Poucos, realmente, são os que percebem que Cristo só é honrado quando vivemos santamente para Ele, e isso se andarmos em sujeição à Sua vontade revelada. Poucos são os que verdadeiramente acreditam naquela palavra que diz: "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros" (I Samuel 15 :22).
Não seremos crentes, sob hipótese alguma, a menos que nos tenhamos rendido totalmente a Cristo e que tenhamos recebido a Cristo, "... o Senhor... " (Col. 2:6). Queremos instar com o prezado leitor para que pondere diligentemente sobre essa declaração acima. Satanás anda enganando a muitos, hoje em dia, levando-os a suporem que estão confiando na "obra consumada" de Cristo, para salvação de suas almas, ao mesmo tempo que seus corações permanecem inalterados e que o "ego" continua a governar as suas vidas. Ouçamos o que diz a Palavra de Deus: "A salvação está longe dos ímpios, pois não procuram os teus decretos" (Salmos 119:155).
O prezado leitor realmente busca os decretos de Deus? Você pesquisa com diligência a Sua Palavra, para descobrir o que Ele ordenou? "Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade" (I João 2:4). O que poderia ser mais claro do que isso?
"Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? " (Lucas 6:46). A obediência ao Senhor na vida diária, e não apenas na forma de palavras ribombantes nos lábios, é o que Cristo exige. Que mensagem perscrutadora e solene é aquela que se acha em Tiago 1:22: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos!" Existem muitos "ouvintes" da Palavra, ouvintes regulares, ouvintes reverentes, ouvintes interessados; mas, infelizmente, aquilo que ouvem não incorporam em suas vidas – a Palavra não guia o seu caminho. E Deus é quem diz que aqueles que não são praticantes da Palavra meramente enganam a si mesmos!
Desafortunadamente, quantos existem assim na Cristandade, nesta nossa época! Não são hipócritas desavergonhados, mas apenas estão iludidos. Supõem os tais que em face de serem tão claros seus conceitos sobre a salvação só pela graça, que eles estão salvos. Supõem, igualmente, que por estarem sob o ministério de um homem que "fez da Bíblia um livro novo" para eles, que já cresceram na graça. Supõem que por terem aumentado o cabedal de seus conhecimentos bíblicos, aumentou também a sua espiritualidade. Supõem que o mero ouvir a um servo de Deus, ou que a mera leitura de seus escritos os alimenta com a Palavra. Nada disso! "Alimentamo-nos" com a Palavra de Deus somente quando nos apropriamos dela pessoalmente, quando mastigamos e assimilamos em nossas vidas aquilo que ouvimos ou lemos: Sempre que a vida não se amolda mais perfeitamente à Palavra de Deus, desde o coração, o conhecimento acrescido somente servirá para agravar a condenação da alma. "Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites" (Lucas 12 :47).
". . .que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade" (II Timóteo 3:7). Essa é uma das mais proeminentes características dos "tempos perigosos" que atualmente atravessamos. As pessoas ouvem um pregador após outro, vão a esta e aquela conferência, lêem livros e mais livros sobre temas bíblicos, e, no entanto, jamais chegam a ter um conhecimento vital e prático da verdade, de tal modo que o seu poder e eficácia fiquem impressos sobre suas almas. Existe aquilo que poderíamos chamar de hidropisia espiritual, e multidões estão sofrendo desse mal. Quanto mais ouvem, tanto mais desejam ouvir: bebem sermões e discursos com avidez, mas suas vidas em nada se modificam para melhor. Antes, sentem-se orgulhosos de seu conhecimento, e não se humilham no pó diante de Deus. Mas a fé dos eleitos de Deus consiste no "... pleno conhecimento da verdade segundo a piedade.... " (Tito 1:1), ainda que isso seja ignorado pela vasta maioria.
Deus nos deu a Sua Palavra não apenas com o intuito de instruir-nos, mas também com o propósito de orientar-nos – para que soubéssemos o que Ele requer que façamos. A primeira coisa de que precisamos, pois, é do claro e distinto conhecimento de nosso dever; e a primeira coisa que Deus requer de nós é a prática conscienciosa do dever, que corresponda ao nosso conhecimento. "E que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus? " (Miquéias 6:8). "De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem" (Eclesiastes 12:13). O Senhor Jesus salientou a mesma particularidade, quando disse: "Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando" (João 15:14).
