sexta-feira, setembro 07, 2007

As lições que a vida ensina


"Queiramos ou não, precisamos nos observar, e manter aquele diálogo interior que, no extremo, pode ser uma amarga ruminação, mas que, bem dosado, ajuda-nos a viver melhor com nossos semelhantes".

Moacyr Scliar

Advertências a mim próprio é o título de um livro do escritor norte-americano Norman Mailer. Um autor talentoso, e este título o mostra. Vivemos num mundo em que, queiramos ou não, precisamos dar, a nós mesmos, advertências, conselhos, diretrizes. Queiramos ou não, precisamos nos observar, e manter aquele diálogo interior que, no extremo, pode ser uma amarga ruminação, mas que, bem dosado, ajuda-nos a viver melhor com nossos semelhantes.
De todas as advertências que aprendi uma volta-me sempre à mente. É muito usada nos Estados Unidos, o que pode ou não ser uma recomendação: sim, é o país que inventou a CIA (e vejam este sombrio filme, O Bom Pastor, de Robert De Niro, para saber do que estou falando). Mas é também um país pragmático que costuma aprender com os próprios erros. Portanto, vale a pena pensar na frase, que é uma dupla negação: "Don't complain, don't explain".
Não te queixes, não te expliques. Na primeira parte a advertência até certo ponto surpreende. É possível viver sem se queixar? Como consultar um médico sem fazê-lo? No roteiro do exame do paciente, que recebíamos quando entrávamos no terceiro ano da faculdade de medicina, o primeiro item, logo depois da identificação da pessoa, era "queixa principal". Portanto, "queixa" era o que se esperava das pessoas.
Mas tudo depende do sentido que damos à palavra "queixa". Se é uma informação ("Doutor, estou com uma dor no peito"), tudo bem. Mas se se trata de uma acusação ("Estou chateado e o mundo não toma conhecimento") aí começamos a entrar no terreno do contraproducente. Na dúvida, portanto, não se queixe. Na dúvida, pense naquilo que você quer dizer como uma informação a seus semelhantes. Queixas existem demais no mundo. Precisamos mais conexões do que queixas.
Não te expliques. Esta segunda parte é ainda mais válida que a primeira, porque estamos sempre dando explicações: aos pais, aos filhos, aos cônjuges, aos chefes, aos clientes, aos amigos... Mas a vida tem de ser auto-explicativa. Aquilo que somos, aquilo que somos e aquilo que fazemos nos explica. "Parla!", disse Michelangelo golpeando o joelho da estátua de Moisés. Não precisava: a obra de arte fala por si. Nem todos somos artistas, mas podemos buscar na existência aquele grau de beleza, de justiça, de decência, de perfeição, que está ao nosso alcance. Ao fazê-lo, estamos nos explicando ao mundo. E chegaremos à realização máxima quando não precisarmos nos queixar, nem nos explicar, nem fazer advertências a nós mesmos.

quinta-feira, setembro 06, 2007

“Independência ou morte!”



