quinta-feira, março 25, 2010

Sermão do dia de Ramos

“Os antigos, como se lê em São Bernardo, chamavam a esta semana a Semana Penosa, pelos tormentos e penas que Cristo nosso Redentor nela padeceu, e pelo sentimento e dor com que nós as devemos corresponder e acompanhar. A Igreja universal lhe chama a Semana Maior, porque nela se consumaram os maiores mistérios de nossa Redenção, os maiores excessos do amor e misericórdia divina, e o maior e mais tremendo exemplo de sua justiça. Nós, em significação de todas estas coisas juntas, chamamos vulgarmente à mesma semana a Semana Santa, mas não sei se as nossas ações e exercícios nela respondem às obrigações de tão sagrado nome. Ora eu tão escandalizado do que algumas vezes acontece, como zeloso do que é bem se veja e reconheça em todos estes santos dias, o assunto que somente vos determino pregar hoje é este: que deve fazer todo o cristão para que a Semana Santa seja santa?”
(Antonio Vieira – Sermão de dia de Ramos 1656)

quarta-feira, março 24, 2010

Como você receberia o Messias? (Domingo de Ramos)



Neste próximo domingo, dia 23/03, o mundo cristão celebra o início da semana da paixão do Senhor Jesus Cristo. O início da “Semana da Paixão” dá-se no “Domingo de Ramos”, haja vista que , segundo as narrativas dos Evangelhos, Jesus é recebido por uma multidão em Jerusalém que “estendeu suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada”.

A entrada de Jesus em Jerusalém é o cumprimento da profecia de Zacarias 9.9.

Os imperadores entravam nas cidades, especialmente depois de suas vitórias em guerras, montados em Cavalos e escoltados por soldados. Em Roma há os “arcos da vitória”. Napoleão também construiu o grande arco na França para celebrar suas vitórias.

Jesus entra na cidade de Jerusalém, contudo, montado em um jumentinho; um animal considerado transporte de pobres. O Seu reino é diferente, assim como sua vitória é vista aos olhos humanos como uma aparente derrota e fracasso. A Cruz, escreverá Paulo à Igreja de Corinto, é escândalo para os Judeus e loucura para os gregos, mas para nós é O PODER DE DEUS!

Voltemos à Jerusalém... Imagine a grande entrada de Jerusalém, construída por Herodes Antipas... Imagine uma multidão...

Mateus nos informa que esta multidão era composta por dois grandes grupos. Vejamos como estes grupos reagem à entrada de Jesus em Jerusalém:

1. Uma parte da multidão declara submissão e reconhece a autoridade de Jesus (Mt. 21.9)

Uma parte da multidão clamava: Hosana. Literalmente eles clamavam: “Hôsshiah-nâ”: “Salva-nos, por favor”.

“Bendito o que vem em nome do Senhor”: “Bendito o que vem da parte de Deus”. Esta declaração é o reconhecimento de que Jesus é o Messias que vem da parte de Deus.

II Reis 9.13: unção de Jeú como rei de Israel. O povo estendeu os seus mantos no chão para que ele pudesse passar. Esta prática era uma declaração de que estavam dispostos a serem servos. Portanto, é uma declaração de submissão irrestrita.

2) A outra parte de multidão é formada pelos incrédulos! (Mateus 21.10)

“Quem é este?”, é a pergunta dos que não conseguem aceitar. O Evangelho de João nos revela que os fariseus diziam entre si: “Não conseguimos nada! Olhem como o mundo todo vai atrás dele”. (João 12.19).

Esta parte da multidão, assim como os demais, era também composta de pessoas que ansiavam pelo Messias, que esperavam que Deus viesse socorrer o povo de Israel. Contudo, não conseguiam aceitar que Jesus fosse o Messias. Não conseguiam crer que o filho de um carpinteiro, que andava na companhia de publicanos e pecadores, era o Messias, O Salvador.

Este é o grupo dos que esperam por Deus, mas por um deus que se enquadre nas suas expectativas. Um deus moldado aos seus próprios conceitos e caprichos. Um deus que está preso aos conceitos teológicos e doutrinários criados pelo seu próprio entendimento. Este é o grupo formado por aqueles para os quais Deus não pode fazer nada senão o que eles já pré-conceberam.

Que grande perigo a religião pode ser!

Precisamos reconhecer que Deus age segundo Sua AUTORIDADE, SOBERANIA E PODER. Ele não está circunscrito aos nossos conceitos! Ele é DEUS.

3. Em qual grupo nos encontramos?

Domingo de Ramos é importante para que respondamos a seguinte pergunta: COMO EU RECEBEREI O MESSIAS?

Estamos com os que se alegram e festejam a presença do Salvador? Ou estamos com aqueles que ficam à margem, incapazes de irem até Jesus e conhecê-lo como Ele realmente é? Diremos: “Hosana : Salva-nos, pois te Ti carecemos!” ou diremos: “quem é esse?”

Rev. Ézio Martins de Lima

terça-feira, março 23, 2010

A arte de maravilhar-se diante da vida

Em alguns dias eu acordo feliz...(nos outros --na maioria, eu confesso! -- eu acordo mal humorado, preocupado, ansioso...). Em todos eles, eu me lembro, ao acordar, do Salmo 27, verso 13 e 14. Com a leitura, repito para mim mesmo que "sem a bondade de Deus", não há mínima esperança do meu dia ser melhor... Hoje demorou um pouco para que o sentimento de orfandade me abandonasse... A leitura do texto transcrito abaixo me ajudou a superar isso...

"A simples admiração diante da vida, da criação, deste lugar onde estamos vivos neste momento exige uma resposta, um agradecimento. Há algo tão profundamente congruente no mundo em que vivemos e em quem nós somos que, quando nos damos conta, surpreendemo-nos com seu milagre e sua maravilha. Na Antiguidade, Platão observou que toda filosofia começa com o "maravilhar-se". No mundo moderno, Heidegger usou a expressão "espanto radical" para enfatizar a idéia de Platão. Leibniz fez a pergunta que continua a provocar reflexões infindáveis acerca do fato de nos encontrarmos inseridos neste lugar e neste tempo: "Por que não nada?".

Maravilha. Espanto. Adoração. Devem ser poucas as pessoas que nunca foram acertadas em cheio pela mais pura realidade da existência. Descalçamos nossas sandálias diante da sarça ardente. Perdemos o fôlego ao ver um falcão mergulhando. "Muito obrigado, Deus!" Vemo-nos numa existência copiosa na qual experimentamos uma sensação profunda de afinidade — Este é o nosso lugar, agradecemos à vida com nossa vida. E não dizemos apenas "Muito obrigado!", mas "Muito obrigado, Deus!". Não se trata apenas de aprendermos a ter bons modos, como as crianças a dizer "muito obrigado" como convenção social. Antes, é o cultivo da adequação interior à realidade, desenvolvendo a capacidade de ter sempre uma resposta apropriada para a natureza extraordinária e a generosidade da vida". (Eugene Peterson, A maldição do Cristo Genérico, p.68)