Assim sendo:
1. O indivíduo se beneficia da Palavra ao descobrir quais são as exigências que Deus lhe impõe.
Esses são os Seus mandamentos inalteráveis, pois Deus não sofre sombra de variação. É grave e grande erro supormos que, nesta presente Dispensação Deus rebaixou as Suas exigências, porquanto isso necessariamente implicaria em que Suas exigências anteriores eram severas demais e injustas.
Mas, não é assim! "Por conseguinte, a Lei é santa; e o mandamento, santo e justo e bom" (Romanos 7 :12). A súmula das exigências de Deus é a seguinte : "Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Deuteronômio 6:5 ). E o Senhor Jesus reiterou esse conceito no trecho de Mateus 22:37. O apóstolo Paulo, por sua vez, reforçou o ponto, quando escreveu: "Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema!" (I Coríntios 16:22).
2. O homem tira proveito da Palavra quando descobre quão total e pecaminosamente tem deixado de satisfazer às exigências de Deus.
E apressamo-nos por salientar, para benefício de qualquer pessoa que ponha em dúvida a veracidade daquele último parágrafo, que ninguém pode perceber quão profundamente pecador ele é, quão infinitamente aquém da medida dos padrões de Deus vive ele, enquanto não houver recebido a clara visão das exaltadas exigências que Deus lhe impõe! Na proporção exata em que os pregadores rebaixam os padrões divinos, sobre aquilo que o Senhor requer de todos os seres humanos, nessa mesma proporção os seus ouvintes obterão a idéia inadequada e distorcida de sua própria pecaminosidade, e menos perceberão eles a necessidade que têm do Salvador Todo-poderoso.
Porém, uma vez que uma alma realmente perceba quais são as exigências que Deus lhe faz, e também chegue a perceber que tem deixado completa e constantemente de fazer o que lhe compete, então é que ela reconhece quão desesperadora é a situação em que se encontra. A lei precisa ser ressaltada, antes que alguém esteja pronto para ouvir com proveito o evangelho.
3. Um homem se beneficia da Palavra quando ali aprende que Deus, em Sua infinita graça, providenciou plenamente para que Seu povo cumpra as Suas exigências.
Quanto a esse particular, igualmente, grande parte da pregação de nossos dias envolve defeitos sérios. Atualmente se anuncia aquilo que poderia ser chamado de "meio-evangelho", mas que, na realidade, virtualmente nega o verdadeiro evangelho. Cristo é incluído, mas tão-somente como um contrapeso. Que Cristo satisfez vicariamente a cada exigência que Deus impõe àqueles que crêem é uma bendita verdade; mas isso é apenas metade da verdade. O Senhor Jesus não apenas satisfez, em favor de Seu povo, os requisitos da justiça divina, mas igualmente assegurou que Seus discípulos os satisfariam pessoalmente. Cristo garantiu-nos o Espírito Santo, o qual opera em nós aquilo que o Redentor fez por nós.
O grandioso e glorioso milagre da salvação consiste do fato de que os salvos são regenerados. Há um trabalho de transformação operado neles. Seu entendimento é iluminado, seus corações são modificados e sua vontade é renovada. São feitos "novas criaturas", conforme se aprende em II Coríntios 5:17. Deus tece comentários sobre esse milagre da graça sob os seguintes termos: "Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as inscreverei; e Eu serei o Seu Deus e eles serão o Meu povo" (Hebreus 8:10). A partir daí o coração se inclina para a lei de Deus: certa disposição foi transmitida ao coração que corresponde às exigências da lei; há um desejo sincero de executá-la. Por essa razão também é que a alma vivificada pode dizer: "Ao meu coração me ocorre: Buscai a Minha presença; buscarei, pois, SENHOR, a Tua presença" (Salmo 27:8).
Cristo não apenas prestou obediência perfeita à lei, visando à justificação de Seu povo, que nEle confia, mas também mereceu para eles aqueles suprimentos de Seu Santo Espírito que são essenciais para a santificação deles, e que é a única coisa que pode transformar criaturas carnais, capacitando-as a prestar obediência aceitável a Deus. Embora Cristo tenha morrido a seu tempo pelos "ímpios" (Romanos 5:6), e embora Ele os ache ímpios (Romanos 4:5), contudo, quando os justifica, não os abandona nesse estado abominável. Pelo contrário, ensina-lhes com eficácia, pelo Seu Espírito, a negarem a impiedade e as paixões mundanas (ver Tito 2:12). Assim como não se pode separar uma pedra de seu próprio peso, e nem o fogo ser separado de seu calor, assim também não se pode separar a justificação da santificação.
