"De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei:
Pai,
santificado seja o teu nome;
venha o teu reino;
o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia;
4perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve;
e não nos deixes cair em tentação. (Lucas 11.1-4)
A oração não é uma invenção cristã. A oração é uma prática universal e “multireligiosa”. Os religiosos oram. O conteúdo e o propósito da oração são tão multiformes como as religiões e os orantes. A oração como prática natural, fruto dessa nossa necessidade humana de tocar o transcendente, é comum a todos e a ninguém exclui. Até mesmo ateus oram de alguma forma, ainda que o façam para si mesmos.
Não obstante a oração seja uma experiência universal, há dois elementos que só existem na fé cristã:
1) os cristãos oram ao próprio Jesus
2) os cristãos oferecem suas orações em nome de Jesus.
Orar no Seu nome é reproduzir o seu caráter em nós mesmos, permitindo que as nossas vidas sejam moldadas por ele.
Jesus deixou aos seus discípulos uma experiência de relacionamento dinâmica e profunda com o Pai. Jesus ensinou que o Seu Pai era também o Pai dos discípulos. E isso deu à fé dos cristãos um ingrediente completamente inaudito no que concerne à oração.
Podemos tentar imaginar como Jesus transmitiu isso aos seus discípulos. Enquanto judeus piedosos, estes homens antes de se tornarem discípulos de Jesus iam à sinagoga todos os dias ao amanhecer, às 15 horas e novamente ao pôr-do-sol, ouvindo e adorando por meio de orações cerimoniais.
Eles sabiam que João Batista havia ensinado uma oração aos seus discípulos. A oração de João Batista era uma marca caraterística que os identificava como seus discípulos. Os discípulos de Jesus pedem, assim, uma oração que também os identifique como discípulos de Jesus. Então, eles
Eles tinham consciência que a oração os identificaria com Jesus. Orar como Jesus era a certeza de ser identificado como discípulos de Jesus. Pedem-no para que lhes ensinasse a orar... E Jesus lhe ensina a orar dizendo...."Pai Nosso...."
A Igreja nos primeiros séculos levou muito a sério a oração que Jesus ensinou. Tão a sério, que essa oração só era ensinada aos candidatos ao Batismo e não era revelada ao mundo exterior. Fazer a oração de Jesus era o sinal do novo compromisso com a fé cristã e com a comunidade cristã.
A ação da igreja nos primeiros séculos não era sectária, mas a igreja tinha consciência que a oração era (e é) muito mais que um amontoado de palavras. Não há oração verdadeira sem comunhão real com Deus.
Comunhão tem a ver com “amizade”
A verdadeira amizade é algo raro. Já existe toda uma indústria que vende amizade para solitários e aos aflitos, sob a forma de terapia. Muitos terapeutas são conhecidos como “amigos profissionais”. Pode ser que, dentro de algum tempo, surjam mestrados em amizade, doutorados em companheirismo. A tônica do mercado em promover relacionamentos é sinal claro de que vivemos numa crise existencial global. O ser humano sozinho fica perdido.
Mesmo nas amizades humanas é um alívio pode ficar à vontade e compartilhar coisas simples e singelas que nos fazem sentir bem um com o outro. A verdadeira amizade não deseja atrair toda a atenção para si nem busca títulos, prêmios e reconhecimento.
Nossa primeira experiência com a amizade de Jesus pode ser ao mesmo tempo dolorosa e jubilosa, pois estaremos nos vendo sob uma luz verdadeira, talvez pela primeira vez na vida.
Um amigo verdadeiro nunca pode ter motivações ocultas. Não pode ter segundas intenções. Um amigo é tão somente um amigo, simplesmente pelo prazer da amizade. Bernardo de Clairvaux escreveu que nos temos a tendência de amar por causa de nós mesmos. Quando começamos a aprender a amar a Deus, nós o amamos por causa de nós mesmos. À medida que vai aumentando nossa amizade com Deus, passamos a amá-Lo não apenas por causa de nós mesmos, mas também por causa dEle. Um dia talvez cheguemos ao ponto de amar a nós mesmos por causa de Deus....
(por enquanto é só... mas vamos continuar esta conversa)
Rev. Ézio Martins Lima