quinta-feira, abril 08, 2010

O DESAFIO DE CRESCER...


O DESAFIO DE CRESCER...

"E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça...."

Há um livro interessante que acabou virando filme, chamado "O Tambor", do alemão Günter Grass. É a história de um menino teimoso que se recusava a crescer. Quando queria alguma coisa pegava seu tambor e ficava batendo com um cabo de vassoura sobre ele até que alguém o atendesse. E já com idade adulta tinha a aparência e o corpo de uma criança.

Às vezes penso que é menos penoso continuar sendo o que sempre fomos. Para que arriscar? Para que sair do porto seguro e singrar por rios perigosos e traiçoeiros, que não conhecemos bem? Para que sair do aconchego dos pensamentos que trazem sossego à alma, e aventurar-se por abismos e montes escarpados? O senso comum diz que viver na planície é mais seguro que escalar as altas montanhas.

Há cristãos que gostam de viver nas planícies - as montanhas lhes dão vertigens. Há cristãos que se recusam a sair da segurança encontrada nos limites do terreno em que ele mantém controle, e sair fora dessa área demarcada na alma é inimaginável para ele. É o medo de "perder" a identidade, é o medo do novo, o medo do não conhecido.

Crescer é "abandonar" posições confortáveis, é deixar o que é seguro, é começar a subir em direção ao ar rarefeito dos altos montes. Crescer é recusar a permanecer no conquistado, é romper com o passado, uma ruptura que vai levar a uma descontinuidade da rota até então vivida. Crescer é um desafio porque nos leva a dar um passo quando queríamos ficar parados. Os fariseus foram incapazes de entender o que Jesus dizia e fazia porque se recusaram a dar o segundo passado, a andar a segunda milha...

Todos os seres vivos, animais e vegetais e até mesmo os minerais têm em si o potencial de crescimento. Uma semente de laranja carrega em si a potencialidade de um pé frondoso carregado de frutos. Um pires com água e sal deixado por alguns dias começa a produzir pequenos cristais de sódio. Todas as plantas crescem em direção ao sol. Este processo é chamado de ‘Heliotropismo’. (Fototropismo em que a luz solar é estímulo)

Creio que o cristão traz em si a capacidade de crescimento que o Espírito nos dá. Podemos chamar este processo de ‘Teotropismo’ (Através da comunhão com Cristo, temos comunhão plena com Deus). Se não temos crescido devemos olhar o que tem impedido esse processo. Muito provavelmente desenvolvemos "apegos" à nossa forma de ser. Eles funcionam como laços que nos impedem de dizer adeus à nossa infância, aos nossos quereres, às manhas e manias, à forma fixa de pensar. Não raro vemos adultos carregando sombras não resolvidas do passado que assombram o presente, vemos homens e mulheres incapazes de um relacionamento saudável por conta de resquícios infantis, que tinham sentido lá atrás, mas agora só trazem complicações.

Paulo diz que ele plantou, Apolo regou, mas Deus é quem dá o crescimento. Todo pai quer ver seu filho crescendo. É o processo natural. Mas quando vemos, nas regiões subnutridas de nosso país, pessoas que não crescem devido ao nanismo - doença que causa um baixo desenvolvimento corporal - logo, ficamos imaginando que pode estar havendo no meio evangélico um "nanismo espiritual", provocado por uma alimentação inadequada ou por um desejo próprio, mas oculto da consciência, de permanecer "ad eternum" no mesmo estágio.

É quase uma afronta, diante do Pai, ficar na superfície, viver de modo fútil, brigar por bobagens, contentar-se com a mediocridade, buscar repetir experiências que, no passado, tiveram seu significado, mas hoje não tem mais... Afinal, coisas de crianças em crianças são bonitinhas e aceitáveis; mas em adultos são, no mínimo, ridículas!

Crescer é um grande desafio, mas sem crescer não há como alcançar a estatura que Deus deseja para nós. (Efésios 4. 12-16)

Rev. Ézio Martins de Lima

terça-feira, abril 06, 2010

ALIVIANDO O PESO...



“Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação.”
Salmo 68.19

A vida cristã legítima é destituída de peso. No cristianismo de Cristo não há cargas nem coação. A vida cristã é leve! Isto decorre do fato de que o evangelho da graça se caracteriza pelos afazeres da trindade e a lide do cristão é um artigo agenciado pela suficiência do Senhor. “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera”. Isaías 64:4.
Na perspectiva do verdadeiro Evangelho não é o homem que trabalha para Deus, mas é o Deus todo-poderoso quem trabalha para aquele que nele espera. Isso é um grande absurdo para a mente natural, entretanto é uma declaração perfeita do que significa a graça.
Os religiosos não gostam da graça. A mente de estivador não suporta a vida sem peso. Por isso, os líderes religiosos no tempo de Jesus viviam sobrecarregando as pobres almas com cargas pesadas. “Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los”. Mateus 23:4.
Jesus, porém, mostra uma alternativa diferente. Como vemos no texto do salmo que serve da base para essa meditação, o Senhor se propõe a levar o nosso fardo, dia a dia, e posteriormente nos oferece o seu fardo, que é leve. “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. Mateus 11:29-30.
A carga pesada que ele carregou sobre o seu corpo é constituída de todos os nossos pecados. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”. 1 Pedro 2:24. Ele, que não tinha pecado, carregou os pecados de todos os eleitos de Deus, e isso era muito duro.
O fardo leve que ele nos oferece é a cruz dia a dia, como expressão de nossa renúncia pessoal. Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23. A nossa cruz é de fato aquela em que nos fez morrer juntamente com ele. A dor, ele a suportou por nós, e agora, nós podemos experimentar os efeitos da cruz, mediante a fé na Sua Palavra.
O fardo da fé, contudo, não é de chumbo. Ainda que as tribulações nesse mundo sejam fortes, a carga não é mais pesada, e o apóstolo Paulo denomina essas tribulações, aqui e agora, leves e passageiras. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação”. 2 Coríntios 4:17.
A ênfase da fé cristã é basicamente relacional. Não somos executivos procurando um melhor desempenho, mas filhos desenvolvendo um relacionamento mais íntimo. Como Moises, nós precisamos mesmo é da presença de Deus, para gozarmos o repouso da fé. “Respondeu-lhe: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso”. Êxodo 33:14.
A vida cristã na perspectiva da graça só é possível quando vivemos na intimidade com o Pai. O religioso, por sua vez, trava uma luta constante contra a verdadeira comunhão, substituindo-a pelas regras ou por meros conceitos. Somente o Espírito Santo da graça convence o cristão que o seu alívio é o próprio Deus, trazendo, então, uma nova perspectiva de si mesmo e de sua relação com Deus. Conforme escreveu Calvino: “...é evidente que o homem jamais alcançará um conhecimento perfeito de si mesmo, a menos que primeiramente vislumbre o rosto de Deus e daí desça para a contemplação de si mesmo”.
A Bíblia mostra que Deus mesmo é a nossa salvação. Não somos salvos por uma doutrina nem pelos nossos esforços. A extraordinária mensagem do evangelho da graça revela Deus carregando os nossos fardos e se manifestando como a salvação completa e eterna. “Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o SENHOR Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação”. Isaías 12:2.
O cristão tem muitas lutas nesse mundo, mas ele tem garantia divina e seguro eterno. Ele sofre tribulações, mas tem descanso interno. O Senhor Jesus Cristo é a sua salvação e é também o transportador dos seus fardos, por isso a sua jornada é sem peso e sem pesar, apesar de suas muitas dificuldades. “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso”. Salmos 23:2.

Rev. Ézio Martins de Lima.