sexta-feira, setembro 05, 2008

C.S. Lewis e a igreja

C. S. Lewis freqüentou a mesma igrejinha durante trinta anos. A experiência não tinha nada de extraordinário a cada semana. A maior parte daqueles anos Lewis não se importava muito com os sermões; ele até mesmo sentava-se atrás de um pilar para que o ministro não visse suas expressões faciais.

Ele ia ao culto sem música porque não gostava dos hinos. E saía logo após a comunhão da Ceia provavelmente porque não gostava de se envolver nas conversas com os outros membros depois do culto.

Mas a longa obediência numa mesma direção moldou a vida de Lewis de um modo que nada mais poderia.

Uma vez perguntaram para Lewis: “É necessário freqüentar um culto ou ser membro de uma comunidade cristã para um modo cristão de vida?”

Sua resposta foi a seguinte: “Esta é uma pergunta que eu não posso responder. Minha própria experiência é que logo que eu me tornei um cristão, cerca de quatorze anos atrás, eu pensava que poderia me virar sozinho, me retirando a meu quarto e lendo teologia, e não freqüentava igrejas ou estudos bíblicos; e então mais tarde eu descobri que era o único modo de você agitar sua bandeira; e, naturalmente, eu descobri que isso significava ser um alvo. É extraordinário o quão inconveniente para sua família é você ter que acordar cedo para ir à igreja. Não importa tanto se você tem que acordar cedo para qualquer outra coisa, mas se você acorda cedo para ir à igreja é algo egoísta de sua parte e você irrita todos na casa. Se há qualquer coisa no ensinamento do Novo Testamento que é na natureza de mandamento, é que você é obrigado a participar do Sacramento e você não pode fazer isso sem ir à igreja. Eu não gostava muito dos seus hinos, os quais eu considerava poemas de quinta categoria com música de sexta categoria. Mas à medida em que eu ia eu vi o grande mérito disso. Eu me vi diante de pessoas diferentes de aparência e educação diferentes, e meu conceito gradualmente começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (os quais eram apenas música de sexta categoria) eram, no entanto, cantados com tamanha devoção e entrega por um velho santo calçando botas de borracha no banco ao lado, e então você percebe que você não está apto sequer para limpar aquelas botas. Isso o liberta de seu conceito solitário.” (C. S. Lewis, God in the Dock, pp 61-62)

terça-feira, setembro 02, 2008

Mensagem aos Pastores/Pastoras e Missionários e Missionárias da IPI do Brasil



Caríssimos irmãos e irmãs no labor pastoral, graça e paz!

Qual deveria ser a nossa reação ao celebrar o “Dia do Pastor e da Pastora”? Com folguedos ou com lágrimas? Com desânimo ou esperança?

Ora, nosso momento histórico, idólatra da tecnologia e imerso na ilusão da auto-suficiência, tenta permanentemente mostrar que o ministério pastoral, centrado em Deus e voltado ao ser humano como cura d’almas, é uma ação fora do tempo, fora de moda, fora de propósito... Assim, o pastor é tentado a se converter em alguma coisa, em um ídolo, em um usurpador, um empresário, um guru de falsas promessas, e, por isso, a vocação corre imenso perigo.

Nosso maior desafio neste tempo é não perder de vista a real vocação que nos foi outorgada por Deus. Isso não é fácil, é verdade! Contudo, somente a permanência dentro do propósito de Deus para o ministério do pastoreio, garante-nos que ele, apesar dos desafios, é necessário. A sedução do diabo é no sentido de nos conduzir para transformar as pedras em pães (a sedução do caminho mais fácil), que o espetáculo seja usado em lugar do serviço (o caminho do poder sem amor), e assim que a cruz não seja necessária. O caminho mais fácil, contudo, é usurpador da realidade central, inquestionável e inegociável, e por isso mesmo se torna uma fantasia; e a fantasia não salva o ser humano imerso na realidade dura do pecado e de suas trágicas seqüelas.

Portanto, o ministério pastoral, centrado em Deus e voltado ao ser humano como cura d’almas, é uma necessidade premente para uma sociedade enferma. Em Cristo, e para Sua Glória, o exercemos, como co-artífices do projeto de Deus para a redenção do ser humano.

A Secretaria Pastoral, assim, através desta pequena mensagem, deseja que o vosso coração seja reanimado com o fervor capaz de derreter toda e qualquer geleira paralisante, que mentirosamente procura desqualificar o ministério pastoral, que é honrado por Deus, e por Ele instrumentalizado para o alcance do Seu perfeito propósito!