O príncipe-regente Dom Pedro teria proclamado o grito "Independência ou Morte!" às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, no dia sete de setembro de 1822. Oficialmente este dia tornou-se o marco da independência do Brasil do Império Português.
A Palavra de Deus nos adverte que a morte é conseqüência do pecado. “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6.23). Tal como é incompreensível o ato de dormir abraçado com uma serpente venenosa é a tolice de se viver preso ao pecado, ainda que se possa julgá-lo como um animalzinho de estimação. Não se poder domesticar o pecado porque é da sua natureza causar a morte.
A nossa independência em relação ao pecado é possível! Pois, se “o salário do pecado é a morte, o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. A redundância no texto (“dom gratuito”) é para que não esqueçamos que nossa libertação do pecado só é possível por causa da graça de Deus. É um milagre! É sobrenatural!
Em Cristo, e somente em Cristo, temos a promessa da nossa independência em relação ao poder imperial e danoso do pecado! “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. (Gálatas 5.1). Mas diferentemente do grito do Ipiranga, esta independência se dá com a morte: “O próprio Cristo levou os nossos pecados no seu corpo sobre a cruz a fim de que morrêssemos para o pecado e vivêssemos uma vida correta”. (I Pedro 2.24)
Contudo, o texto de Gálatas mostra-nos que temos sérios problemas com esta liberdade! É que nos habituamos tanto com as algemas do pecado que não sabemos gozar a liberdade! Depois de libertos, podemos sentir uma atração doentia pelas algemas! E vai lá o pecador contumaz se submeter outra vez, e de novo, à escravidão. Aprecio como a Bíblia na Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduz este texto: “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente”.
Por que nos tornamos escravizados pelo pecado mesmo após a libertação que Cristo nos concede? O verso 13 deste mesmo capítulo de Gálatas responde: “(...) fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne...”. (Gálatas 5.13). Somos escravizados porque ‘permitimos que a natureza pecaminosa nos domine’, isto é, alimentamos nossas narinas com o cheiro do pecado, nossos olhos com aparência do mal, nossas mentes com a perversão e sofismas. O fruto dos lábios, os pensamentos, os sentimentos e ações são da mesma natureza daquilo com o qual alimentamos nossos olhos, nossas mentes, sentimentos e desejos.
Independência em relação ao pecado se prova na vida no cotidiano: em nossas opções quanto ao tempo livre, nas nossas decisões, na forma como empregamos nosso tempo, o nosso dinheiro, a nossa energia... O nosso poder para fugir das algemas do pecado está, pois, intimamente relacionado com o nível de compromisso que temos com a Palavra de Deus, com o tempo que temos de oração, na forma como adoramos a Deus, no nível de envolvimento com a igreja e como desenvolvemos nossa vida cristã.
“Assim também vocês devem se considerar mortos para o pecado; mas, por estarem unidos com Cristo Jesus, devem se considerar vivos para Deus. Portanto, não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana. E também não entreguem nenhuma parte do corpo de vocês ao pecado, para que ele a use a fim de fazer o que é mau. Pelo contrário, como pessoas que foram trazidas da morte para a vida, entreguem-se completamente a Deus, para que ele use vocês a fim de fazerem o que é direito. (Romanos 6.11-13).

Rev. Ézio Martins de Lima

segunda-feira, setembro 03, 2007

“Vivificados para a novidade de vida!”

“Vivificados para a novidade de vida!”
(Cl.3.5-11) 02/09/07

Introdução
Os quatro primeiros versículos de Colossenses 3 nos convidam a pensar nas coisas do alto, pois já morremos para o pecado e a nossa vida está oculta com Cristo em Deus. Essa vida plena será manifestada na volta em glória do Senhor Jesus (Colossenses 3.4).
Até a volta do Senhor Jesus, contudo, a nossa conduta na terra deve refletir a nova vida que é conseqüência da regeneração (o novo nascimento). Quando cremos em Cristo, recebemos a vida nova (Colossenses 3.9-10). Paulo, o apóstolo, deixa isto muito claro: "Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo" (2 Coríntios 5.17). Romanos 6.4: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”.
No entanto, a renovação não é apenas um ato que acontece quando nos convertemos, mas um processo que dura a vida inteira. Neste sentido, o ensino da Palavra de Deus não deixa dúvida: "1. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12.2).
Transição: como somos vivificados para a novidade de vida?
(Vs. 5 “fazei morrer a vossa natureza terrena”)

