quinta-feira, outubro 29, 2009

A REFORMA PROTESTANTE - A Reforma de Genebra

Uma reforma política já tinha acontecido em Genebra, na qual o bispo de Sabóia tinha sido removido e substituído pelo governo dos magistrados. Seguindo esta reforma política, a reforma espiritual de Genebra começou a florescer, especialmente sob a liderança de Guillaume (William) Farel e um colega no ministério, Pierre Viret. O concílio da cidade suspendeu a Missa em 1535, e subseqüentemente decretou diversas leis proibindo a prática da religião Católica Romana e requerendo que os sacerdotes se convertessem e anunciassem que a doutrina evangélica agora pregada em Genebra era deveras a santa doutrina da verdade. Estas ordenanças foram seguidas na primavera de 1536 pela exortação de que todos os cidadãos deveriam atender aos sermões, para ouvir o verdadeiro evangelho. Em outras palavras, os magistrados estavam tentando produzir uma reforma espiritual pela lei.

Mas como logo seria visto, a verdadeira reforma espiritual não pode vir pela imposição de lei. A verdadeira reforma é inteiramente espiritual, a obra de Deus pelo Espírito Santo nos corações dos homens. E para tal reforma Deus teria João Calvino desempenhando o papel de liderança.

Todos os labores de Calvino para com a reforma de Genebra estavam fundamentados nas Escrituras.

A obra de Calvino em Genebra começou no verão de 1536. Ele começou sua obra ali como um notável professor, o autor da Christianae religionis insitutio, as Institutas da Religião Cristã, publicada uns poucos meses antes.

A tarefa de reforma em Genebra era assombrosa. Calvino entendeu que tal reforma envolveria reorganizar a igreja de acordo com a Palavra de Deus, defender a autonomia da igreja em relação aos magistrados civis (por si mesma uma tarefa nada fácil), bem como trazer uma mudança para a mentalidade das pessoas com respeito tanto a doutrina como aos seus efeitos sobre a moral e a vida cristã.

Calvino se voltou para o trabalho, reconhecendo somente uma esperança para realizar esta tarefa humanamente impossível. Tal reforma poderia vir somente pelo poder da Palavra de Deus.

Sua primeira meta foi colocar em ordem a instituição da igreja. Calvino demonstrou que não somente as doutrinas da igreja, mas também a forma de governo da igreja, devem vir da Escritura.

A pregação ocupava o lugar principal na reforma da Igreja em Genebra. Na Catedral de São Pedro, onde Calvino geralmente pregava, os serviços de adoração do Domingo eram realizados ao amanhecer, novamente às 9 da manhã, e mais uma vez às 3 da tarde. As crianças eram trazidas à tarde para instrução. Cultos com pregações menores eram também realizados nas manhãs de Segunda, Quarta e Sexta-feira.

Muita atenção era dada ao ensino, seguindo também a forma de um Catecismo que Calvino preparou. Em adição, sabendo a importância da educação para a causa do evangelho, Calvino conduziu a promoção da educação com o estabelecimento da Academia de Genebra.

Como parte das ordenanças eclesiásticas, o diaconato também foi estabelecido. O próprio Calvino foi instrumental no estabelecimento de um hospital em Genebra.

João Calvino via a Palavra de Deus se aplicando a todo aspecto da vida cristã. Ele estava convencido de que o poder do evangelho no coração dos eleitos afetaria sua vida familiar, sua vida na igreja, o manusear de suas finanças, bem como o seu lugar na sociedade e qualquer função que eles pudessem desempenhar no governo. Mas básico para tudo isto é uma igreja verdadeira e saudável. Foi a isto acima de tudo que Calvino deu a sua atenção.

Embora a reforma de Genebra pudesse ser ela mesma limitada, a influência daquela reforma foi espalhada. A obra da Academia de Genebra fundada por Calvino continuou a espalhar sua influência pela causa da fé Reformada por décadas, mesmo após a morte de seu fundador. Além do mais, os refugiados que fugiram para Genebra voltaram para as suas casas levando a fé Reformada com eles. Deste ponto de vista, a reforma espiritual de Genebra foi apenas um microcosmo daquela obra poderosa de Deus por todo o continente da Europa e pelo mundo afora, visto que o Espírito da verdade continuava a guiar a Sua igreja — e assim Ele ainda o faz hoje, em nossas próprias igrejas.

(Rev. Steven Key)

Quatro grandes princípios da Reforma de Genebra

1. “O fim principal do ser humano é glorificar a Deus e nele ter prazer para todo o sempre” (Breve Catecismo de Westminster). No conceito reformado glorificamos a Deus, adorando-o em culto e em vidas de atividade obediente a sua vontade. Nisso o ser humano encontra o sentido e a felicidade do viver.

2. “Igreja Reformada, Sempre se Reformando” - A chave para entender a Reforma reside no fato de ela aceitar uma só autoridade suprema - a Palavra de Deus. Isto lhe confere a liberdade de reexaminar, à luz da Palavra, toda a teologia e o culto da Igreja de sua época. Este princípio reformado enfatiza a necessidade de a Igreja, em cada geração, submeter-se à atividade do Espírito Santo, que reforma e renova a Igreja segundo a Palavra de Deus testemunhada pelas Escrituras.

3. “Ofereço-te meu coração, Senhor, espontânea e sinceramente” – O famoso lema do brasão de Calvino exprime o sentido e o estilo da vida cristã.

4. “A verdade (existe) em função do bem” - A tradição reformada insiste na ligação inseparável entre a fé e a prática, entre a verdade e o dever. A grande pedra de toque da verdade consiste na sua tendência de promover a integridade de princípios morais e éticos no indivíduo e na sociedade, segundo a regra do Salvador: “Pelos frutos os conhecereis”.

(Rev. Richard Irwin)

terça-feira, outubro 27, 2009

REFORMA PROTESTANTE - parte I


Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria

No mês de outubro as igrejas de tradição Reformada voltam os seus olhos à Reforma Protestante do século XVI. Não obstante a tendência natural da pós-modernidade de considerar que o passado nada tem a nos ensinar, nós não descuidamos do ensino da Palavra de Deus que nos exorta: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais”. (Provérbios 22.28). Num tempo marcado por relativismos e subjetivismos, faz-se necessário voltar aos marcos antigos a fim de não corrermos o risco de pisar em solo estranho!

A tradição Reformada sempre professou que “a igreja porque é reformada deve sempre se reformar”; isto, contudo, não significa “jogar no lixo” a tradição que herdamos daqueles que viveram com fidelidade a Palavra de Deus e pagaram o preço a fim que o Evangelho chegasse até nós. A reforma constante pela qual a igreja deve passar não inclui a mudança ou alteração dos fundamentos da fé cristã. A verdade que impactou o mundo no século XVI continua sendo verdade para nós hoje! A verdade não é relativa, pois se for relativa não é verdade de fato.

Abaixo transcrevo parte da “Declaração de Cambridge”, um resumo daquilo que denominamos “Os Cinco Solas da Reforma Protestante”:

“Sola Scriptura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

Solus Christus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

Sola Gratia

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

Sola Fide

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

Soli Deo Gloria

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho”. (Fonte: Declaração de Cambridge)