sábado, novembro 22, 2008

O PERDÃO QUE VENCE A CULPA


“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo“. (Romanos 8.1)

 

No seu importantíssimo livro “Culpa e Graça”, o Dr. Paul Tournier escreveu: “Parece bastante claro que o homem não vive sem culpa. Ela é universal. Mas ela desencadeia, pouco a pouco, quer seja reprimida ou reconhecida, dois mecanismos inversos: quando reprimida, ela dá lugar à cólera, à revolta, ao medo e à angústia, a uma insensibilidade da consciência, a uma impossibilidade crescente de reconhecer as próprias faltas e a uma exaltação crescente de impulsos agressivos. Quando reconhecida conscientemente, ela conduz ao arrependimento, à paz e à segurança do perdão de Deus, a um refinamento progressivo da consciência e a um enfraquecimento progressivo dos impulsos agressivos”. [1]

O sentimento de culpa atormenta-nos a todos, quer sejamos ricos ou pobres, religiosos ou não. A maneira humana de lidar com a culpa é a expiação. Os estudiosos da “psiquê” humana asseveram que muitas doenças físicas e psíquicas, acidentes e frustrações na vida pessoal e profissional são tentativas de auto-expiação; isto é, uma forma de punição que o sofredor administra a si mesmo com o propósito de “saldar a dívida” advinda da culpa.

O moralista usa a sua religiosidade, ou código moral, a fim de reprimir a culpa. Contudo, reprimir, esconder, projetar ou negar a culpa, não resolve os tormentos pelos quais sofre a mente culpada. O que se sente “pecador” e “miseravelmente e desgraçadamente” culpado, por sua vez, busca livrar-se da culpa mediante a expressão pública das suas faltas. Quase sempre, contudo, este mecanismo revela-se como uma falsa humildade ou pseudo-arrependimento, haja vista que a autocomiseração também é uma tentativa de auto-expiação.

O caminho para a solução do problema da culpa é simples! No Evangelho de Jesus Cristo, aliás, tudo é demasiadamente simples! O início da caminhada depende, contudo, da decisão humana de romper com seus mecanismos de defesa e de auto-expiação e assumir a responsabilidade pessoal pelas faltas cometidas, transgressões, erros e delitos.

Reconhecer a culpa e a insuficiência dos nossos esforços de auto-expiação é fundamental, mas não é suficiente. A Palavra de Deus ensina-nos que “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a nossa injustiça” (I João 1.9). Confessar, contudo, não é simplesmente fazer um relato das faltas, como se Deus precisasse ser informado sobre nossos atos. Afinal, Ele conhece todas as coisas (Hebreus 4.13). Confessar é acima de tudo concordar com Deus no fato de que meus erros transgridem a Sua vontade, reconhecer que sou merecedor da condenação, crer que Jesus Cristo se fez condenação em meu lugar, efetuando o pagamento da minha dívida ao levar sobre si a minha culpa, e decidir voluntariamente e prazerosamente cumprir a Sua vontade.

Não existe confissão verdadeira sem arrependimento verdadeiro. Arrependimento é o reconhecimento da culpa. É despojar-me das máscaras e das sutilezas auto-expiatórias da repressão e autocomiseração e crer na obra propiciatória de Cristo. O senso de culpa que nos leva a Deus nos revela, assim, o seu amor e o seu perdão. A confissão, fruto de sincero arrependimento, traz-nos o perdão de Deus; este, por sua vez, vence a culpa e nos traz a paz!  “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Romanos 5.1)

Por isso o apóstolo Paulo, depois ter exclamado o desespero causado pela culpa (Romanos 7.21-24), escreveu: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo“. (Romanos 8.1)

Não obstante a obra de Deus ser perfeita, o que fora perdoado pode reter na memória a culpa pelos seus erros e fracassos! Ainda que perdoado, o cristão pode viver continuamente acuado pelas lembranças de seus erros, penalizando-se e sofrendo os danos da auto-acusação. A fé em Cristo, contudo, não apenas nos livra da condenação, mas também da acusação. “(...) se o nosso coração nos acusar, certamente Deus é maior do que o nosso coração” (I João 3.20); e ainda: “Pois, para com suas iniqüidades, usarei misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hebreus 8.12).

“É franca a porta divinal/Aberta a todo mundo.

