sábado, março 21, 2009

O PRIMEIRO CULTO PROTESTANTE NO BRASIL - 21/03/1557


(A Batalha do Guanabara - Franceses x Portugueses em 15 de Março de 1560)

Os presbiterianos realizaram o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocorreu há 452 anos em uma pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara.

1. A França Antártica

Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a interessar-se pela ocupação e a colonização dos novos domínios. Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações européias, especialmente a França. Após a experiência mal-sucedida das capitanias hereditárias e as constantes incursões estrangeiras, Portugal tomou providências e enviou, em 1549 o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que se instalou em Salvador/BA. O controle da imensa costa era muito limitado. Foi nesse contexto que o militar e aventureiro Nicolas Durand de Villegaignon teve a idéia de fundar uma colônia numa região bem conhecida dos franceses: a baía de Guanabara.

Villegaignon aproximou-se do vice-almirante Gaspard de Coligny, um dos principais conselheiros do reino, que nutria fortes simpatias pela Reforma. Com isso, conseguiu o apoio do rei Henrique II (1547-1559), que lhe forneceu dois navios aparelhados e recursos para a viagem. A expedição chegou à Guanabara no dia 10 de novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tupinambás, acostumados à presença de franceses na região. O grupo instalou-se na pequena ilha de Serigipe, mais tarde denominada Villegaignon, onde foi construído o Forte Coligny.

2. A vinda dos reformados

Diante de várias dificuldades surgidas, Villegaignon escreveu à Igreja Reformada de Genebra solicitando o envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação do nível moral e espiritual da colônia. João Calvino e os membros do Conselho de Genebra escolheram para acompanhar os colonos os pastores Pierre Richier (50 anos) e Guillaume Chartier (30 anos). Os seus objetivos específicos eram implantar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas.

Os huguenotes (como eram chamados os Protestantes franceses) eram ao todo 14 pessoas. O grupo deixou Genebra em 16 de setembro de 1556.

A frota de três navios levava cerca de 290 pessoas. No dia 7 de março de 1557, os viajantes finalmente entraram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos selvagens e Rio de Janeiro pelos portugueses.

3. O primeiro culto

O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo.

O ministro do evangelho, Rev. Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século 16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude Goudimel (†1572).

Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557.

4. Eventos posteriores

O desfecho da primeira presença protestante mais articulada foi trágica. Villegaignon muda a sua atitude em relação aos calvinistas. Polemiza em torno de questões teológicas e, diante do clima desfavorável, os protestantes decidem voltar à França. Uma parte do grupo reformada decide retornar à França. Cinco são presos e intimados por Villegaignon. Em defesa, redigiram o documento que ficou conhecido como “Confissão de Fé da Guanabara ou Confissão Fluminense.” (primeira confissão de fé evangélica brasileira, escrita no dia 8 de fevereiro de 1558). No dia seguinte, dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon foram estrangulados e lançados ao mar

Eles ficaram conhecidos como os três primeiros mártires evangélicos do Brasil. Um dos signatários, André Lafon, foi poupado por ser o único alfaiate da colônia e o quinto, Jacques le Balleur conseguiu fugir para São Vicente/SP, mas foi preso e depois enforcado.

O relator desta história foi o sapateiro Jean de Léry. Ele conseguiu voltar para a França, tornou-se pastor e escreveu o livro “História de uma Viagem à Terra do Brasil” (1578).

Rev. Ézio Lima

(baseado nos textos dos Revs. Aderi de Matos- Presbiteriano; e Rolf Schünemann – Luterano)

quinta-feira, março 19, 2009

Obstáculos à oração - Parte I


São muitos os obstáculos que encontramos quando decidimos aprofundarmo-nos na escola da oração. Depois de compreendermos a necessidade que temos de orar, logo descobrimos que não é nada fácil dedicar tempo à oração. Parece ser contraditório o fato de que uma necessidade premente encontre tantos obstáculos. Mas disso decorre do fato de que a oração, embora seja em certo sentido uma ação natural do ser humano transcendente, só pode ser desenvolvida de forma profunda a partir de uma compreensão e uma experiência com o seu caráter sobrenatural. Oração cristã, pois, é natural e sobrenatural, comum e incomum, um ato humano e uma ação milagrosa de Deus, luz e mistério, razão e emoção, obra e fé.
Um dos obstáculos que todo aquele que deseja trilhar o caminho da oração encontra tem a ver com o tempo. Boa parte do nosso insucesso na oração se deve em grande parte ao ativismo em que vivemos em nosso tempo. Estamos sempre ocupados demais. Com pressa demais. Atarefados demais. Acordamos preocupados com tantas coisas a serem feitas... que negligenciamos as palavras de Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” Passamos o dia todo correndo de um lado para o outro... e exaustos esquecemo-nos de que aos pés de Jesus e somente ali encontramos refrigério e alívio para as nossas aflições, bem como direção segura para a nossa vida.
Os cristãos, especialmente os reformados, dão muito valor ao ensino de João 9.4: “Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar”.
Confirma isso muitos dos hinos de nossos hinários. Lembro-me das estrofes do antigo hino, que tantas vezes cantei na igreja: “Vamos nós trabalhar, somos servos de Deus, com o Mestre seguir no caminho dos céus; com o seu bom conselho o vigor renovar, e fazer prontamente o que Cristo mandar”. Eis aqui expresso uma indelével marca do espírito protestante: “trabalhar, trabalhar e trabalhar”. Com isso, o trabalho, ação, a atividade, ocupou o lugar da contemplação. O fazer para Deus ocupou o lugar do momento com Deus. O racionalismo tornou-nos especialistas no conhecimento sobre a oração, mas inábeis na sua prática. Assim podemos nos tornar como conhecedores de mapas que nunca visitaram os lugares que nos mapas sabem encontrar tão facilmente...
Lembremo-nos da prática de Jesus: “De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava” (Marcos 1.35). Não! Não confunda a madrugada como o melhor horário, e nem o deserto como o melhor lugar. Estas compreensões só nos atrapalham. O deserto é seu lugar de encontro com Deus. Qualquer lugar, de preferência um que você não seja interrompido. O horário é aprender a usar a disciplina como amiga. É definir um tempo melhor para se dedicar à oração e perseverar em mantê-lo até que se transforme em um “hábito”. Vá tentando e testando lugares e horários, até que você descubra qual o seu “ deserto” e qual a “sua madrugada”. O que não pode faltar, em nenhuma destas tentativas, é uma disposição sincera de ser surpreendido pela graça e amor de Deus! Só um aviso: prepare-se para grandes coisas!
Rev. Ézio Martins de Lima