sexta-feira, julho 09, 2010

O quanto é preciso ser bom?


"Fico sempre desconfiado de livros e artigos que nos dizem 'Mudem um só coisa em sua vida e a felicidade será sua', seja nos hábitos alimentares, seja no trabalho, ou na maneira de nos relacionarmos com nossos maridos ou mulheres. A vida é muito complicada para que a mudança de uma variável faça tanta diferença. Mas, quanto mais eu, como religioso lido com os problemas das pessoas, e quanto mais eu, como marido, filho, pai, irmão e amigo, aprendo a olhar para a minha própria vida honestamente, mais convencido fico de que uma explicação para muito desses sofrimentos poderia estar nessa noção errônea: temos que ser perfeitos para sermos amados pelas pessoas e perdemos esse amor se, alguma vez ficarmos aquém da perfeição. Há poucas emoções mais capazes de nos deixar mal em relação a nós mesmos do que a convicção de que não merecemos ser amados. E poucas coisas são mais decisivas para gerar essa convicção do que a idéia de que toda vez que fazemos algo de errado damos a Deus, e às pessoas mais achegadas a nós, razões para não nos amarem".


(Harold Kushner em O quanto é preciso ser bom?).

quarta-feira, julho 07, 2010

"pareço um pássaro solitário no telhado"

“Não consigo dormir; pareço um pássaro solitário no telhado”. (Salmo 102.7)
 
“Existem diversas manifestações da solidão. A solidão do soldado no fronte da guerra, a do preso em sua cela, do imigrante ou a do camponês numa grande cidade, a dos que são infelizes no casamento, a dos que sentem infelizes por não terem encontrado um/a companheiro/a, a dos desempregados e desocupados, a dos pobres que não podem adquirir o que desejam, e dos que ricos que sofrem a pobreza do desejo, isto é, que não podem desejar coisas inalcançáveis. Também existe a solidão dos viúvos, dos enfermos que sabem que em breve irão enfrentar a morte, a solidão social, a das crises de gerações, a dos adolescentes que se sentem incompreendidos, a do órfão, etc. Há uma multidão de expressões da solidão que se caracterizam por seu aspecto negativo, isto é, conduzem à tristeza, ao desalento e, às vezes, ao desespero e depressão”. (Rev. Dr. Jorge León)
A solidão é uma visita indesejável. Quando, então, a solidão deixa de ser visita e se torna uma companhia constante, o coração parece chorar o sofrimento mais difícil de suportar: aquele que se sofre sozinho.
Quando decidimos ficar sozinhos – para meditar e orar, por exemplo, a solidão muda de nome. Ela deixa de ser visita que incomoda, porque é minha decisão visitar a solidão. Quando voluntariamente decido visitar a solidão, ela se transforma em solitude. Solitude é estar só, mas não solitário. É estar só, mas com plena capacidade de estar em comunhão consigo mesmo e com Deus.
Quem não consegue estar em solitude possivelmente sofrerá o terrível mal da solidão. E a pior tragédia que acomete aos solitários é o sentimento de angústia, resultante da sensação de nulidade. A dor que lateja no coração solitário é a dor de estar desacompanhado de si mesmo. É não-estar-em-si. É sentir-se perdido dentro de si mesmo. É tentar encontrar-se, mas só conseguir encontrar a ausência, o vazio...
Solidão existencial é a crise do ser humano diante de si mesmo. É a nossa incapacidade de lidar com aquilo que nos é peculiar. Caímos enfermos quando somos acometidos de solidão justamente porque a solidão é a presença da ausência, e sentir-se ausente de si mesmo leva o ser humano a crises cujas conseqüências são desastrosas.
A solidão, contudo, tem um aspecto positivo. Mostra-nos o desajuste no qual nos encontramos por não ter a presença daquilo ao que damos o nome de essencial. Resolver o problema da solidão, portanto, sugere ou que tenhamos aquilo que desejamos, ou que mudemos os nomes que previamente já programamos dentro de nós como essencial para nós. O segundo passo, claro, é bem mais complexo, contudo pode ser o melhor caminho se o primeiro for inviável, haja vista que geralmente os solitários crônicos não sabem o real motivo da sua solidão. Dizem: “sinto-me sozinho, mas não sei o porquê”. Ora, se não se sabe “o porquê”, talvez seja por ele não existir mesmo. Alguns teóricos denominam isso de “solidão essencial”.
A cura para solidão essencial é dar sentido à existência. Damos sentido à existência quando reconhecemos que precisamos buscar a presença que nunca se faz ausente.
Não podemos dizer isso em relação às coisas e nem às pessoas, já que coisas podem ser perdidas, roubadas, quebradas, destruídas... e as pessoas podem nos abandonar, rejeitar, trair, morrer... A Presença, portanto, que nunca se faz ausência é aquela que só podemos encontrar em Deus, na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, que disse aos seus discípulos: “eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28.20). O verbo usado por Jesus merece atenção! Ele não diz, “estarei” ou “estive”, mas “ESTOU”. À medida que nos entregamos totalmente ao senhorio de Jesus, Ele se faz presente conosco. Não nos deixa. Não nos abandona. Não nos frustra. Não nos decepciona. Sempre presente. Revelando seu amor, paz, alegria, vida em abundância, graça e misericórdia. Ele não nos deixa nem nos momentos que nos sentimos solitários e nos esquecemos da sua promessa. Por isso Davi orou confiadamente: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, PORQUE TU ESTÁS COMIGO...”. (Salmo 23.4)
“Todo cristão deve viver amando a Deus, a si mesmo e ao seu próximo, segundo o Evangelho. Mateus 22.37-40. Isto quer dizer que devemos vive em comunhão e afetividade. Logo, a solidão seria a consequência de nossa incapacidade de amar. (…) A pessoa que desenvolveu adequadamente a sua vida interior, que se comunica com Deus, com seu próximo, jamais se encontrará sozinha. A solidão pode ser uma fonte criativa de comunhão e criatividade. Recordemo-nos dos momentos criativos em solidão do nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o testemunho do Evangelho. Não esqueçamos que Jesus Cristo é nosso modelo de humanidade (...)
Jesus Cristo busca a ovelha que se encontra sozinha (Lucas 15:4). Jesus não deixa só os seus discípulos. Não existe, portanto, orfandade para o cristão, porque o Espírito Santo nos acompanha sempre (João 14.18)”. (Rev. Dr. Jorge León)


Rev. Ézio Martins de Lima

domingo, julho 04, 2010

é só isso?


A gente perde tanto tempo com nossas futilidades
A gente se contenta com a aparência das coisas
Com resquícios de desejos, amores
e vai levando a vida como se a vida fosse só isso...

Ézio Lima