No amor dAquele que nos amou primeiro,

Ézio Martins de Lima

Secretário Pastoral da IPI do Brasil

segunda-feira, setembro 01, 2008

Basquete e vôlei: os protestantes e as Olimpíadas


Robinson Cavalcanti


Creio que todos nós brasileiros, lamentando a falta de políticas públicas para a área dos esportes, vibramos com a medalha de ouro conseguida pela nossa seleção feminina de vôlei, a de prata pela seleção masculina, e com as boas apresentações das equipes de basquete. Como a história é escrita pelos vencedores ou pelas maiorias (e não premia aqueles que não cultivam a própria memória), ninguém teve o interesse de se perguntar quem (e como) trouxe essas modalidades esportivas para o Brasil.

A verdade histórica é que o basquete e o vôlei foram introduzidos no Brasil pelos colégios protestantes no final do século 19 e início do século 20. O Colégio 15 de Novembro, em Garanhuns, PE, onde estudei, o mais antigo educandário evangélico do Nordeste, construiu a primeira quadra poliesportiva coberta naquela região e sediou um campeonato nacional juvenil nos idos de 1959.

Os colégios protestantes (presbiterianos, metodistas, batistas, anglicanos e outros) foram pioneiros em muitos aspectos na educação nacional:

a) primeiras escolas mistas (para homens e mulheres);

b) primeiras escolas técnicas profissionalizantes: agrícolas, industriais e comerciais;

c) introdução da disciplina educação física;

d) introdução do basquete e do vôlei.

Ao contrário da cultura ibero-católica aristocrática, valorizavam-se as mãos, o corpo e o trabalho.

Essas escolas, que abrigaram, inicialmente, os filhos discriminados da minoria protestante, se abriram para a emergente classe média (de Gilberto Freyre a Ariano Suassuna) e concedeu bolsa a milhares de carentes. O ex-presidente da República Itamar Franco (um órfão), conseguiu terminar os seus estudos secundários graças a uma bolsa concedida pelo Colégio Metodista de Juiz de Fora, MG, por ser um excelente jogador de basquete.

As escolas protestantes estavam imbuídas da ideologia do progresso (religião superior + democracia + progresso), o que levou o ex-presidente da República Café Filho a afirmar, em sua autobiografia: “Aprendi a amar a Democracia na escola missionária de Natal (RN)”. O Movimento da Escola Nova buscou nesses colégios muito do que seria introduzido na educação pública no Brasil.

O protestantismo de imigração já estava no Brasil desde a Regência: os ingleses, urbanos, com o comércio e a indústria, e os alemães, rurais, com a agricultura; o protestantismo de missão, desde 1855, com a chegada do pioneiro pastor e médico escocês Robert Reid Kalley. Essa fase (1810-1910) foi marcada por uma visão missionária de participação e influência na cultura e nas instituições brasileiras, o que levou a minoria protestante a se envolver nas causas da Abolição, da República e do Estado Laico. Em geral eles eram pós-milenistas (otimistas) ou a-milenistas (realistas) em escatologia.

Essa visão permaneceu nas propostas sociais, das pequenas bancadas evangélicas às Constituintes de 1934 e 1946, ao fomento de uma geração de intelectuais nacionalistas e socialmente reformistas, ao trabalho aglutinador, conscientizador e profético da Confederação Evangélica Brasileira (1934-1964), ao engajamento no incipiente sindicalismo rural do pré-64.

Com a importação das controvérsias teológicas norte-americanas (evangelho social versus evangelho individual; liberalismo versus fundamentalismo), da escatologia pré-milenista/pré-tribulacionista; com a vinda de um pentecostalismo “branco” (isolacionista), que, ainda por cima, absorve aspectos legalistas, anti-corpo e anti-prazer do catolicismo de romaria no interior do Nordeste (hoje, com uma nova geração lúcida querendo mudar); com a Guerra Fria, com a ditadura militar, os protestantes brasileiros entraram em uma amnésia coletiva que afetou a sua identidade.

O divisionismo denominacional, a importação de toda novidade do estrangeiro e o fenômeno do pseudo-pentecostalismo (que nem é evangélico, nem é protestante) agravaram essa crise de identidade. As atuais gerações não conhecem seu passado (personagens, fatos, idéias), nem suas bases teológicas; não sabem quem são, nem para que servem (uma multidão isolada, alienada e sem visão de participação). Seu crescimento numérico não tem alterado as mazelas nacionais, pois permanecem reduzidas às emoções, ao subjetivismo, ao individualismo, aos cultos-espetáculos estrangeirizados.

O nosso passado é onde podemos buscar o nosso futuro. O quadro atual pode e deve mudar.

O basquete e o vôlei são, em muito, nossos. Os protestantes, mais do que todos, deveriam ter razão para comemorar!