Hoje está se dando uma batalha das togas. Uma lei, questionada por um católico, então na qualidade de Procurador Geral da República, levou o assunto ao STF. O assunto suscitou polêmicas e muita tinta foi usada para defender o uso dos embriões em pesquisas para células-tronco. O embate maior se dá em dois campos, ambos togados. De um lado os togados (ainda que chamem suas togas de batina) que defendem o direito divino, o outro, também togado, que defende a compreensão humana do direito.
O primeiro acredita ter a verdade por conhecer os desígnios de Deus e entender exatamente quando a vida começa. O segundo acredita entender as vicissitudes e poder responder às necessidades humanas de forma mais pragmática. O primeiro grupo, baseado no direito divino, defende a vida desde uma ética de princípios e deontológica. O segundo, trabalha a ética de resultados.
O primeiro tem seus argumentos baseados na Bíblia, na tradição e no consenso eclesiásticos. O segundo baseia sua decisão em outra Bíblia, a Constituição e os Códigos legais. O primeiro se reúne em sessões litúrgicas em templos sagrados ou em conchavos nos jardins e corredores episcopais. O segundo se reúne em templo também sagrado, onde só iniciados e qualificados têm acesso. O primeiro é formado por profissionais religiosos de saber reconhecido, carreira longa e idade compatível para a responsabilidade do cargo, todos nomeados a dedo pelo papa. O segundo tem as mesmas características e também são nomeados a dedo pelo Presidente da República. O primeiro é formado exclusivamente por homens, o segundo tem a vantagem de ter uma mulher na sua composição.
Não posso ser expectador nesta batalha.. Como membro de uma igreja de tradição anabatista e crendo na separação da Igreja e do Estado, não posso aceitar que sejamos regulados civilmente por leis de concepção religiosa. Se o princípio religioso é superior, ele se imporá socialmente pela adesão voluntária dos cidadãos.
Na história da humanidade a Igreja já se colocou várias vezes de forma contrária aos avanços da ciência e, com o passar dos anos, teve que rever seus posicionamentos. A evidência científica refez o discurso religioso. Houve quem dissesse que biblicamente era impossível o homem colocar os pés na lua, que a terra era o centro do sistema, etc.
Como humanos fomos beneficiados pelo avanço da ciência médica, do avanço na manipulação genética das sementes, na seleção de melhores espécies animais, podendo até comer chester no Natal.
Uma pergunta tenho que não quer calar: é justo decretar a destruição de embriões com vida potencial e não usar isto para beneficiar e dar vida plena a quem necessita destas terapias? É justo decretar a morte da alegada vida dos embriões e não permitir que outras vidas, limitadas por problemas de saúde, possam viver mais dignamente?
Eu sou a favor do uso dos embriões para a salvação de vidas. Negar isto é matar duas vezes: o embrião e sua alegada vida e a vida dos enfermos que perdem a chance de ter uma cura ou paliativo para suas limitações e enfermidades.
Marcos Inhauser