A Escola do Contentamento... (Parte II)
“(...) aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp. 4.11).
Contentamento bíblico não pode ser confundido com acomodação. Paulo era um homem contente, mas não um homem conformado com a fatalidade. Ele era dirigido pela soberania graciosa de Deus e não pela estupidez desvairada de um destino inevitável. Destino, aliás, como escreveu Ambroise Bierce: “é uma palavra que os tolos inventaram para justificarem seus fracassos”.
Somente aquele que vive na dimensão da suprema vontade de Deus, e nunca pelo acaso vulgar e azarento da sina, pode regozijar-se tanto nos aplausos do êxito, como no luto da calamidade.
O contentamento não estar aprisionado ao conformismo de uma conjuntura rígida, ou à ilusão de um desejo que nunca será alcançado. Contentamento é, antes de tudo, a descrição daquele que olhando para dentro de si mesmo, vê a fonte de sua satisfação na suficiência de Cristo, que reside em seu interior, de modo que não precisa depender de subterfúgios.
No texto de Filipenses 4.11 Paulo expressa que “aprendeu a viver contente”. Isso significa que houve um tempo que ele não era tão contente assim. A palavra, no grego, tem um sentido de aprender por experiência, logo, o seu contentamento espiritual não era algo que tivesse experimentado desde a sua conversão. Ele precisou passar por alguns testes severos, suportando situações críticas a fim de aprender as lições do contentamento. Ninguém aprende viver contente em qualquer circunstância, sem passar pelos lances mais contrastantes e absurdos, tanto na fartura como na penúria.
Creio que três princípios podem levar-nos à aprovação na escola do contentamento.
1) A pessoa contente executa o seu serviço sob o fundamento da glória de Deus. Não há nada pequeno em Deus e não há glória capaz de engrandecê-lo. Quando alguém busca o seu próprio resplendor naquilo que faz, corre o risco de se envaidecer com sua realização, se houver sucesso, e de se deprimir, se houver fracasso. Ninguém pode ficar contente entre o brilho afetado do êxito e a sombra cruel do insucesso. Sendo assim, a grande alternativa do espírito jubiloso é executar todas as coisas para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31). Aqui não há o perigo da desolação.
2) O caminho de uma pessoa feliz é demarcado pelo perímetro ilimitado do amor. O dever leva-nos a fazer as coisas com esmero, mas o amor leva-nos a fazê-las com a excelência do entusiasmo. A pessoa contente vai muito além do capricho, quando se dedica com afeto àquilo que realiza. Lawrence P. Jacks disse: “ninguém saberá o que você quer dizer quando fala que Deus é amor se você não agir segundo o que fala”. O cristão contente é aquele que se contenta fazendo o seu trabalho com amor (1 Coríntios 16:14). Aqui não há a ameaça da amargura.
3) O outro princípio do contentamento cristão é a atividade destituída de reclamações e discórdias. Há muita gente que faz muita coisa, mas o que faz vem contaminado com o veneno das queixas. As lamentações roubam a alegria no cumprimento da missão e as competições deixam vazar o bom humor em qualquer empreitada. Com certeza, o maldizente é um participante efetivo no coral do inferno, pois nada se assemelha tanto à musica entoada pelo diabo e seus anjos como o tom torturante da lamúria (Filipenses 2:14-15). Aqui não há a tortura do aborrecimento.
Todos aqueles em que a cruz de Cristo deixou suas impressões no caráter, sempre vão transbordar seu contentamento, aprendido através das marcas dos cravos esculpidas pela fé. Ninguém pode viver mais contente do que os co-crucificados e regenerados na ressurreição pela graça em Cristo. Aqueles que estão satisfeitos com a suficiência de Cristo, embora tenham tribulações, tropeços e transtornos não deixam de expressar o seu contentamento por terem sido aceitos cabalmente pela graça do evangelho. Um cristão que não aprende a contentar-se em todas as ocasiões acaba injuriando o seu Salvador e difamando a sua salvação. Por isso contentai-vos... “Regozijai-vos sempre”. 1 Tessalonicenses 5:16
No amor dAquele que nos amou primeiro,
Rev. Ézio Martins de Lima
Ps. Quanto ao tema do contentamento cristão recomendo a leitura do livro do Dr. John Piper: ‘Teologia da Alegria: a plenitude da satisfação em Deus’, Shedd Publicações, 2001.