dela. Desta vez não é o rigor da condenação que expulsa, mas a vontade de salvar faz o próprio Deus sair do paraíso por meio do seu Filho, atrás das pessoas perdidas. 
13 O deserto, na Bíblia, pode ser o lugar ideal para um encontro com Deus (cf v 4). Será, então, que Jesus foi para o deserto procurar a comunhão com Deus, como no v 35? O texto aponta em outra direção: onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Esta permanência no deserto está sob o número quarenta, o número da provação. Quarenta dias durou o dilúvio (Gn 7.12), o jejum de Moisés no Sinai (Êx 34.28), a caminhada de Elias até o Horebe (1Rs 19.8). Quarenta anos Israel permaneceu no deserto (SI 95.10) e, mais tarde, sob o domínio dos filisteus (Jz 13.1)
Devemos observar que a iniciativa foi de Deus. Deus é quem não quer mais tolerar a miséria da criatura escravizada. Através do seu Filho ele ataca o dono da casa (cf Mc 3.27). O reino de Deus não pode vir a não ser com confronto. pois não penetra em espaço sem dono. Satanás é perturbado em seu covil, e ele não fica sem reagir. Ele exibe um poder sedutor, que aqui não é descrito em detalhes. Marcos pode pressupor que seus leitores, que são cristãos de longa data, o conheçam.
Estava com as feras. Assim como os seres celestiais adoram Jesus (Hb 1.6), os anjos o servem durante esses quarenta dias de tentação. Possivelmente, a referência à presença de Jesus entre os animais seja uma alusão à restauração do Éden (Is 11.6-8; 65.25; Os 2.18) com a reversão da inimizade que surgiu no universo como resultado da queda (Gn 3.15). Na vitória final sobre Satanás, toda a criação ficará livre de sua escravidão (Rm 8.19-23).
Em meio à fartura, e com os animais sujeitos ao seu domínio, Adão caiu em tentação. Cercado pela escassez e a hostilidade do deserto, Jesus prevalece. Ele, como Adão, foi levado por Deus à tentação imediatamente após o seu comissionamento; mas, ao contrário de Adão, Jesus resistiu à tentação e, portanto, restaurou o paraíso. Esse conflito com Satanás forma parte do pano de fundo do ministério de Jesus.
Assim Jesus ficou firme diante de Satanás. Como Filho, ele também é o mais forte. Por isso ele pode libertar o mundo e trazer-lhe paz. É neste sentido que agora seguirão um parágrafo após outro. Tudo está vinculado na realidade do Filho de Deus, autenticada e confirmada nos v 10-13.
Nos v 9-13 as pessoas nem foram mencionadas, exceto o Batista no v 9. Jesus só encontra o céu e Satanás, o Espírito e os anjos. Só a partir do v 14 ele entra no cenário humano. Mas ele desde o começo está definido como o mais forte. Por isso as pessoas ficam perplexas (v 22), os demônios tremem (v 24), a natureza obedece (4.29). A razão para isto é que ele não veio como um entre muitos, mas como aquele Um para muitos, o Filho eterno, autenticado pelo Pai, cheio do Espírito, confirmado diante de Satanás - como o novo Adão, que reabre o paraíso para nós seres humanos. Como o mais forte, ele invadiu a casa do valente e agora a saqueia item por item (3.27). Entretanto, como o vencido ainda resiste, o caminho de Jesus continuará cheio de tentações e sofrimentos.

Rev. Ézio Lima
Esboço de sermao pregado na IPI Central de Brasília