sábado, setembro 20, 2008

VOLTANDO A ATENÇÃO PARA DEUS



“Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possí¬vel, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar, é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma!”

(Guimarães Rosa – Grande Sertões Veredas, p. 22-23)

A fé cristã é uma jornada que não se caminha sozinho. Nossa busca pode até constar de regras espirituais solitárias tais como a oração no quarto secreto (Tameión), a leitura meditativa das Escrituras e a contemplação. Contudo, estou cada vez mais convicto de que Deus “pensou” a igreja como a comunidade de fé na qual os caminhantes se tornam, pela comunhão com Cristo e por sua graça, solidários e, por isso, cooperam mutuamente a fim de manterem a sua atenção em Deus.

Infelizmente muitas vezes nos frustramos nesta caminhada. Qual jornada longa, por sinal, não enfrenta percalços? Alguns perigos da viagem são conhecidos, outros sobressaltam-nos. Desistir da viagem? Não é uma boa escolha quando se tem consciência do destino final, bem como dos benefícios da jornada, ainda que nela não se encontre em todo tempo flores ao longo do caminho.

Como enfrentá-la, então? Certo é que sozinhos quase sempre somos tomados pelo sentimento de auto-suficiência, nos tornamos egoístas – preocupados com nossos sentimentos e voltados para nossos interesses. Logo percebemos (se não nos deixarmos levar também pelo auto-engano) que nossa atenção não está em Deus. E, como Guimarães Rosa colocou nos lábios de Riobaldo: “Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas...”. Necessitamos, pois, de mentores, de mestres e de irmãos e irmãs para retomarmos nossa atenção em Deus, para nos manter sempre atentos à prioridade da palavra de Deus para nós.

Neste processo de voltar novamente a atenção a Deus, todas as dúvidas, os cinismos e as seduções que intervêm e nos quais nos embaraçamos por causa de nossa desatenção têm que ser atendidos. Como enfrentar estes grandes desafios e crescer sem a disposição sincera e determinada de caminhar e se envolver e ser curado, não somente perto ou à margem, mas junto no mesmo caminho?

“Bom amigo, acate em seu coração o que estou lhe dizendo; recolha meus conselhos e os guarde com a sua vida. Afine seus ouvidos com o mundo da Sabedoria; coloque o seu coração em uma vida de Entendimento”. (Provérbios 2.1-2)

No amor dAquele que nos amou primeiro,

Rev. Ézio Martins de Lima

quinta-feira, setembro 18, 2008

orar ou não orar?


"A oração é uma expressão de quem somos".
Thomas Merton

Li e gostei

"O ser humano está tão acostumado a estabelecer e defender sua existência por meio da violência de baionetas, balas, prisões e patíbulos, que tal conjuntura da vida não só lhe parece normal como também a única possível. No entanto, é a defesa do bem comum por meio da violência que impede as pessoas de compreenderem as causas de seus sofrimentos e, conseqüentemente, de se tornarem capazes de estabelecer uma verdadeira ordem".

LEON TOLSTOI

domingo, setembro 14, 2008

Eu cuido muito bem de mim mesmo


Jesus disse: "Ame seu próximo como ama a si mesmo".

Como eu me amo? Deixe-me ilustrar isso com um texto de Gary Sloan:

“Eu cuido muito bem de mim, mas muito bem mesmo. Por exemplo, sempre que estou com fome, eu me dou de comer. Sempre que estou sujo, eu me dou banho. Escovo os dentes, limpo o rosto, lavo as roupas, lavo e penteio o cabelo, e quase nunca esqueço de limpar as unhas.

Sempre que me machuco, cuido de mim. Se for um corte, passo um band-aid em volta. Se for mais sério, procuro alguém que possa me ajudar. Quando estou doente, tomo todos os tipos de remédio.

Quando me sinto sozinho, passo normalmente o tempo com minha família ou meus amigos, ou com alguém que me compreenda.

Se estou com sede, normalmente bebo água, um refrigerante ou leite — qualquer coisa que mate a sede.

Quando acontece de eu estar com calor, visto-me com roupas leves, ligo o ventilador ou o ar-condicionado ou bebo algo gostoso e gelado. Se estiver com frio, ligo o aquecedor, me agasalho ou bebo algo quente.

As vezes tenho perguntas. Apanho então um livro e encontro respostas. Ou então faço alguns cursos.

Sempre que estou de fato cansado, vou para a cama.

Na verdade, cuido muito bem de mim; em certo sentido, eu me amo.

O egoísmo foi dos assuntos principais das conversas de Jesus registradas nos evangelhos. Ele advertiu severamente contra ele, sempre fazendo seus seguidores se voltarem às necessidades dos outros, e não às próprias. "Os últimos serão os primeiros", ele disse, "e os primeiros, os últimos".

O conhecido poema do amor em I Co 13.4-7 exclui o egoísmo: "O amor ... não procura seus interesses (...)Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (ICo 13:4-7, NVI).

A despeito do que Jesus e Paulo disseram, ainda deparo com esse problema do egoísmo todos os dias. Isso ocorre porque sou a pessoa no mundo que mais me conhece, e sou a pessoa que mais se preocupa comigo mesmo.

Tentativas determinadas e dolorosas de dar cabo de meu egoísmo normalmente terminam em fracasso. Refletir sobre o egoísmo é como tentar dormir. Quanto mais esforço se faz pensando em dormir, mais difícil é relaxar e desligar. O ato de concentrar-me em mim mesmo, revendo todas as coisas egoístas que faço, é mais um modo de concentrar a atenção em mim.

No entanto, descobri uma dica útil, que me veio após uma revelação assustadora. Ocorreu-me: e se meu irmão, minha esposa, meus empregados... todos no mundo... amassem a si mesmos do modo como eu me amo? E se todos eles relevassem suas falhas e exaltassem suas qualidades como faço? Seria possível que eles se considerem tão importantes quanto eu me considero?

O pensamento me fez ver que eu nunca havia considerado, nem por um momento, como seria ser como eles. Eu havia estado muito empenhado em amar a mim mesmo para saltar o abismo e ver o mundo através dos olhos deles. As outras pessoas haviam sido coadjuvantes em meu filme. Mas e o filme delas, no qual eu represento um papel menor: como eu apareço nele?

Finalmente, as palavras de Jesus começaram a fazer sentido. O segundo maior mandamento, ele disse, é amar ao seu próximo como a si mesmo. Eu sei que Jesus não quis dizer que eu deveria amar a meu próximo tanto quanto eu amo a mim mesmo; isso é impossível, porque não consigo parar de pensar em mim mesmo. E sinto-me encorajado por Jesus não haver dito: "pare de amar a si mesmo de modo a poder amar ao seu próximo". Jesus compreendia a natureza humana. Sabia o que todas as pessoas pensam sobre si mesmas e suas necessidades.

O que Jesus quis dizer, eu penso, é que eu devo amar meu próximo da mesma maneira que eu amo a mim mesmo.

Eu sei como eu me amo. Essa é a principal preocupação de minha vida — meu primeiro pensamento de manhã, meu último à noite.

Jesus quer que eu pense nos outros. Quer que eu lhes elogie as qualidades tão sincera e entusiasticamente como me cumprimento por meus sucessos. Quer que eu seja tão tolerante, bondoso e perdoador com eles como sou comigo mesmo. Em resumo, ele quer que eu aja do modo como gostaria que as pessoas que me rodeiam agissem.

Texto adaptado do livro “Desventuras da Vida Cristã”, de PhilipYancey