sexta-feira, julho 28, 2006

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam”

(Atos 4.32)

Há três palavras neste versículo de Atos dos Apóstolos que me fizeram refletir por um bom espaço de tempo e me levaram a orar diante de Deus para que elas sejam também a realidade da nossa amada IPI do Brasil e, de forma específica, a realidade da IPI Central de Brasília.

“Um o coração e a alma apontam para o equilíbrio que devemos buscar entre a razão e emoção. Vivemos num momento complexo da história da humanidade! É característico do mundo denominado “pós-moderno” que o eixo do conhecimento se deslocou da razão para o coração. Da cabeça para o sentimento. Do intelecto para a emoção. Temos caminhado mais e mais para uma sociedade cujo deus que a controla é a emoção. “O que eu sinto”, e ainda mais especificamente “o prazer que eu sinto”, determina as decisões em todas as áreas da vida.

Não podemos ignorar as emoções! Precisamos delas! No entanto, precisamos também da razão! A igreja neste nosso tempo precisa saber unir razão e emoção, o intelecto e o coração.

Há um Cristianismo que é só cabeça. É só pensamento. É só idéia. É só teologia. Mas que não tem vísceras. Não tem entranhas. Não tem sentimento. Não tem coração. John Stot chamou este cristianismo, e estes cristãos, de cristianismo de girinos e cristãos girinos. Girinos têm cabeça grande e corpo minúsculo. É só cabeça. Assim, há um cristianismo que é só cabeça, sem entranhas.

Por outro lado, há um cristianismo que é só vísceras. Só entranhas. Só emoção. Só coração. As pessoas são capazes de delírios arrebatadores. De manifestações fanáticas. De uma fé febril. Mas são incapazes de uma expressão mais refletida, mais aprofundada, mais crítica das verdades espirituais e das verdades do evangelho.

Só a combinação entre razão e coração, mente e emoção, intelecto e paixão, verdade e lágrimas, é que pode fazer a verdadeira igreja. Não devemos ser nunca tão emocionais que nunca cheguemos a pensar e não tão intelectuais que nunca cheguemos a sentir.

Devemos nos acautelar de uma teologia sem devoção, isto é, razão sem coração. E de uma devoção sem teologia, ou seja, de um coração sem razão.

A segunda palavra que me chama atenção no texto é “multidão”. Multidão tem haver com quantidade. Devemos corar de vergonha quando o assunto é crescimento numérico! Devemos dobrar nosso joelho e clamar que Deus tenha misericórdia de nós e nos capacite com poder do alto para que vivamos a qualidade que gera quantidade. Precisamos pedir a Deus que nos quebre em nosso orgulho para que aprendamos a dizer: “Senhor, sem Ti nada podemos fazer” (João 15.5). “Sem Ti, Senhor, não sabemos pregar, testemunhar, orar.... Por isso, precisamos de Ti”

Rev. Abival Pires escreveu certa feita que “Nós precisamos derrubar o mito, o mito de que nós temos que escolher entre quantidade e qualidade; o mito de que qualidade e quantidade são excludentes entre si. O fato é que há aqueles que querem justificar a falta de crescimento da Igreja apelando para a qualidade. Ah! Nós somos poucos, mas nós temos qualidade! Nós somos pequeninos, mas olha a nossa qualidade! O que interessa é a qualidade”. Por outro lado, escreveu ele: “ (...) há aqueles que, em nome da quantidade, sacrificam a qualidade e dizem: ‘se quisermos ter esta multidão, precisamos sacrificar a qualidade’. Esta é uma eclesiologia vesga. Temos que desejar ambas. Temos que buscar ambas”.

Quantidade tem haver com o numero de discípulos que a Igreja consegue produzir, e qualidade é o tipo de discípulo que esta Igreja produz, através do seu ministério e da sua atuação.

Precisamos de uma qualidade que atraia a quantidade. Pessoas são atraídas para Igreja pela qualidade. Qualidade da evangelização, do ministério, da pregação, da comunhão, do serviço, do ensino, do discipulado, da liturgia, do louvor, das orações... Esta igreja há da atrair multidões para o reino de Deus.

A Igreja primitiva casava qualidade e quantidade. No texto que nós lemos, eles adoravam. E como adoravam. Com fervor. Com vigor. Com poder. Adoravam com vigor, com poder. Ministravam com vigor, com poder. Evangelizavam com vigor, com poder. Oravam com vigor, com poder. Comungavam com vigor e com poder.

Mas, esta Igreja de profunda qualidade espiritual era também a Igreja da quantidade.

Que nestes dias de celebração do 103o aniversário da IPI do Brasil, oremos de forma ainda mais efetiva para que Deus derrame da Sua graça e poder sobre nós, a fim de que a realidade descrita neste versículo de Atos seja também a nossa!

Rev. Ézio Martins de Lima