Quando Deus realmente perdoa a um pecador, no tribunal de sua consciência, e sob o senso daquela graça admirável, o coração é purificado, a vida é retificada e o indivíduo inteiro é santificado. "...Cristo Jesus ... a Si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente Seu, (não descuidado e indiferente, mas) zeloso de boas obras" (Tito 2:14). Tal como uma substância é inseparável de suas propriedades, ou como as causas e seus efeitos necessários não se podem separar, assim também a fé salvadora e a obediência consciente a Deus são inseparáveis. Por isso mesmo é que lemos acerca da "...obediência por fé...", em Romanos 16:26.
O Senhor Jesus disse de certa feita: "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama..." (João 14:21). Nem no Antigo Testamento, nem nos Evangelhos e nem nas Epístolas Deus reconhece que alguém O ama, exceto aqueles que observa as Suas ordens. Pois o amor inclui algo mais que meros sentimentos e emoções; antes, é um princípio em ação, que se expressa em algo mais do que melosas expressões de afeto, já que se manifesta por meio de atos que agradam ao objeto amado. "Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos..." (I João 5:3).
Oh, meu prezado amigo, você estará se enganando a si mesmo se pensa que ama a Deus, mas, no entanto, não tem o profundo desejo de obedecer ao Senhor e nem faz qualquer esforço real de andar obedientemente perante Ele!
Porém, do que consiste a obediência a Deus? Consiste em muito mais do que na realização mecânica de certos deveres. Talvez eu tenha sido criado por pais crentes, e sob a educação dada por eles tenha adquirido certos hábitos morais; no entanto, minha abstenção de não tomar o nome do Senhor em vão e de não furtar, pode não ser devido à minha obediência consciente ao terceiro e ao oitavo mandamentos. Pois, uma vez mais dizemos que a obediência a Deus consiste de muito mais do que nos amoldarmos à conduta normal de Seu povo.
Talvez eu esteja em um lar onde o descanso semanal é estritamente observado; e então, por motivo de respeito aos demais, ou então porque eu penso que é bom e sábio descansar nesse dia, talvez eu me refreie de todo o labor desnecessário naquele dia; mas nem por isso estarei observando o quarto mandamento, de modo algum! Pois a obediência não consiste apenas da sujeição a algum preceito externo, mas consiste em render eu a minha vontade à autoridade de outrem.
Por conseguinte, a obediência a Deus depende do reconhecimento, vindo do coração, de que Deus é o Senhor, de que Ele tem o direito de determinar, e de que o meu dever é anuir. Obedecer é sujeitar totalmente a alma ao jugo bendito de Cristo. Aquela forma de obediência que Deus requer só pode proceder de um coração que O ama. "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens..." (Colossenses 3 :23).
A obediência que se origina do temor do castigo é uma obediência servil. Aquela obediência prestada a fim de obter favores da parte de Deus é egoísta e carnal. Mas a obediência espiritual e aceitável é prestada com alegria: trata-se da livre reação favorável do coração agradecido pela consideração e pelo amor desmerecidos de Deus por nós.
4. Tiramos proveito da Palavra quando percebemos que não somente temos o dever obrigatório de obedecer a Deus, mas também quando em nós se cria o amor pelos Seus mandamentos.
O homem "bem-aventurado" é aquele cujo prazer "...está na lei do SENHOR..." (Salmo 1:2). E noutra passagem lemos: "Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR, e se compraz nos seus mandamentos" (Salmo 112:1). Nossos corações são verdadeiramente provados quando enfrentamos com honestidade a seguinte pergunta: Dou realmente valor aos "mandamentos" de Deus, tanto quanto dou valor às Suas promessas? E não deve ser essa a minha atitude? Não há o que duvidar de que assim deva ser, pois tanto uma coisa como a outra verdadeiramente procedem do Seu amor. A anuência do coração, ante a voz de Cristo é o fundamento de toda a santidade prática.
