sexta-feira, julho 04, 2008

Feridos que ferem ou feridos que curam?


Conforme lidamos com as nossas feridas podemos nos tornar feridos que ferem ou feridos que curam. A Bíblia fala de dois tipos de tristeza: uma tristeza "mundana" que leva à autocomiseração, que nos faz assumir o papel de vítima e "produz morte"; e uma tristeza na perspectiva de Deus que pode gerar transformação e vida (2 Coríntios 8.10).

Mergulhando na história da nossa vida, encontramos momentos dramáticos em que tivemos que fazer a escolha crucial de nos tornarmos amargurados por nossas feridas ou feridos que curam. O filme "Patch Adams: o amor é contagioso" fala de um homem que fez a escolha de ser um ferido que cura e quase desistiu quando uma nova ferida o empurrou à beira do precipício. Para seu próprio bem e o bem das pessoas à sua volta, ele finalmente escolheu seguir o princípio bíblico de "vencer o mal com o bem” (Romanos 12.21). Na maioria das vezes optamos por uma solução intermediária, mesclando sentimentos de mágoa e o desejo de superar.

Nossa experiência pessoal de feridos curados pelo amor incondicional de Deus é que nos permite ser presença de consolo na vida daqueles que sofrem. Enquanto perseguimos nossa felicidade como prioridade absoluta, faremos isto à custa do bem estar do outro. Mas ao buscar minorar a dor do nosso próximo, encontraremos a plenitude de alegria para a qual fomos criados.

A cruz de Cristo proclama que a vida não se preserva negando a dor, o sofrimento e a morte, mas acolhendo o ciclo dor, da morte e ressurreição. Por isto, somos chamados a "levar sempre nos corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Coríntios 4:10). Assim, em vez de fugir do sofrimento através de uma vida artificial, podemos superá-lo com o bálsamo do amor de Deus que tem o poder de transformar inclusive o “mal em bem”.

Precisamos, portanto, olhar para os retalhos da nossa vida na perspectiva de Cristo, que venceu o mal e a morte. Somente assim poderemos usá-los na confecção de uma obra de arte, fruto do milagre de Deus, que é a nossa existência à luz do amor de Deus e na dependência do Espírito Santo.

No amor dAquele que nos amou primeiro,

Rev. Ézio Lima

quarta-feira, julho 02, 2008

“O quanto você amou?”



Esta semana li uma interessante afirmação no livro “Espiritualidade Bíblica” (R. Paul Stevens e Michael Green). Green, no final do capítulo “Embaixadores do Amor”, escreveu que a única pergunta que iremos responder no julgamento final é esta: “O quanto você amou?”, e continua: “Este é o âmago, a pulsação do coração da Espiritualidade do Novo Testamento. Qual será a nossa sentença, então?”.

O amor é a chave para o discipulado cristão. Amor também é a sua medida. Este amor não é exclusivista, mas altamente inclusivo. Não é sentimentalmente alienado, mas é verdadeiramente comprometido. Por isso Jesus disse aos seus discípulos que deveriam amar seus próximos como a si mesmos, e até amar seus inimigos (Lucas 6.27). Porque Ele amou assim, tem autoridade para ensinar. Ele praticou o que pregou, e demonstrou que é possível vencer a tentação do mal e todas as suas artimanhas.

O caminho dos discípulos de Jesus não é outro senão aquele que o Mestre trilhou. Por isso o Apóstolo do Amor escreveu: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (I João 4.19). Amar o próximo é o mandamento do Senhor Jesus; e Jerônimo, lá nos primeiros anos da igreja cristã escreveu: “Porque este é o mandamento do Senhor, se é cumprido é o bastante”.

Que amor é este? Será que ele pode ser confundido com o ‘amor apaixonado’? Quando olhamos para a vida de Jesus, compreendemos bem que não se trata de uma paixão sentimental, que se estabelece em vínculos de interesse e egoísmo. O amor que se entrega sem reservas e sem esperar nada em troca não pode ser confundido com um sentimento apaixonado.

Quando Paulo falou desse amor, deixou claro que estava falando do jeito de amar de Jesus:

O amor é paciente (I Co 13.4).

O amor é bondoso (I Co 13.4). A palavra significa generoso.

O amor não é invejoso (I Co 13.4).

O amor não se vangloria (I Co 13.4). É recatado e discreto.

O amor não se ensoberbece (I Co 13.4)

O amor não se aproveita da vergonha (I Co 13.5). Ele se doa para perdoar, e não para expor os pecados.

O amor não é egoísta (I Co 13.5).

O amor não se exaspera (I Co 13.5). O amor adianta-se à retaliação e aos comentários falsos.

O amor não é volúvel (I Co 13.5).

O amor não demonstra o que é mal, mas se alegra com a verdade (I Co 13.6).

O amor suporta tudo (I Co 13.7). Solidão, equívocos, dor, negligência, oposição.

