"(...) Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife - seguro, sombrio, imóvel, sufocante - ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível.
A alternativa para a tragédia, ou pelo menos para o risco da tragédia é a danação. O único lugar fora do céu onde você pode manter-se perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno.
Acredito que os amores mais fora-da-lei e imoderados são menos contrários à vontade de Deus do que uma falta de amor auto-provocada e auto-protetora. E como ocultar o talento (a moeda) num lenço e por essa mesma razão. “Eu sabia que o senhor era um homem cruel”. Cristo não ensinou e sofreu a fim de nos tornarmos, mesmo em nossos amores naturais, mais cuidadosos com nossa própria felicidade. Se o homem não faz cálculos com relação aos entes queridos terrenos a quem vê, irá provavelmente agir da mesma forma para com Deus a quem não vê. Iremos aproximar-nos mais de Deus aceitando os sofrimentos inerentes a todos os amores e oferecendo-os a Ele, em lugar de fazer tudo para evitá-los. É preciso despojar-nos de toda a nossa armadura defensiva. Se nossos corações tiverem de partir-se, e se Ele escolher este como sendo o meio de parti-los, assim seja"
(C. S. Lewis - Os Quatro Amores - p. 63)