sábado, junho 24, 2006

O PROBLEMA ESTÁ NOS OLHOS

O PROBLEMA ESTÁ NOS OLHOS

Catarata, miopia e astigmatismo são problemas dos olhos que um bom oftalmologista resolve. Há, entretanto, outros problemas relativos à visão, em que a ação do médico é ineficaz, as conseqüências são muito mais sérias e, somente o "colírio divino que unge os olhos" (Ap 3.18), pode nos ajudar.

Jesus disse que "se os olhos forem bons todo o corpo será luz. Se, porém, os olhos forem maus, o corpo será tenebroso" (Mt 6.22-23). Em outras palavras: a forma como olhamos a vida, o mundo e as pessoas, interfere nas sensações do corpo, interfere nos pensamentos, interfere na vontade, interfere nos relacionamentos. Os olhos são a janela da alma. O olhar que lançamos interpreta o mundo e fala muito de nós. É nosso olhar que vai dizer se somos cristãos ou não, se somos mansos ou se somos intolerantes. Se vivemos em luz ou em trevas.

Com que tipo de olhos temos observado o mundo à nossa volta, o erro dos irmãos, a incapacidade do nosso chefe, as limitações do nosso pastor, os que pensam diferente de nós, e os que não compartilham de nossa "espiritualidade"?

Os olhos maus estão em toda a parte e são temidos por todos. A religiosidade popular chamou de "mau olhado". Se um bebê começa a chorar inexplicavelmente a crendice logo imagina ser o mau-olhado de um invejoso que visitou a casa. Se bate o carro novo, foi o "mau-olhado" do vizinho.

Crendices à parte, pessoas de olhos maus necessitam de cura. É uma doença que todos precisamos estar atentos, pois sem perceber, ela pode se instalar em nossas vidas. Dentro do Corpo de Cristo não estamos imunes a ela, pelo contrário, os olhos maus se manifestam na Igreja de muitas maneiras: é a crítica pela crítica, é a intolerância, é o julgamento, é o sectarismo, o farisaísmo.... Tudo isso é uma doença dos olhos.

Olhos maus tornam a pessoa insensível, dura, cruel, impede o perdão e pretende tomar sobre si a vingança, quando a Bíblia diz claramente que "Deus é o vingador". Olhos maus não conseguem se alegrar com a manifestação da bondade divina na natureza e na vida ("a Terra está cheia de Tua bondade").

Há olhos que não enxergam, há olhos que enxergam só vultos (Mc 8.24), há olhos maus, há olhos cansados , há olhos que não se satisfazem, há olhos altivos, há olhos maliciosos, há olhos rápidos, que não tem sossego e não se fixa em nada. Há também quem vê mas não "enxerga". São olhos que se recusam a enxergar: Deus está mostrando mas eles não querem ver.

O que fazer quando percebemos que nossos olhos não têm sido bons, que vivemos em trevas, e só temos tropeçado? Jesus diz: "Se o teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti" (Mt 4.8-9). Obviamente não se trata de literalmente arrancar seu olho, mas sim arrancar de dentro de si toda predisposição de julgar, de combater, de criticar, todo "a priori" negativo....

Os olhos maus não suportam a alegria, a leveza, é incapaz de sorrir verdadeiramente. O seu ar é sempre grave. Há crentes de olhos tão duros que a nossa primeira reação diante deles é de fuga, e não de aproximação. Há crentes de olhar inquisidor, como se estivessem sempre espreitando a vida alheia, prontos para lançar-lhes uma fatura de cobrança.

De que forma Cristo olhou para Zaqueu sobre a árvore, para o endemoninhado geraseno e para a mulher pecadora que lhe ungiu os pés? Foi um olhar suave, de misericórdia, de amor, de abertura, olhar que vê aquilo que só os de coração puro podem ver, que enxerga através da aparência, do "status quo", da má fama. É assim que Cristo nos olha. Seu olhar tranqüiliza e abre a porta para a restauração. Não é o olhar condenatório como o dos discípulos que pediram fogo do céu para consumir a cidade que não os receberam bem.

Esse olhar de Cristo não significa desconhecimento de nossos erros, mazelas e pecados. Pelo contrário, é o olhar suave e bondoso "apesar de". Jesus está enxergando o potencial, o vir-a-ser que essas pessoas carregam dentro de si. Jesus aposta em nós.