1 – FAZENDO MORRER DIARIAMENTE A NOSSA NATUREZA PECAMINOSA
Cremos que a vida cristã se dá através do novo nascimento (João 3.3). Quando cremos em Jesus, somos incluídos na sua morte para o pecado e na sua ressurreição para a vida (Romanos 6.5-11 - BLH). A conversão não é reforma religiosa; é um ato sobrenatural de Deus, que provoca uma mudança radical de vida. É morte para o pecado e vida para Deus. Neste sentido, ao nos convertermos, a nossa morte para o pecado e a nossa ressurreição para a vida eterna é definitiva (João 5.24). Em Colossenses 3.3 está escrito: "Porque morrestes, e a vossa vida está oculta com Cristo, em Deus". O verbo morrer está no passado e refere-se a algo que aconteceu de uma vez para sempre! Refere-se ao novo nascimento ou à regeneração.
Aqueles que nasceram para uma nova vida, contudo, precisam “fazer morrer a natureza pecaminosa” (Colossenses 3.5)
No novo nascimento, morremos definitivamente com Cristo na cruz para o pecado. Em Colossenses 3.5 está escrito "fazei morrer a vossa natureza terrena" e isto significa que a natureza terrena é uma constante tentação na vida do crente. Todos estamos sujeitos à tentação. Jesus nos ensinou a orar para não cairmos em tentação, porque a tentação é inevitável! O que isto nos ensina?
Os santos são chamados para a santificação ou a mortificação da natureza pecaminosa. Eu “mortifico” os feitos da carne e “revisto-me” da nova natureza através da oração – suplicando ao Espírito Santo que aplique em minha vida as riquezas da morte e ressurreição de Cristo – que torne visível os efeitos de minha nova vida em Cristo.
Tenho de compreender que a nova vida em Cristo não significa libertação absoluta do pecado nessa vida. O pecado não tem mais domínio sobre nós, mas ainda habita em nós (CALVINO, Institutas, 3.11), tal como lemos na carta aos Romanos: (ler)
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Rm 6.14).
Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim (Rm 7.20).
Trata-se de uma caminhada onde, como diz Calvino, os pecados contumazes são tratados a “marretadas” (Ibid., 3.15-18).
Saibamos ainda que, inevitavelmente, a despeito de todas as lutas e quedas nessa vida, o pecado já foi derrotado na cruz e será removido inteiramente na glorificação. É só uma questão de tempo. Somos o povo que foi separado, eleito em Cristo, que está sendo santificado e que será completamente glorificado na volta do nosso Redentor. Aleluia!
• Não há desculpas para o pecado na vida do crente. Não há justificativas. Não há racionalização. O pecado é tão sério que Jesus morreu para nos libertar dele. Logo, pecado deve ser reconhecido como pecado e deve ser confessado. Veja a lista no nosso texto (Colossenses 3.5, 8-9; 1 João 1.8-9). O pecado atrai a ira de Deus (Colossenses 3.6) e está em desacordo com a nova vida em Cristo (Colossenses 3.7).

2 – (...) E SE REVESTIR DA NOVA NATUREZA
Jogar a roupa suja da velha vida e se vestir com uma nova natureza!
“(...) e se vestiram com uma nova natureza. Essa natureza é a nova pessoa que Deus, o seu criador, está sempre renovando para que ela se torne parecida com ele, a fim de fazer com que vocês o conheçam completamente”. (Colossenses 3.10 - NTHL)
“Deus está sempre renovando para que ela se torne parecida com ele”. A vida cristã é dinâmica, não estática.
O resultado da transformação pela renovação da mente é a maturidade. A imagem de Deus, deformada pelo pecado, é recriada em nós (Colossenses 3.10; Efésios 4.13-14: ”12. Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo. 13. Desse modo todos nós chegaremos a ser um na nossa fé e no nosso conhecimento do Filho de Deus. E assim seremos pessoas maduras e alcançaremos a altura espiritual de Cristo”.
Essa transformação nos faz parecidos com Jesus. (Romanos 8.29)
“29. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.
As tentações e provações contribuem para nossa maturidade (Tiago 1. 2-4,12; 2 Coríntios 4.7-11). A santidade cristã não é etérea, desencarnada. A santidade cristã é vivida no dia-a-dia, com seus dilemas, lutas e sofrimentos.
Somos sal da terra e luz do mundo. É neste mundo que vivemos nossa identidade cristã (santidade). E este mundo é impactado por cristãos que vivem os padrões do Reino de Deus e não de acordo com o senso comum ou segundo a natureza pecaminosa. (sexo, diversão, negócios etc.). As obras dos cristãos maduros refletem a glória de Deus no mundo (Mateus 5.16).
Conclusão:
Viver de acordo com os padrões da Palavra de Deus não é um opção para o cristão. É um imperativo claro. Somos chamados para viver a novidade de vida que caracteriza a nova vida que temos em Cristo.
Podemos viver um cristianismo pela metade. Podemos até viver “parcialmente” a fé cristã. Contudo, não devemos nos esquecer que não existem meio-filhos, meio-cristãos... bem como não existe meio-céu e meio-inferno.

