Texto: Marcos 1.16-20
(// Mt 4.18-22; Lc 5.1-11)
16 Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.
17 Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
18 Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.
19 Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes.
20 E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus.
Intr.: * A descrição é permeada por uma sensação de recordação pessoal.
*Marcos possivelmente ouvira muitas vezes esta história dos lábios do próprio Pedro.
* A vida é feita de momentos, e há momentos que marcam indelevelmente a nossa existência. Aqui temos o registro de um destes momentos que marcaram a vida daqueles homens, não somente nos seus dias, mas por toda a história da humanidade (eis nós aqui falando sobre este momento na vida deles) e por toda a eternidade (o projeto de vida que se iniciou com a resposta positiva ao chamado de Jesus tem complicações eternas).
Transição: A descrição tem seu inicio com o caminhar de Jesus às margens do Mar da Galiléia (ou Lago de Tiberíades, como Lucas o chama). Na ótica dos discípulos que narram o fato, Jesus andava como que despretensiosamente... até que seus olhos se fixaram em homens que lançavam suas redes ao mar.
Quero convidar você para entrarmos nesta história. Ela fala de pescadores num dia comum, fazendo coisas comuns... mas acima de tudo nos chama para vislumbrar nossa própria história, seus dilemas, desafios e propósitos.
O texto nos fala de necessidades e prioridades, fala de deixar coisas em função de um novo projeto de vida. Fala de mudança de vida. Mudança radical. Mudança que envolve decisões, envolve esperança, envolve sonhos.
A questão que deve chamar-nos atenção é: porque estes homens seguiram a Jesus? O que este ato significou para as suas vidas? O que este homem Jesus tinha em seu olhar e em seu chamado que faz com que outros homens não apenas o ouçam, mas tomem uma decisão tão impressionante?
O que ele disse, qual seu argumento, qual sua promessa, o que ele oferece que os faz tomar tal decisão?
Logo aqui nós já somos surpreendidos.
Ele não oferece nada, a não ser uma missão. Ele não persuade com argumentação, mas com um chamado para estar com ele.
Parece-me que neste nosso tempo as pessoas têm alguma dificuldade com um Jesus assim tão, digamos, simples.
Jesus precisa vir sempre com algo mais. Jesus e minha cura. Jesus e a minha prosperidade. Jesus e meu êxito. Algo que literalmente me fascina nos evangelhos é que Jesus é suficiente, e estar com ele é o suficiente. Ele é tudo, absolutamente tudo.
Quando Lucas relatou este mesmo momento na vida destes 4 pescadores (E eu, ainda que alguns estudiosos não concordem, acredito que seja o mesmo momento). O fez acrescentando alguns detalhes que Marcos achou que não eram tão importantes para a narrativa. (Leiamos Lucas 5.1-11).
As duas narrativas juntas lançam luz sobre este momento. A presença de Jesus de alguma forma sobrenatural os atingiu, os deixou maravilhados, e eles o seguiram. Ambos os evangelhos relatam que deixaram tudo. Jesus é SUFICIENTE!
Nota: O deixaram tudo, não significa abandono da propriedade (não neste caso), mas de uma nova missão. Marcos 1.29, relata que Jesus, com Tiago e João vão para a casa de André e Pedro, após Jesus ter libertado um homem possesso dentro da Sinagoga de Cafarnaum.
Li esta semana um trecho de um livro que me impactou e me fez pensar:
“Estou cada vez mais convencido de que Jesus não veio começar outra religião ou competir no mercado religioso. Creio que ele veio extinguir o padrão de competitividade religiosa (que Paulo chamou de “lei”) ao cumpri-lo. À luz disso, embora eu não espere que todos os budistas se tornem cristãos (culturais), espero que todos que se sintam chamados se tornem budistas seguidores de Jesus; creio que eles deveriam ter essa oportunidade e receber esse convite. Não espero que todos os judeus ou hindus se tornem membros da religião cristã. Mas espero que todos os que se sentirem chamados se tornem judeus ou hindus seguidores de Jesus. Finalmente, espero que Jesus salve o budismo, o islamismo e todas as outras religiões, incluindo a religião cristã, que na maioria das vezes parece carecer tanto de salvação quanto qualquer outra religião. (Nesse contexto, desejo que todos os cristãos se tornem seguidores de Jesus, mas talvez seja pedir demais)”. (Uma Ortodoxia Generosa, Brian McLaren).
Dentre as muitas lições que este texto tem para a minha vida e a sua vida, é que o mesmo Jesus continua caminhando em direção à sua vida e à minha vida. Seu olhar em nossa direção e o seu chamado continua fazendo toda a diferença.
E ele não vem com argumentos. Nós gostamos muitos deles, e os usamos muitos. Jesus não. Deus prefere convencer-nos com a sua presença do que com seus argumentos, ainda que ele não os ignore, haja vista que por ser Deus detém não somente os melhores argumentos (e os usa quando necessário), mas todo o conhecimento.
Pedro e André, Tiago e João estão prontos? Preparados?
Esta é outra boa lição que precisamos aprender deste texto. A vida cristã é um projeto de vida, e neste projeto de vida vamos sendo talhados, preparados e moldados pela presença de Jesus.
Pedro não está pronto. Os evangelhos deixam claro que Pedro nos próximos anos será um aluno difícil nesta escola. Interpreta muitas coisas de forma equivocada; muitas vezes responde as questões de maneira errada e na hora da prova, prefere sair pela tangente que enfrentar ser contado entre os seguidores de Jesus.
Os detalhes de Pedro relatados nos evangelhos, são para exemplificar... Os outros 11 não foram melhores.
Basta lembrarmo-nos dos outros dois irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, que utilizaram de sua mãe para se assentarem ao lado de Jesus no Reino político que eles erroneamente pensavam que ele inauguraria.
Eis aqui um princípio da fé cristã que não podemos deixar passar despercebido: Jesus nos chama para estar com ele, e é somente nesta relação de intimidade e obediência que vamos sendo preparados... Na faculdade do discipulado cristão nem um aluno recebe o diploma de forma antecipada!
Rev. Ézio Lima