quarta-feira, novembro 12, 2008

O Oásis


         Quando você cai num deserto, sem suprimento e sem possibilidade de socorro, os pensamentos todos giram em torno de um único tema: a sobrevivência. Você não fica questionando os porquês de se estar no deserto, como chegou ou te levaram para lá... Tais questões são de somenos importância.  Sobreviver é a única vontade. Perder tal vontade é deitar nos braços da desesperança e dormir o sono da morte. Desistir da sobrevivência é desistir de si mesmo, é negar a si mesmo, é matar a si mesmo.

No deserto ou se escolhe a vida ou se entrega à morte. Ou se luta pela sobrevivência ou se opta pela desistência... Às vezes a desistência é sedutora. Especialmente quando se entende que a saída do deserto não reserva um oásis. Sem esperança a desistência é mais certa, porque não existe motivo para perseverar...

No deserto da solidão o oásis é o amor que vem ao encontro. No deserto do medo o oásis é o abraço que te encoraja. No deserto da desesperança o oásis é o beijo que te faz acreditar que o deserto é transitório, passageiro...  No deserto da fraqueza o oásis é o colo no qual se pode debruçar e ser fortalecido...

Mas quando o oásis é uma ilusão? Sim! O oásis pode ser uma mentira, um engano, uma mera fantasia... Um oásis que é uma mentira é pior do que o deserto, porque uma fraude é sempre pior que a realidade.  Descobrir a mentira do oásis pode ser a libertação para uma nova jornada... Pode ser a abertura para a conscientização de que o deserto pode não ser assim tão ruim como se imaginava. Há mais possibilidades num deserto real do que na mentira do oásis.

Caído no deserto ele pegou o cantil. Ainda havia água. Pouca água, é verdade.  Mas era suficiente para uma jornada... Quem sabe o oásis que estava à sua frente não fosse uma mentira. Quem sabe ainda havia uma esperança! Então sentado na areia do deserto, o peregrino esboçou um sorriso e colocou-se em pé... “Há uma longa jornada pela frente”, ele falou para si.  Ele não mais se via como alguém que caira no deserto ou que fora levado para lá! Não! Ele era um andarilho, um desbravador... Um desbravador de sonhos!  

(continua)

Ézio Lima 

Por Teu coração que me ama...

Por Teu coração que me ama,

Por Teus pés que me seguem,

Por Tua voz que me chama,

Agradeço-Te, ó Deus.

Obrigado por levantares as questões

Que me forçam a dialogar contigo

Sobre minha vida e como a vivo.

Obrigado por cada impulso da consciência

Que me leva a passos tímidos

Que me força a me abrir

Em meu relacionamento contigo.

Minha esperança, ó Deus, minha única esperança,

É que és mais persistente ao me buscares

Do que sou ao me esconder

segunda-feira, novembro 10, 2008

Tão GRANDE Salvação



Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? (Hebreus 2.2.

Ansiamos por vida verdadeira, que se expresse em 
felicidade e paz real! E se por um pouco de tempo nos iludimos, não demora que fiquemos enfadados com falsas propagandas. O tédio da vida não é fruto desta insatisfação? Este desejo de uma vida abundante (e esta insatisfação com o que não nos sacia) é porque cremos que esta vida existe, assim como a sede pressupõe a existência da água. 
A fé cristã é realista! A Palavra de Deus não nos engana jogando para debaixo do tapete o
diagnóstico do que somos. É trágico ser enganado ou viver no auto-engano. Que esperança pode haver para quem é enganado (ou se engana) de tal maneira que nem mesmo percebe sua real condi
ção miserável? Esperança nasce com a insatisfação com aquilo que se é e se vive, tendo em vista o que se pode ser e viver.
Nosso problema, dizem as Escrituras, é a tragédia do pecado. Pecado não é apenas 
transgressão de uma lei moral, é uma vida fora do eixo, do plano, paralela, fora do propósito. Esta é a causa da insatisfação: é viver não vivendo segundo o propósito para o qual Deus nos criou para viver. Com isso, a morte assume o controle da existência; a culpa desmancha qualquer relacionamento significativo e a alienação nos faz pessoas estranhas e inimigas de Deus. Com um diagnóstico assim não pode haver dúvida: precisamos ser salvos!
Do ponto de vista de Deus, a salvação inclui a obra completa realizada por Cristo crucificado, mas também ressurreto, a fim de trazer as pessoas da morte para vida, da condenação para a justificação e da condição de estranhos para a de filhos de Deus. (I João 3.1).
A salvação é a maior e mais concreta demonstração de amor. Isto se prova pelo fato que Deus nos amou plenamente, estando nós atolados no pecado. Ele nos amou não porque somos bons ou porque esperasse alguma retribuição da nossa parte. Um Deus perfeito não precisa de complemento nem tampouco espera qualquer retribuição. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). Na nossa salvação o único mérito é da graça de Deus, que avulta a realidade de que somente aqueles que são desclassificados pelo pecado podem ser aprovados pela Sua graça. 
Uma vez salvos pela graça de Deus, somos salvos para as boas obras que a graça patrocina. Ninguém é salvo pelas obras que pratica, mas todos os salvos pela graça praticam as boas obras, como conseqüência da graça de Deus em suas vidas. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. (Efésios 2.10).
A salvação com a qual Deus nos agracia torna-nos totalmente dependentes de Cristo. Tudo o que o cristão é, e tudo o que ele faz, depende da pessoa de Cristo. Por isso, a vida cristã se resume à inteira vinculação a Cristo. “Assim como Cristo é a raiz pela qual o santo cresce, ele é a regra pela qual o santo anda”. 
No Amor dAquele que nos amou primeiro,