Rev. Ézio Martins de Lima

Deixa Deus ser Deus

Deixa Deus ser Deus em sua vida. Não o limite, não o subestime, não despreze Sua presença, não se aproxime Dele com pressa, não o trate como um rico comerciante do qual você se achega para pedir objetos de desejo.
Não limite o que Deus pode fazer, tendo por base sua própria finitude. Não leia os acontecimentos da vida através de suas míopes retinas, nem permita que o sentimento de desesperança se transforme em fatalismo. Pára de se lamentar e deixa Deus ser Deus em sua vida.
Não permita que um pequeno problema se avolume de tal forma que ao acordar de madrugada ele já não caiba mais no seu quarto; pelo contrário, “em tudo sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica” (Fp 4.6-7) pois é na tranqüilidade e na confiança no Senhor que está a tua força, e deixa Deus ser Deus para você.
Não se apequene, sê inteiro em todas as coisas. Se estiver em casa, esteja inteiro para seus queridos. Se for à igreja, não se perca em pensamentos do cotidiano, mas se enleve na atmosfera de adoração; se viajou em descanso, não se lembre do trabalho que deixou para trás. Esteja sempre no lugar que você está.
Não despreze os pequenos sinais da presença divina. Uma borboleta voando à sua frente pode ser um deles, o carinho da pessoa amada também, a presença de um amigo idem. Lembre-se que Deus não grita, só sussurra. Ele nem sempre mostra a estrada inteira – às vezes só nos dá um vislumbre. O resto é pela fé. Vemos obscuramente mesmo, pois a vida tem mesmo um pouco aventura, um filme que não conhecemos antecipadamente o enredo, só o final.
Deixe Deus ser Deus, e pare de ficar pedindo a todo o momento provas de seu amor e cuidado. Ele pode dar sim, mas às vezes nos deixa caminhar sozinhos a fim de crescermos! Há períodos em nossa vida que Ele solta momentaneamente nossas mãos e diz – vai que Eu estou cuidando de ti. Ele faz isso para fortalecer nossas “mãos frouxas e firmar os joelhos vacilantes”.
Outras vezes Deus nos manda esperar. E esperar é muito mais difícil que andar. Se Deus nos mandasse subir uma montanha carregando uma pedra, fazer um ritual, e deixar um sacrifício, faríamos sem pestanejar. Mas, esperar? Isso é horrível! Temos esta tendência pecaminosa de sempre querer fazer para nos dar a falsa impressão de que estamos no controle! Deixar Deus ser Deus é também “não atrapalhar” a obra que Ele está fazendo. Deixe Deus ser Deus e aprenda a esperar!
Deixar Deus ser Deus é também diferenciá-lo de outros deuses existentes no mundo. Nem sempre é fácil reconhecer estes simulacros de Deus! Mas fique atento! Os falsos deuses não requerem arrependimento, conversão, busca, entrega, transformação do ser, vida nova, caráter, santidade, confissão ... Não! Os “deuses genéricos” não pedem obediência, são impessoais, são “uma força cósmica”, “uma energia”, um “sentimento”, ”um vício”. Os deuses genéricos são tipo do “light” e” bonzinhos”, ao contrário de Senhor todo-poderoso, criador do Céu e da Terra, que se revelou plenamente em Jesus Cristo, seu Filho, que morreu na Cruz pelos nossos pecados, que ressuscitou ao terceiro dia e que enviou o seu Espírito Santo, e que voltará em Glória para julgar vivos e mortos!
Deixar Deus ser Deus é ir além da religião formal. Há mais, muito mais, para além dos cânticos, para além da liturgia – e da performance – tão valorizada hoje nas igrejas. Essas coisas não são Deus! Elas podem apontar para Ele, mas também podem atrapalhar e muito, caso esqueçamo-nos de Deus e nos apeguemos a estas coisas que apenas apontam para Ele. Tome muito cuidado aqui! Idolatria não é só adorar falsos deuses, mas é também a falsa adoração ao Deus verdadeiro!
Faça um propósito hoje: deixe Deus ser Deus em sua vida.... e não atrapalhe.