Neste ponto desejamos também rogar intensa e amorosamente ao prezado leitor que dê toda a atenção a este detalhe. Todo o indivíduo que se considera salvo, mas que não tem amor genuíno pelos mandamentos de Deus, na realidade está se iludindo a si mesmo. Declarou o salmista: "Quanto amo a tua Lei!" (Sal. 119:97). E novamente: "Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro refinado" (Sal. 119:127).
E se porventura alguém objetar que assim acontecia durante o tempo do Antigo Testamento, então lhe perguntamos: ''Supõe o amigo que o Espírito de Jesus produz uma transformação inferior, nos corações daqueles que Ele agora regenera, à que fazia nos corações dos antigos crentes?" Na verdade, um santo do Novo Testamento registrou: "...no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Romanos 7:22). Ora, meu prezado leitor, a menos que o seu coração se deleite na "lei de Deus", algo de radicalmente errado estará ocorrendo consigo; sim, é realmente de temer-se que você esteja espiritualmente morto.
5. Um homem tira proveito da Palavra quando o seu coração e a sua vontade cedem diante de todos os mandamentos de Deus.
A obediência parcial nem pode ser reputada como obediência. A mente santa declina do tudo aquilo que é proibido por Deus, e prefere praticar o que Ele requer, sem fazer qualquer exceção. Se as nossas mentes não se submetem a Deus, em todos os Seus mandamentos, então é que não nos submetemos à Sua autoridade em qualquer coisa que Ele nos determina. Se não aprovamos a totalidade de nossos deveres cristãos, de todo o coração, então estaremos grandemente equivocados se imaginarmos que temos qualquer prazer com qualquer porção dos mesmos. O indivíduo que não possui em si mesmo qualquer princípio de santidade, ainda assim pode sentir repulsa por muitos vícios e ser praticante de muitas virtudes, pois percebe que os primeiros não são atos apropriados e que estas últimas, por si mesmas, são ações convenientes; todavia, a sua desaprovação aos vícios e a sua aprovação às virtudes não se originarão de qualquer disposição de submeter-se à vontade de Deus.
A verdadeira obediência espiritual é imparcial. O coração renovado não seleciona e nem escolhe entre os mandamentos de Deus: o indivíduo que age dessa maneira não procura cumprir a vontade de Deus, mas a sua própria. Não nos equivoquemos quanto a esse particular – se não desejamos sinceramente agradar a Deus em todas as coisas, então na realidade não desejamos agradá-Lo em qualquer coisa.
Precisamos renegar ao próprio "eu"; não renegar meramente algumas das coisas que antes desejáramos, mas ao próprio "eu"! Se permitirmos voluntariamente a presença de qualquer pecado conhecido, isso quebrará a lei inteira, conforme nos define a passagem de Tiago 2:10,11. "Então não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos" (Salmo 119:6). Declarou o Senhor Jesus: "Vós sois meus amigos, se fazeis o que Eu vos mando" (João 15:14). Ora, se porventura eu não for amigo de Cristo, então terei de ser Seu inimigo, porquanto não há uma terceira alternativa (ver Lucas 19:27).
6. Tiramos proveito da Palavra quando nossa alma é impelida a orar intensamente pedindo a graça capacitadora.
Quando da regeneração, o Espírito Santo nos transmite uma tendência que se inclina para a obediência de acordo com a Palavra de Deus. O coração ó conquistado por Deus. Há um novo e profundo desejo de agradar ao Senhor. Mas a nova inclinação não possui qualquer poder inerente a si mesma, e a velha natureza, também chamada de "carne", se esforça contra ela, sem falarmos nas oposições do diabo. Por isso é que o crente pode exclamar: "...o querer o bem está em mim; não, porém o efetuá-lo" (Romanos 7:18).
Isso não significa que o crente seja escravo do pecado, conforme era antes de sua conversão, mas significa que agora ele não sabe como cumprir plenamente as suas aspirações espirituais. Por essa razão é que ora: "Guia-me pela vereda dos Teus mandamentos, pois nela me comprazo" (Salmos 119:35). E novamente: "Firma os meus passos na tua Palavra; e não me domine iniqüidade alguma" (Salmo 119:133).
