quinta-feira, maio 23, 2013

RETER O ÓDIO, OU LIBERAR O PERDÃO?

“Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mateus 18.21-35)

Se você está fazendo as contas para saber quantas vezes deve perdoar alguém, é melhor parar. Pedro estava sendo muito generoso ao sugerir que estaria disposto a perdoar alguém até sete vezes. Contudo, Pedro entende o perdão a partir da perspectiva da lei. Pedro está pedindo uma lei a Jesus: “Senhor, estabeleça um critério para o perdão”. Jesus então conta a parábola do “credor incompassível” para explicar a Pedro como o perdão pode ser entendido a partir da perspectiva da graça. (Mateus 18. 23-35).
Em nossa vida sempre seremos atingidos, magoados e decepcionados.
Quem passou pela vida em branca nuvem. E em plácido palácio adormeceu, Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu, Foi espectro de homem –não foi homem, Só passou pela vida –não viveu (Francisco Otaviano).

A questão, portanto, não é como passar pela vida e não sermos vítimas do ódio, mas se vamos retê-lo ou liberar o perdão. A parábola que Jesus nos conta traz lições práticas para entendermos o perdão.
1) Quem não compreende o perdão que Deus concede, nunca aprenderá a perdoar.
A parábola nos conta sobre um homem que fora perdoado de uma dívida impagável, mas não conseguiu perdoar uma dívida insignificante. Quando lemos o texto somos tomados de um sentimento de insatisfação em relação à atitude deste “credor incompassível”. ‘Como alguém que sendo perdoado de uma dívida de 2 milhões de dólares pode ser tão mesquinho e mandar para cadeia alguém que lhe deve tão somente 100 reais?”. Ao lermos a parábola perceberemos que este homem foi perdoado, mas ele não entendeu o perdão. No momento que ele chega diante do rei não pede misericórdia, e, sim, justiça. Ele diz: “Tenha paciência comigo e te pagarei tudo”.
Quem acha que seus méritos podem comprar o perdão de Deus sempre exigirá que outros comprem também o seu perdão. Não há lugar para misericórdia quando não nos reconhecemos incapazes de saldar a dívida.
Quem não compreende que o perdão de Deus é fruto de sua misericórdia, e não pela retidão dos meus atos, nunca irá perdoar aos outros de forma genuína.
2) O que de graça recebemos, de graça devemos dar!
A chave para o verdadeiro perdão é deixar de focalizar o que outros nos fizeram, e começar então a olhar para aquilo que Deus fez e faz por nós. Diante da atitude do “credor incompassível” em não perdoar a pequena divida de seu conservo, o rei, que o havia perdoado da dívida impagável, disse: “Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?” (Mt. 18.32-33).
O perdão que gratuitamente recebemos de Deus, gratuitamente somos desafiados a liberar aos outros. Somos vítimas de amigos que quebram suas promessas, de patrões que não mantêm suas decisões, somos enganados pelas palavras doces, mas que escondem o veneno amargo do egoísmo, somos rejeitados, maltratados... Antes, contudo, de irmos à desforra precisamos ser honestos e reconhecer que também falhamos com as outras pessoas; e não somente isto: falhamos com Deus!
E como o Senhor nos trata?
“Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. (1º João 1.9)
3. Quem não libera o perdão torna-se vítima do próprio ódio
A parábola termina com o veredito do rei em relação à atitude do “credor incompassível”: “E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos torturadores, até que lhe pagasse toda a dívida”.
A maior tortura que aquele que não libera perdão pode sofrer é torna-se vítima do próprio ódio. Aquele que retém o ódio ao invés de liberar perdão acaba tornando-se prisioneiro da raiva, da culpa, da vingança e melancolia.
“Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe?”. “Depende, Pedro! Se você quiser usar a lei, pela lei você também será julgado. Mas se você usar da graça que Deus lhe concede, pela graça é que será julgado. A decisão de perdoar é sua, Pedro. Você pode reter o ódio, esperando justiça, ou liberar gratuitamente o perdão, por entender que foi pela graça que você foi perdoado pelo Pai. Mas se lembre Pedro: como você lida com os outros, retendo o ódio ou liberando perdão, é que vai manifestar como você compreende sua relação com Deus e como você espera que Deus trate suas próprias falhas”.
Que Deus nos abençoe e nos ensine a liberar o perdão que gratuitamente recebemos de Deus!

Rev. Ézio Martins de Lima
(se usar este texto cite o autor e a fonte