Por ela, o pecador mortal,/Avista amor profundo.

 

Oh, graça imensa, pois, assim,

A porta é franca mesmo a mim!

 

Entrai: Jesus vos dá perdão,/As culpas redimindo.

Entrai, buscando a salvação,/Ó pecador bem-vindo!

(Sarah P. Kalley - Salmos e Hinos, 283)

 

Rev. Ézio Martins de Lima


[1] TOURNIER, Paul. Culpa e graça. São Paulo, ABU, 1985, p. 176.

quarta-feira, novembro 19, 2008


"Faça todo o bem que puder
Por todos os meios que puder
De todas as maneiras que puder
Em todos os lugares que puder
Todas as horas que puder
Para todas as pessoas que puder
Enquanto você puder."
John Wesley

segunda-feira, novembro 17, 2008

CHAMADOS À FIDELIDADE














”Ah! Senhor, não é para a fidelidade que atentam os teus olhos?”

( Livro de Jeremias 5.3)

  A leitura do livro de Jeremias é densa: densa do pecado de um povo obstinado em perseguir o caminho do erro, mas também densa do amor de Deus que se inclina em buscar pelo Seu povo e chamá-lo ao arrependimento. Os primeiros capítulos de Jeremias revelam o amor de Deus que, metaforicamente, aplica a si mesmo a alcunha de “marido traído” que sai em busca das adúlteras esposas Israel e Judá (Jeremias. 3.8,13).

 

Os pecados transcritos por Jeremias não são diferentes dos que são cometidos em nossos dias: os que deveriam fazer justiça, julgam em causa própria; aqueles que deveriam zelar pela religião, usam-na como mercadoria para manipular e auferir lucro; aqueles que deveriam governar para o bem do povo, buscam alianças espúrias e  se  esquecem de buscar a direção segura que é dada por Deus; o povo, que deveria arrepender-se dos seus pecados e  virar as costas  para os deuses falsos, virou as costas para o Deus verdadeiro (Jr. 2.27).

 

 O livro de Jeremias é uma séria advertência para a vida cristã superficial de nosso tempo. Tempo marcado pelo abandono “do manancial de águas vivas” e pelo cavar incessante de “cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr.2.13). Tempo marcado por templos cheios, mas de gente vazia de santidade e fidelidade aos princípios do Evangelho. Tempo marcado por cristãos eufóricos e extravagantes nos templos, mas de um cristianismo “anônimo” e “imperceptível” tanto da porta da casa pra dentro quanto da porta da casa para fora. Tempo marcado pela relativização do pecado, o que se constata no fato de que os “cristãos modernos” temem muito mais as conseqüências dos seus pecados do que o próprio pecado. Ora, quando nos ocupamos em cometer pecados escondidos dos olhos humanos, mas nem nos lembramos dos olhos de Deus, então é tempo de atentar para a Sua Palavra: “Se voltares, ó Israel, diz o Senhor, volta para mim; se removeres as tuas abominações de diante de mim, não mais andarás vagueando (...) Circuncidai-vos para o Senhor, circuncidai o vosso coração, ó homens de Judá e moradores de Jerusalém, para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras” (Jr. 4.1,4).

 

 O ser humano continua o mesmo, mas a cada dia se torna ainda mais especializado na arte de cometer antigos erros.

 

Há algumas opções a tomar diante destes cenários. A maioria opta pela revolta, lamúria e difamação --ainda que em forma de “piadinhas”. Entretanto não tenho dúvida que a melhor opção foi aquela tomada por Jeremias: permanecer fiel ao Senhor, ainda que tal decisão signifique um certo ostracismo (Jr. 16). Fidelidade esta que se manifesta no cumprimento de sua vocação: “Mas eu não me recusei de ser pastor, seguindo-te” (Jr. 17.16). Fidelidade que é demonstrada em viver o que se crê com muito mais ênfase do que dizer no que se crê. Fidelidade que se expressa não somente em proclamar a um mundo pervertido e idólatra sobre a necessidade do arrependimento e da fé em Jesus Cristo, como também em interceder diante do trono de Deus por este mundo a fim de que o Senhor, por Sua graça, derrame Sua misericórdia sobre nós.

 

 Que o exemplo de Jeremias nos motive a sermos fiéis ao Senhor!

 

 

Ézio Martins de Lima, rev.