A murmuração é a linguagem mais escancarada do descontentamento humano. O canto do insatisfeito é um réquiem, cujo conteúdo é a lamúria por aquilo que o contraria.
O Livro dos Atos dos Apóstolos também nos mostra que o pecado coletivo que deu início às divisões na igreja primitiva foi a murmuração. A causa da má distribuição da cesta básica causou uma reação diabólica de desagrado que gerou o vírus letal do resmungo ameaçador (Atos 7). A unidade do grupo foi atacada pela lastimável lamentação de alguns murmurantes. Se não fosse a ação sábia por parte dos apóstolos, os danos poderiam ter sido irremediáveis.
O livro do Êxodo mostra-nos que a murmuração foi o primeiro pecado do povo de Israel ao sair do Egito. Não obstante toda ação graciosa e milagrosa da parte de Deus para livrá-los da escravidão, não tardou formarem um coral de murmurados diante da primeira dificuldade em que se sentiram incapazes de transpor.

Matthew Henry escreveu que "as pessoas que mais se queixam são as que mais são motivo de queixa". A murmuração é um sintoma de desconforto com os desígnios divinos. Murmurar é, no final das contas, considerar-se mais sábio que Deus e uma profissão de descrença. O murmurador canta no coral daqueles que não acreditam que Deus é poderoso o suficiente pra cuidar de nós ou que não é capaz de reverter as situações que se nos apresentam intransponíveis.
Jesus foi enfático com os seus discípulos: “Não murmureis entre vós”. (João 6.43). A murmuração é uma afronta direta ao caráter divino, pois é como o filho maldizer o pai/mãe que não mede esforços para protegê-lo, amá-lo e vê-lo crescer. Ainda que a nossa existência neste mundo esteja cheia de acontecimentos desagradáveis, a vida dos verdadeiros discípulos de Cristo não pode ser um réquiem, composto com as linhas grosseiras do queixume e da lamúria.
A pessoa descrente e desgostosa fica sem opção na vida, ao deixar escorrer pelo canto da boca a baba peçonhenta da sua reclamação. Mas os filhos de Deus sabem que o canto de gratidão e louvor é a partitura que devem compor nesta vida: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”. (1 Tessalonicenses 5.18). Assim, cerramos os lábios da murmuração e soltamos a voz da gratidão. Os adoradores de Senhor Jesus, o Agnus Dei, são membros do único coral que entoa com alegria essa singular canção, que é a única aceita diante do trono celestial. “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor”. (Apocalipse 5.12).
No Amor dEle,
Ézio Martins de Lima, pr.