Nesta altura, poderíamos replicar a uma objeção que as declarações feitas acima mui provavelmente levantaram em muitas mentes: O pregador está afirmando que Deus requer perfeita obediência de nossa parte, nesta vida? E a nossa resposta é: Sim! Deus nunca Se satisfará com qualquer padrão inferior a esse (I Pedro 1:15). Nesse caso, o verdadeiro crente está à altura desse elevadíssimo padrão? Sim e não! Sim, em meu coração; e é para o coração que Deus olha (I Samuel 16:7). No seu coração, cada pessoa regenerada tem verdadeiro amor pelos mandamentos de Deus, e deseja genuinamente observar a todos eles, completamente. É nesse sentido, mas somente nesse, que o crente é experimentalmente "perfeito''. A palavra "perfeito", tanto no Antigo Testamento (Jó 1:1 e Salmos 37:37) como no Novo Testamento (Filipenses 3:15), quer dizer "reto", "sincero", em contraste com "hipócrita".
"Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás" (Salmos 10:17). Os "desejos" dos santos são a linguagem de sua alma; e a promessa divina, feita a eles, é a seguinte: "Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes ao clamor e os salva" (Salmos 145:19). O desejo do crente é obedecer a Deus em todas as coisas, conformar-se inteiramente à imagem de Cristo. Mas isso só se concretizará quando por ocasião da ressurreição. Entrementes, por amor a Cristo, Deus aceita graciosamente a vontade dos crentes, em lugar de seus feitos não realizados (I Pedro 2:5). Deus conhece os nossos corações e vê nos Seus filhos um amor genuíno e o desejo sincero de observar todos os Seus mandamentos; e aceita os anelos fervorosos e o esforço cordial, em lugar de uma realização exata (II Coríntios 8:12).
Porém, que todo aquele que vive em desobediência voluntária não extraia desse fato uma paz falsa e perversa, porquanto isso contribuiria somente para a sua própria destruição, ao passo que serve para o consolo daqueles que, de todo o coração, desejam cumprir a vontade de Deus, agradando-O em todos os detalhes de suas vidas.
E se alguém indagar: "Como é que saberei que os meus desejos realmente são os desejos de uma alma regenerada?", nossa resposta será: A graça da salvação transmite ao coração uma disposição habitual na direção de atos santos. Os "desejos" do leitor devem ser testados como segue: São eles constantes e contínuos, ou obedecem a impulsos e interrupções? São eles intensos e sérios, de tal modo, que têm fome e sede de justiça (Mateus 5:6) e "suspira" pelo Deus vivo (Salmo 42:1)? Esses desejos são operantes e eficazes? Muitos desejam escapar do inferno; mas seus desejos não são suficientemente fortes para que abominem aos seus pecados, abandonando-os, os quais, inevitavelmente, os conduzirão ao inferno, a saber, os pecados voluntários contra Deus.
Muitos desejam escapar do inferno; mas seus desejos não são suficientemente fortes para que abominem aos seus pecados, abandonando-os, os quais, inevitavelmente, os conduzirão ao inferno, a saber, os pecados voluntários contra Deus. Muitos outros desejam ir para os céus, mas não intensamente que entrem naquele "caminho estreito" e por ele sigam, sendo esse o único caminho que conduz aos lugares celestiais. Os autênticos "desejos" espirituais usam os meios da graça e não poupam esforços por obter a concretização deles, mas pressionam continuamente, sob oração, na direção do alvo proposto.
7. Tiramos proveito da Palavra quando, desde agora, já desfrutamos da recompensa da obediência.
"A piedade para tudo é proveitosa..." (I Timóteo 4:8). É por intermédio da obediência à Palavra que purificamos as nossas próprias almas (I Pedro 1:21). É por meio da obediência que obtemos a atenção dos ouvidos de Deus (I João 3:22). Por outro lado, a desobediência é uma barreira para as nossas orações (Isaías 59:2 e Jeremias 5:25). Através da obediência obtemos preciosas e íntimas manifestações de Cristo para a nossa alma (João 14:21). Se estivermos palmilhando a senda da sabedoria (em completa sujeição a Deus), então descobriremos que "Os seus caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas paz" (Provérbios 3:17). "...os Seus mandamentos não são penosos" (I João 5 :3). ''Muita paz tem os que guardam a Tua lei'' (Salmo 119:165) e "...em os guardar há grande recompensa" (Salmos 19:11).