Já tive o privilégio de caminhar por muitos lugares e visitar igrejas das mais variadas confissões. Tenho amigos ortodoxos e liberais, tradicionais e pentecostais, protestantes e católicos. Não gosto destes rótulos, pois toda tentativa de rotular é um reducionismo. Contudo, e apesar dos rótulos, tenho presenciado manifestações inconfundíveis do verdadeiro Evangelho. O Evangelho é, por natureza, de difícil comercialização. Não se consegue vender virtudes; jamais conseguiremos vender o projeto da cruz, ou alienar por determinada quantia o perdão divino. O Evangelho da Graça é de graça, por mais que tentem vendê-lo por aí a torto e a direito!
Quem, afinal, pagaria para dar a outra face? Quantas pessoas estariam dispostas a pagar para sofrer por amor a Cristo? Quantos de nós pagaríamos para nos engajar na causas pela justiça? Quem, afinal, pagaria para amar com todas as consequências do verdadeiro amor? E quantos ricos aceitariam o Evangelho se tivessem que entregar metade dos seus bens aos pobres e ainda pagar, quatro vezes mais, àqueles a quem houvessem defraudado? O evangelho de Jesus Cristo exige certa coragem, que quase sempre falta ‘aos grandes e poderosos’, mas que sobra nos “humildes”, naqueles que se tornaram como crianças.
Não se vê, é verdade, muito deste cristianismo autêntico por aí. Lastimo (e não raro choro) que o “evangelho vendido” aos berros na TV é o único que a grande parte do Brasil conhece. Às vezes alguém me pergunta qual minha religião. Educadamente digo que sou um cristão de confissão reformada e membro de uma igreja presbiteriana. É fácil perceber que a resposta dada exige outra série de explicações. Não é fácil explicar. E logo me pego dizendo: “ah, mas ‘minha igreja’ não faz aquilo, nem aquilo outro, nem isso...”. O olhar incrédulo logo denuncia o total desconhecimento. Há um evangelho da “outra via”, mas ele é desconhecido. É uma pérola de inestimável valor, mas ainda completamente desconhecida por muitos!
Lembro-me de Elias, o profeta. Ele estava muito cansado de ensinar a verdade, de lutar contra a mentira e pregar o caminho do Deus que exige fidelidade, mas não cobra ingresso. Às vezes não é fácil fazer tudo isso sozinho porque dá uma sensação ruim de que se está na contramão. Mais fácil é ir com a maioria, fazer o que todo mundo faz. Talvez isso redunde num certo ‘sucesso”, além de ser bem mais fácil. Mas Deus não pede nosso sucesso, mas nossa fidelidade; nem diz que o caminho é fácil, mas que a porta e o caminho são estreitos. Mas Elias sentiu-se exausto e sozinho. Entrou numa caverna e quis desistir de tudo. “Querem Baal? Querem religião show? Fiquem com isso... eu vou tirar meu time de campo”. Deus, então, na Sua bondade e graça, falou com Elias: “Conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou” (I Reis 19.18). Você consegue perceber o que estas palavras significaram para Elias?
Sim. Há muitos joelhos por aí que não se dobraram. Trata-se de pequenas iniciativas? Por certo. Mas, somadas, elas podem nos surpreender por seus resultados. Sem dúvida alguma, os salvos pela graça e pregadores da esperança têm potencial para fazer muito mais. Há ainda muitos recursos sub-utilizados. Há muitos discípulos precisando sair do anonimato e pregar o “evangelho da outra via”. Mas os dados estatísticos nos indicam que “a grande massa evangélica brasileira” é ainda composta pela soma das pequenas comunidades, e não pelos grupos evidentes na mídia. Glória a Deus! Sim, há esperança!
Esta parte do Corpo de Cristo permanece à margem da competitividade, mas diante da solidariedade; à margem da acumulação, mas vizinha da partilha; à margem do lucro, mas próxima da gratuidade; à margem do individualismo, mas de braços abertos para a fraternidade. Eles me ajudam a interpretar e entender a manjedoura, a encarar o sofrimento, a encontrar no calvário sinais de vida e ressurreição. Eles podem me trazer lembranças das coisas que resgatam a esperança da vida. Deus continua se revelando de maneira estranha e em lugares imprevisíveis – e nós não percebemos.
Você percebe? Alegre-se! Exulte! Não deixe, assim, de viver e proclamar o Evangelho da Graça e de graça! Há outra via. Sim, há esperança!
Ézio Martins de Lima, pr