“Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possí¬vel, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar, é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma!”
(Guimarães Rosa – Grande Sertões Veredas, p. 22-23)
A fé cristã é uma jornada que não se caminha sozinho. Nossa busca pode até constar de regras espirituais solitárias tais como a oração no quarto secreto (Tameión), a leitura meditativa das Escrituras e a contemplação. Contudo, estou cada vez mais convicto de que Deus “pensou” a igreja como a comunidade de fé na qual os caminhantes se tornam, pela comunhão com Cristo e por sua graça, solidários e, por isso, cooperam mutuamente a fim de manterem a sua atenção em Deus.
Infelizmente muitas vezes nos frustramos nesta caminhada. Qual jornada longa, por sinal, não enfrenta percalços? Alguns perigos da viagem são conhecidos, outros sobressaltam-nos. Desistir da viagem? Não é uma boa escolha quando se tem consciência do destino final, bem como dos benefícios da jornada, ainda que nela não se encontre em todo tempo flores ao longo do caminho.
Como enfrentá-la, então? Certo é que sozinhos quase sempre somos tomados pelo sentimento de auto-suficiência, nos tornamos egoístas – preocupados com nossos sentimentos e voltados para nossos interesses. Logo percebemos (se não nos deixarmos levar também pelo auto-engano) que nossa atenção não está em Deus. E, como Guimarães Rosa colocou nos lábios de Riobaldo: “Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas...”. Necessitamos, pois, de mentores, de mestres e de irmãos e irmãs para retomarmos nossa atenção em Deus, para nos manter sempre atentos à prioridade da palavra de Deus para nós.
Neste processo de voltar novamente a atenção a Deus, todas as dúvidas, os cinismos e as seduções que intervêm e nos quais nos embaraçamos por causa de nossa desatenção têm que ser atendidos. Como enfrentar estes grandes desafios e crescer sem a disposição sincera e determinada de caminhar e se envolver e ser curado, não somente perto ou à margem, mas junto no mesmo caminho?
“Bom amigo, acate em seu coração o que estou lhe dizendo; recolha meus conselhos e os guarde com a sua vida. Afine seus ouvidos com o mundo da Sabedoria; coloque o seu coração em uma vida de Entendimento”. (Provérbios 2.1-2)
No amor dAquele que nos amou primeiro,
Rev. Ézio Martins de Lima