Rev. Ézio Martins de Lima

domingo, novembro 09, 2008

Ferramentas para pregação


Entrevista com o bispo anglicano N.T. Wright sobre sermões e pregação.

Há alguns meses o autor e pastor Winn Collier contatou a www.preachingtoday.com informando-a de que tinha uma entrevista agendada com o autor, intelectual e pastor N. T. Wright e perguntou se tínhamos interesse em publicá-la. “Sim!”, eu respondi. “E não se esqueça de perguntar a ele sobre os sermões.” Foi o que Collier fez. Por meio dessa entrevista Wright nos forneceu uma breve, porém interessante perspectiva sobre seu processo de preparação de sermões.

Winn Collier: Como a sua visão teológica influencia a sua maneira de pregar?

N. T. Wright: Não sou o tipo de pregador altamente reflexivo a respeito daquilo que geralmente escrevo para os meus sermões. Não penso no que estou fazendo de uma forma estruturada – simplesmente acontece. Tenho feito dessa maneira há muito tempo: faço minhas orações, estudo as passagens sobre as quais vou pregar e, então, é como se as idéias fossem brotando de dentro para fora, e, conforme estou orando, compreendo ou pelo menos tento discernir sobre o que supostamente irei falar. Existem diferentes tipos de sermões, e quando chega a hora simplesmente acontece. Mas realmente acredito que desde que comecei a refletir a respeito da ressurreição e da justiça, vejo que as minhas pregações através dos últimos anos têm sido direcionadas especificamente para temas sociais como a perseguição de cristãos em certos países, a infelicidade das pessoas e o aquecimento global. Todos estes temas fazem parte da criação perfeita de Deus que está em sofrimento, e é a eles que a mensagem de ressurreição precisa chegar. Por isso, às vezes me pego saindo direto de João 20 para algum assunto do momento. Isso não tem muito a ver com o tipo de pregação, é apenas o conteúdo.

Você tem um estilo particular de pregação? Realmente não sei. Provavelmente sim; creio que meus amigos podem esclarecer isso melhor. Talvez eu tente dizer muita coisa para um sermão comum. Tento ser expositivo, mas não do tipo que diz que “o verso um diz isso” ou o “verso dois diz aquilo” – mas mergulho fundo na passagem e volto por um ângulo oblíquo de maneira que possa levar as pessoas a pensar certas coisas e a imaginar algumas cenas. Assim, quando elas percebem já estão no meio da passagem, e conseguem entender sobre o que estou falando. Isso é o que espero de um método: que ele sirva para levar pessoas até o ponto em que possam despertar e se surpreenderem por estar bem no meio de João 20 ou de outro trecho qualquer da Bíblia. é dessa maneira que encaro um sermão, e isso é sempre muito estimulante.

Você diz que “para viver no mundo que Deus criou é necessário usar a imaginação”. Certamente a ressurreição e o avivamento de todas as coisas ampliam a imaginação humana. Como você incentiva a imaginação em suas pregações?

