sexta-feira, setembro 14, 2012

A vocação de ser igreja



Rejeitei a igreja durante algum tempo porque encontrei bem pouca graça ali. Voltei porque não descobri graça em nenhum lugar.
(Philip Yancey)
O chamado para viver seguindo a Cristo (ser discípulo) é acompanhado do chamado para viver na comunhão dos discípulos. A salvação é individual (isto é, cada um é chamado individualmente por Cristo), mas a vida cristã se desenvolve/cresce no contexto da comunidade dos discípulos, a igreja, o povo de Deus. A vocação para ser de Cristo é sempre acompanhada pela vocação de ser igreja.
Relacionar-se, contudo, não é fácil. Não é preciso ensinar uma criança a ser egoísta/individualista, mas é preciso disciplina para provocar o convívio harmônico e a partilha. Sem a graça de Deus e o fruto do Espírito Santo continuamos repetindo este modelo por toda a vida...
A Bíblia nos fala que igreja (a comunhão dos vocacionados), não é nem instituição, nem o prédio (templo), nem uma organização (empreendimento, empresa ou comércio de fé). Igreja é organismo, é gente. Gente que foi chamada por Cristo para ser o “seu povo”, “a sua família”, “o seu corpo”, “o seu rebanho”. Desta forma, uma comunidade cristã nada mais é do que o ajuntamento daqueles que, conscientes de suas enfermidades físicas, emocionais e espirituais, se rendem ao amor de Deus oferecido na cruz, crendo que Jesus é o único capaz de, ao longo de suas histórias, resgatar suas vidas e suas relações. Em outras palavras, a igreja é uma comunidade de pessoas em processo de cura, mas ainda enfermas; santificadas, sim, mas ainda enfrentando diariamente a tentação de “cair em pecado”. Por isso, a única forma de viver uma experiência comunitária rica e saudável ao longo da caminhada cristã é fazendo uso da graça.  Somente a graça nos capacita a olhar para o outro (e para nós mesmos) sob a perspectiva de Deus.
A procura, portanto, por uma igreja perfeita, sem problemas e pronta é inútil.  A busca precisa ser outra. Nesta comunidade que se reúne em nome de Cristo, a Palavra de Deus é estudada (e pregada) com fidelidade? A verdade do evangelho tem provocado o desejo de amar e servir a Deus e ao próximo? Deus é realmente o “centro”, “a atenção”? Seus “líderes” estão se autopromovendo ou Deus é que tem sido glorificado? Os recursos financeiros estão servindo para enriquecimento de “pessoas” ou estão servindo ao propósito da propagação do Evangelho? Há prestação de contas destes recursos? Cristo é realmente o único salvador ou tem alguma outra coisa (qualquer que seja) quem tem sido colocada ao seu lado (ou acima dEle)?
Uma forma de viver a religião é não se comprometer com coisa alguma e com ninguém, fechar-se num egoísmo de vida em que tudo se resume ao “próprio umbigo”, utilizar-se da religião para a satisfação dos desejos e ambições pessoais e tentar aplacar a culpa com rituais de sacrifício. Mas os cristãos, impactados pela verdade do Evangelho de Jesus Cristo, habitados e cheios do Espírito Santo, sabem que só há um jeito de viver a vida cristã: é não evitar o desafio de crescer e contribuir para o crescimento no espaço que a graça propicia, na vocação de ser igreja!

No amor dAquele que nos amou primeiro,
Ézio Lima, rev.