O amor crê no melhor das pessoas, não no pior (I Co 13.7)

O amor é experimentado aqui e agora: ele é o alicerce seguro para a esperança naquilo que não podemos ver (I Co 13.7).

O amor resiste a qualquer coisa, sem se transformar em cinismo (I Co 13.7).

O amor nunca desiste (I Co 13.8), como o amor de Jesus que suportou a morte na cruz.

Cada uma das características desse amor expresso em 1 Co 13 é como uma cor na paleta de um pintor. A figura pintada na junção de todas estas cores é o retrato de Jesus. Somente podemos compreender o amor em toda a sua profundidade, se olharmos para Jesus. Só podemos viver este amor em toda a sua extensão, se estas mesmas cores derem um novo colorido e uma nova expressão de vida em cada um nós! Quando isso acontecer, pela ação graciosa de Deus, em Cristo, pela ação do Seu Espírito, teremos a beleza de Cristo resplandecendo em nós; como uma bela imagem pintada pelos próprios dedos de Deus. (Romanos 8.29; II Co 3.18)

Que sejamos mais e mais semelhantes ao nosso Senhor Jesus! Não precisaremos, assim, ter qualquer receio da pergunta final: “O quanto você amou?”. Afinal, “o perfeito amor lança fora o medo” (I João 4.18)

Rev. Ézio Martins de Lima

terça-feira, julho 01, 2008

A Graça é Suficiente!

“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.

Quem é este que sem conhecimento obscurece o conselho? por isso falei do que não entendia; coisas que para mim eram demasiado maravilhosas, e que eu não conhecia.

Ouve, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me responderas.

Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos.

Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza”. (Jó 42.2-5)

O capítulo 42 de Jó nos mostra um homem que se prostra em adoração diante do Deus Soberano. Os entulhos dos questionamentos fundamentados no seu egoísmo são retirados à medida que Jó tem uma percepção do amor de Deus que é eterno e que, por isso, o atrai com benignidade (Jr 31.3). Jó se cala, porque se encontra com o Deus cujo Amor Eterno o envolve em tal medida que as explicações, requeridas em boa parte do livro, agora se tornam desnecessárias.

No encontro com o Deus que vem ao seu encontro, Jó aprende que Deus está mais longe e mais alto do que a religiosidade humana. A experiência com Deus, ao olhar para a Sua face –linguagem que opõe a religiosidade superficial à experiência da conversão genuína, faz com que os questionamentos percam o sentido. “Aquele que esperava sair do cadinho como do ouro puro” (Jó 23.10), se prostra em adoração (Jó 42.6)

A fé que nasce na graça é a que Jó conhece no encontro com Deus. É amar a Deus não pelo que Ele Lhe concede, mas por aquilo que Ele é. A fé oriunda da Graça nos faz lançar o olhar para a face de Deus a fim de conhecê-LO, e não para as Suas mãos, a fim de receber algo.

A experiência de Jó não pretende explicar e pôr um fim ao problema do sofrimento humano. As respostas que Jó esperava receber de Deus não lhe são dadas. Ao invés de respostas, ouve-se um turbilhão de perguntas às quais não pode responder. Jó, assim, descobre qual é o seu lugar! O falador e inquiridor se transforma no homem silencioso, imerso na experiência do conhecimento da soberania de Deus. Jó se dá conta que o trono do Universo não está vazio. Todas as coisas estão no controle daquele que tudo pode e cujos planos não podem ser impedidos.

A necessidade de explicação dá lugar à participação, à comunhão, à experiência com o Soberano Senhor e Criador de todas as coisas. Tal participação, é verdade, “não desfaz o enigma do sofrimento no universo, mas permite ao homem viver. Ele não está mais prostrado pelo escândalo. Não está mais fascinado pelo nada. A sua fé o liga ao Ser. Ele vive na perspectiva da sola gratia”. (Dr. Samuel Terrien)

Não é intenção do livro de Jó resolver o problema do sofrimento, mas mostrar o triunfo da fé que repousa na graça quando do despojamento completo do eu. Jó prenuncia, portanto, séculos e séculos antes do Apóstolo Paulo, a doutrina cristã de que a graça é suficiente quando somos privados das demais coisas! (2 Coríntios 12.9)

“Ó Senhor, tu sabes o que é melhor para nós, faça-se aquilo que te aprouver. Dá o que quiseres, na quantidade que quiseres e no tempo que te aprouver. Faze de mim como achares melhor e o que mais te agradar. Põe-me onde quiseres, e trata comigo em tudo de acordo com o que tu queres. Eis-me, o teu servo pronto para tudo, pois eu desejo não viver para mim mesmo, porém para ti; e quem me dera fazer isto digna e perfeitamente” . (Thomas à Kempis – 1379-1471).

Rev. Ézio Martins de Lima

“Procura-te somente em Cristo, não em ti mesmo, então nele te encontrarás eternamente”

Martinho Lutero