terça-feira, novembro 27, 2007

Igreja dispensável...


Não muito raramente sou questionado sobre a real necessidade da igreja. Às vezes o questionamento é direto: “pastor, não estou indo à ‘igreja’, mas estou lendo a Bíblia e orando em casa...”, e acompanhado de um sorriso ‘meio sem graça’ vem o arremate: “Mas não deixei de buscar a Deus, não, pastor!”. Outras vezes, contudo, o questionamento é indireto e sutil. A pessoa não comparece às “atividades da igreja’ e utiliza-se de um amontoado de justificativas (aliás, sempre encontramos uma ‘boa justificativa’ para não fazer aquilo que consideramos não muito importante...), ou ainda diz, meio sem graça, achando que o pastor vai ficar magoado: “ultimamente, pastor, tenho visitado outra igreja...”.
Cada uma destas estas situações reflete a compreensão que se tem sobre a igreja. Vejamos:
1) “A igreja é legal, e eu até vou lá de vez em quando!”
Esta compreensão é verdadeira, claro, mas é incompleta. A igreja é mesmo ‘legal’. É claro que há problemas nela, afinal eu e você estamos nela (e espero que você não me deixe sozinho nisso de reconhecer que não somos perfeitos!). O problema com esta compreensão é que se concebe a igreja como lugar aonde se vai como um mero participante de um evento/momento, e não como a reunião do povo de Deus, do qual se é integrante/membro. Neste caso, pode-se prescindir, dispensar, a igreja. Ela é ‘legal’, mas é dispensável!
2) “Eu gosto da igreja, mas estou sem tempo... A vida está tão corrida!”
É verdade. A vida ‘está mesmo corrida’. Não sei como ainda não surgiu um abaixo-assinado com o propósito de acrescentar ao dia, pelo menos, umas 2 horas. Já pensou um dia de 26 horas? Quem sabe podemos ir além e fazer uma campanha pra tornar mais lento o movimento de Translação da Terra. Ao invés de 365,3 dias (o tempo que a Terra gasta em seu movimento, de oeste para leste, em volta do Sol), talvez o ideal fosse 495,4 dias. Poderíamos, assim, optar: 30 dias a mais no ano ou o dia de 26 horas. Você se sentiu cansado só de pensar? Eu também! Sejamos bem sinceros: deixamos de nos reunir com o povo de Deus, para adorá-Lo e crescer na comunhão dos santos, por falta de tempo?
3) “Tenho visitado algumas igrejas para buscar a ‘minha bênção’.
Esta compreensão sobre a igreja é miúda, tacanha e pueril. A igreja deixa de ser comunidade, na qual se envolve e pela qual se torna também responsável, e se torna um evento ausente de qualquer tipo de relacionamento, no qual o propósito é reduzido à bênção que se quer alcançar. Nestas circunstâncias não se é um ‘membro da igreja de Cristo’, mas sim ‘consumidor de bênçãos’.
Creio que Deus usa pessoas com dons específicos para abençoar nossas vidas. Creio, contudo, que os dons e as bênçãos pertencem a Deus, e Ele não torna suas bênçãos circunscritas a nenhuma pessoa ou lugar em particular. Se você quer a bênção de Deus, mantenha-se fiel, comprometido com a sua Palavra, perseverante na oração, longe da prática contumaz do pecado e dentro da comunhão dos santos. Você pode não receber tudo o que deseja, mas a gloriosa presença do Senhor te fará agradecido em todo tempo por saber e provar que a vontade dEle é sempre boa, agradável e perfeita! Isso é promessa dEle e sobre esta promessa devemos repousar seguros.
Crescimento espiritual é fruto da vida cristã vivida em comunidade, com seus desafios e bênçãos, decepções e alegrias. Crescimento espiritual está diretamente ligado com o relacionamento, envolvimento e compromisso com o corpo de Cristo. Nenhum relacionamento saudável se prova de relance, numa ‘ficada’ de alguns momentos, mas é construído no estar juntos, não apenas quando eu recebo “uma bênção”, mas quando também estou disposto a somar, contribuir e abençoar.
“(....) seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”. (Efésios 4.15-16)

No amor dAquele que não dispensou a igreja, mas a amou e a si mesmo se entregou por ela,

Rev. Ézio Martins de Lima