Certa vez o profeta Eliseu orou para que o Senhor abrisse os olhos do seu discípulo e visse que o lugar onde estavam era cercado por cavalos e carros de fogo (2Rs6.17). Possivelmente o olhar daquele moço não carecia apenas de fé, mas também de olhos bons, pois a glória de Deus só pode ser vista e sentida através da totalidade de um ser centrado na mansidão do olhar. Olhos maus são incapazes de ver as maravilhas de Deus. Nos dias de hoje vejo as pessoas orando para que Deus lhes abra os olhos da fé, mas creio que é imprescindível orarmos para que o Senhor também cure o nosso olhar.

sexta-feira, junho 23, 2006

The Buried Life

“Muitas vezes, nas ruas agitadas deste mundo,

Muitas vezes, em meio à confusão da luta

Surge um desejo inexprimível

De conhecer nossas vida encoberta:

Ânsia de consumir nosso fogo e força impetuosa

Para encontrar a pista do curso original;

Um desejo de investigar

Os mistérios deste coração que bate

Tão louco, tão profundo dentro de nós ---para conhecer

De onde nossa vida vem e para onde vai”

Matthew Arnold, The Buried Life (A Vida Encoberta)

quinta-feira, junho 22, 2006

A vida numa balança!

A vida numa balança!

Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

A pergunta de Jesus coloca nossa vida na balança analítica! O que realmente tem valor? Jesus diz que a vida de uma pessoa vale mais que tudo aquilo que valoramos neste mundo! Isto posto, uma pessoa pode fazer um investimento com o qual consiga angariar os recursos do mundo todo, mas, se vier a perder-se eternamente, terá feito um péssimo investimento.

Infelizmente o ser humano é péssimo no que tange à matemática da vida, haja vista que investi-se muito nos valores que se perdem e valoriza-se pouco, ou nada, os valores eternos. Gasta-se mais tempo tentando amealhar as riquezas que têm menos valor. Isto reflete o estrabismo da visão humana, causada pelo pecado.

O miolo da alma tem que ser Deus mesmo. Nenhum conteúdo religioso pode indenizar os prejuízos causados pela falta de comunhão com o próprio Deus. Se Deus não for o centro de nossa experiência e a excelência de nossos relacionamentos, então, estamos envolvidos com trivialidades que jamais satisfarão as carências profundas de nossa alma. Sem Deus, vivemos no auto-engano e nos tornamos especialistas na criação de subterfúgios!

A falta de intimidade pessoal com Deus é a causa da insatisfação dominante do coração humano. É por isso que, muitas vezes ficamos mais sedentos com a secura de nossa religiosidade. Entramos e saímos dos encontros religiosos sem gozarmos da intimidade da presença de Deus. O filósofo Martin Buber afirmava que “Nada tende a mascarar tanto a face de Deus como a religião; ela pode tornar-se uma substituta para o próprio Deus”. Um cadáver lembra uma pessoa. Ali está o corpo em que viveu alguém, mas o finado não tem expressão. Não há diálogo com morto. Religião sem intimidade pessoal com Deus é funeral. E defunto não cresce, não evolui nem causa progresso. Muita gente se ilude com suas práticas religiosas supondo que este ritualismo mitiga as carências de sua alma. O salmista se perturba com o cerimonial religioso do seu tempo, com o derramar de sua alma, com o festejo da multidão em gritos de louvor na procissão alegre em busca da Casa de Deus. Havia todo um aparato estonteante de motivações religiosas, mas a sua alma encontrava-se abatida, e ele gritava: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?” E sua resposta evidencia o grande problema: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”. (Salmo 42.5). Havia muita religiosidade em sua experiência, mas Deus estava ausente do seu louvor. A chupeta acalenta o choramingo da criança, mas não abranda a fome. Nada neste mundo é capaz de satisfazer plenamente a necessidade pessoal de Deus. Muitos expedientes podem atenuar a crise, mas não satisfazem o vazio da alma.

Que adianta ao homem gastar todo o seu tempo e empregar todos os seus esforços no envolvimento com o trabalho, estudo, religião e lazer, não levando em conta a seriedade da salvação eterna de sua alma? Esta é uma questão de prioridade. Ninguém pode desconsiderar este assunto e viver com total significado. Jesus mostrou que, a realização do ser humano passa em primeiro lugar pela preferência do reino de Deus. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus 6.33).

A salvação eterna e a comunhão íntima com Deus são assuntos que fazem parte da primazia de uma agenda inteligente. Uma pessoa inteligente é aquela que sabe fazer o julgamento correto dos fatos. Não podemos reputar como inteligente alguém que é desatento para os assuntos ligados com a salvação eterna da sua alma. A sabedoria abre os olhos tanto para as glórias do céu quanto para o vazio da terra. Por isso, vale a pena ponderar os enfoques e as ênfases de nossa existência, para não cairmos na armadilha de nos envolvermos apenas com as coisas de menor valor. Afinal, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

Ézio Martins de Lima, rev.