Bom, talvez eu não incentive tanto quanto deveria. Porém, tento fazê-lo através de ilustrações e alusões à arte e à música, a fim de ampliar os horizontes das pessoas para que consigam enxergar outros mundos maiores que não sejam nem, a) o mundo secular em que vivem todos os dias sem se aperceberem, e nem b) o mundo das puras idéias da teologia cristã. Em outras palavras, tento encorajá-las a imaginar trechos de músicas ou de qualquer outra coisa que descortine a visão de novos mundos que estão bem à sua frente. Também costumo usar histórias ilustrativas. Faço isso em minhas pequenas séries sobre o Novo Testamento, em que cada passagem começa com uma historinha. é extraordinário como isso ajuda as pessoas a entenderem melhor. Geralmente são histórias simples, coisas do dia-a-dia; mas as pessoas dizem que “elas realmente me ajudaram a ‘entrar’ na passagem e viver em um mundo imaginário”. Um grande artista, naturalmente, faz esse tipo de coisa. C.S. Lewis faz isso em O grande abismo, onde ele pinta um quadro de um mundo mais real, mais físico e mais sólido do que aquele em que vivemos. O mais interessante é que ele torna esse mundo crível. Este é um feito extraordinário, pois não são muitas as pessoas que tentaram fazer isto, e ainda menor é o número daquelas que conseguiram. Uma mensagem deve trazer para a congregação a mesma sensação que você tem depois de ouvir uma sinfonia ou caminhar por uma galeria de arte.

 Você desafia a igreja a pensar profunda e ricamente sobre arte, dizendo que “Talvez a arte possa (...) vislumbrar futuras possibilidades geradas no tempo presente”. Você acredita que – assim como escrever, pintar ou tocar um instrumento – pregar possa ser uma forma de arte?

Pregar é uma forma de arte desde que permitam que seja. Muitos pregadores, tanto de igrejas conservadoras quanto de igrejas modernas, ficam presos a uma forma particular de pregar que talvez não seja arte, sendo simplesmente mais da mesma coisa.

Em sua melhor forma, uma mensagem deve trazer para a congregação a mesma sensação que se tem depois de ouvir uma sinfonia ou de caminhar por uma galeria de arte. Ouvi um sermão maravilhoso de meu colega, o Deão de Durham, na Manhã de Oração do Domingo de Páscoa. Ele trouxe um poema e falou de sua recente viagem ao Egito; e fez com estes dois elementos um mosaico, a partir do qual chegou até a história da Páscoa. Foi extraordinário. Estávamos vendo a história sob um novo ponto de vista. Ainda tenho o sermão em minha mente. Um sermão que faz isso pelas pessoas é uma verdadeira dádiva; como uma peça de música ou um poema.

 Em outra oportunidade, você mencionou que “é preciso que falemos sobre Deus. O que significa dizer que temos que fitar o sol”. Então alguém poderia pensar que para pregar, obrigatoriamente, temos que falar sobre Deus. Como fazer com que nossas mensagens conduzam as pessoas na ousada e ofuscante prática de encarar o sol?

Felizmente, quando digo que encaramos o sol é porque estamos falando sobre Jesus. Nós, pregadores, nunca falaremos o suficiente a respeito de Cristo. Precisamos lembrar a nós mesmos de que quando falamos sobre Jesus também estamos falando sobre Deus. O Novo Testamento diz que por nossa própria conta não podemos saber exatamente quem é Deus. Podemos ter varias idéias a respeito dele, mas ele é revelado através de Jesus. Precisamos educar as pessoas para pensarem novamente no significado da palavra Deus, compreendendo-a a partir de Jesus. Isso é muito difícil por que geralmente as pessoas têm em suas mentes e em seus corações conceitos sobre Deus vindos de várias fontes. Mas essas noções de Deus dificilmente estão relacionadas a Jesus. O perigo reside em que as pessoas tentem relacionar Jesus àquelas imagens de Deus que já possuem, em vez de relacioná-lo da maneira correta. é por isso que sempre precisamos nos voltar em direção a Jesus, e lembrar-nos que ele é o único por quem o mundo foi feito e para quem o mundo foi feito. O grande autor de tudo isso é aquele a quem Jesus orou dizendo “Abba”. Por esta razão, em Jesus podemos começar a conhecer Deus como nosso Abba Pai e experimentar sua presença paternal junto a nós, e com isso nos aproximarmos do mistério, que é orar.

N. T. Wright é bispo anglicano de Durham, Inglaterra e autor de mais de trinta livros, entre eles estão o Simplesmente cristão, lançado pela Ultimato e a famosa série de comentários do NT, For Everyone.

Winn Collier é pastor na Downtown Community Fellowship em Clemson, Carolina do Sul, Estados Unidos, e autor de Let God