Celebrado no segundo domingo de dezembro, o Dia da Bíblia foi criado em 1549, na Grã-Bretanha pelo Bispo Cranmer, que incluiu a data no livro de orações do Rei Eduardo VI. O Dia da Bíblia é um dia especial, e foi criado para que a população intercedesse em favor da leitura da Bíblia. No Brasil a data começou a ser celebrada em 1850, quando chegaram da Europa e EUA os primeiros missionários evangélicos. Porém, a primeira manifestação pública aconteceu quando foi fundada a Sociedade Bíblica do Brasil, em 1948, no Monumento do Ipiranga, em São Paulo (SP).
E, graças ao trabalho de divulgação das Escrituras Sagradas, desempenhado pela entidade, o Dia da Bíblia passou a ser comemorado não só no segundo domingo de dezembro, mas também ao longo de todas a semana que antecede a data. Desde dezembro de 2001, essa comemoração tão especial passou a integrar o calendário oficial do país, graças à Lei Federal 10.335, que instituiu a celebração do Dia da Bíblia em todo o território nacional.
Hoje, as celebrações se intensificaram e diversificaram. Realização de cultos, carreatas, shows, maratonas de leitura bíblica, exposições bíblicas, construção de monumentos à Bíblia e distribuição maciça de Escrituras são algumas das formas que os cristãos encontraram de agradecer a Deus por esse alimento para a vida.
Gosto da palavra “saudade”. Ela fala de coisas do coração, coisas que não se expressam em palavras, mas nem por isso são menos reais. Saudade não se explica em dicionário, pois defini-la é empobrecê-la. Nem se explica como significado, pois o que é saudade, senão um sentimento repleto de significado? Pois eu tenho saudade do tempo em que nossa igreja evangélica era conhecida como “a igreja da Palavra”. “O povo do livro”, como se dizia. Será que deixamos de ser a igreja da Palavra para sermos a igreja do poder, das promessas, dos programas impactantes, das bem-sucedidas estratégias de marketing, ou até a igreja que fornece votos de cabresto? Não quero uma saudade nostálgica, típica de quem fica no passado e se nega a caminhar para o futuro. A nostalgia lamenta o tempo em que se levava a Bíblia, como livro, para a igreja e a folheava, acompanhando o que o pregador dizia. Pode ser muito mais fácil hoje projetar o texto bíblico no Power Point, sem que isso deixe de ser significativo. Mas, seja com a Bíblia aberta, seja com ela projetada ou lida no computador, que a saudade seja marcada por um desejo profundo de ouvir Deus falar através da sua Palavra. Saudade da sua presença, da sua voz, da sua companhia e do seu abraço. Bom é que também se pode ter saudades do futuro. Por isso eu posso dizer que tenho saudade de sermos uma igreja reverente, que silencia para ouvir a Palavra de Deus e sente uma profunda necessidade de submeter-se a ela. Saudade de sermos uma igreja que quer ouvir a palavra de Deus na sua totalidade e não viver marcada por uma espécie de caça-versículos, sobre os quais elaboramos nossos slogans, teorias e teses de sucesso. Saudade de uma palavra que molda nossa vida, gesta nossa comunidade e nos ensina a ser igreja com espírito de serviço no mundo de hoje. O meu receio é que sejamos cativos de uma mentalidade de mercado onde o produto deve ser agradável, o cliente sempre tem razão e o povo da igreja deve ser satisfeito. Assim, quando choramos é porque ficamos comovidos; parece que já não sabemos como se chora de arrependimento, algo comum de acontecer quando Deus fala conosco. Sempre, no decorrer da história da igreja, os processos de arrependimento, consagração e obediência resultaram do encontro com a Palavra de Deus. Um encontro forte e profundo, que nos mostra quem é Deus, quem somos nós e o quanto necessitamos da sua misericórdia. Vemos, por exemplo, no livro de Neemias, a palavra sendo lida para o povo, que chora com tal intensidade que a própria liderança insta com eles para que parem de chorar e celebrem: “‘Este dia é consagrado ao Senhor, o nosso Deus. Nada de tristeza e de choro!’ Pois todo o povo estava chorando enquanto ouvia as palavras da Lei” (Ne 8.9). O que Deus vê quando olha para nós? Uma comunidade marcada pelo choro do arrependimento ou um grupo de pessoas cuja descrição mais apropriada seria: “Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2 Tm 4.4)? Precisamos voltar à Palavra, e fazê-lo com saudade. Saudade de ouvir a Deus, caminhar com ele e obedecer-lhe. Saudade que almeja continuamente redescobrir a Deus em seu amor e graça e profundo desejo pela nossa salvação e comunhão com ele. Saudade de ser uma comunidade de adoração a Deus e de serviço ao próximo, um povo marcado pela verdade e a justiça, desejoso de conhecer e buscar a vontade de Deus para as nossas sociedades. Um povo que, marcado pela esperança em Deus e por novos céus e nova terra, contagie a sua própria comunidade com o desejo de ouvir a Deus. Eu tenho muitos anos de convivência com a Palavra de Deus. Nunca me cansei dela, e muito menos Deus cansou-se de falar comigo por seu intermédio. Aprendi as línguas antigas para poder lê-la no original, fui ensinado a usar as regras da exegese para poder entender e expô-la melhor. Tudo isso foi importante. Mas o que eu mais custei a aprender é que a Palavra não pode ser um mero objeto de estudo, nem se entende melhor quando é absorvida apenas como conhecimento. Aprendi que a Palavra é coisa para a cabeça, mas que nunca será realmente entendida e aceita, a não ser que seja também coisa do coração. Também aprendi que a minha percepção da Palavra empobrece quando ela é transformada em mera teoria e que a sua riqueza só se percebe na obediência. E obediência só se aprende obedecendo, como ensinou Bonhoeffer. E é nesta obediência que mais claudicamos. É com ela que eu reluto e tenho tanta dificuldade. Mas é dela que eu mais preciso, pois a saudade de Deus só se transforma em comunhão com ele no caminho da obediência. É por isso que precisamos da Palavra para nossa conversão. É por isso que precisamos aprender o que Bonhoeffer nos desafia a fazer: ler a Bíblia contra nós. Só entende a Palavra de Deus quem sabe e quer lê-la contra si; e isto, normalmente, só fazemos no confronto com a exortação, a realização de profundo desespero humano ou quando experimentamos uma profunda sede de Deus. Precisamos de igrejas que saibam ler a Bíblia contra si, que não resistam aos panos de saco do arrependimento e que nutram uma profunda sede de Deus no caminho da obediência ao seu chamado.
Valdir Steuernagel Texto publicado na Revista Ultimato/março-2008
Não há quem não tenha se estarrecido com as imagens da bandalheira que tomou conta da capital federal. Nunca antes na história deste país (para ser bem original) houve tantos, tão detalhados e incriminadores vídeos e provas de gente botando a mão na coisa pública.
Mas o que mais estranheza causou foi o acinte com a oração. Nas imagens o deputado Rubens César Brunelli aparece orando com Barbosa e Leonardo Prudente (presidente da Câmara Legislativa), logo após terem recebido a propina das mãos do Durval, e o faz nos seguintes termos:"Somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade, porque o Senhor contempla a questão no seu coração. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele. Nós precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar nesta guerra. Todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, todas nossas atividades, mas o Senhor nunca falha. O Senhor tem pessoas para condicionar e levar o coração para onde o Senhor quer. A sentença é o Senhor quem determina, o parecer e o despacho é o Senhor que faz acontecer. Nós precisamos de livramento na vida do Durval, dos seus filhos, familiares."
Muitos há que se perguntaram como pode uma pessoa que ora agradecer a Deus por uma coisa que é fruto da corrupção, dizer que o pagador da propina é "instrumento nas mãos de benção", que "tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele" e, por cima de tudo pedir "precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar nesta guerra".
Eu também me perguntei. Depois de refletir, conclui que a religiosidade espúria e satanizante que as igrejas, notadamente as neopentecostais, tem pregado e exercido, vendo demônios em tudo, é também a mesma que produz este tipo de aberração. Se há pregadores que expulsam o demônio da caspa, da obesidade, da esquizofrenia, que oram ungindo calcinhas e cuecas de casais com problemas sexuais, que dizem ser a pobreza castigo de Deus, nada os impede de ver no dinheiro fácil a benção. Se lhes falta bom senso para ver causas reais nas enfermidades e situações que satanizam, por que devem ter melhores instrumentos de análise nas "bênçãos"?
A falta de lucidez e critérios sérios se aplica aos dois extremos. Salta-se de um para outro (demônio e benção) com a mesma leviandade com que expulsam demônios e glorificam a posse e a propriedade.
Se você tiver alguma dúvida e estômago assista a estes pregadores da ignorância nas suas falas televisivas, onde, quais papagaios da fé, repetem ad nausean as mesmas frases e jargões, cometendo a todo o instante as aberrações de satanizar uma paralisia cerebral, uma miopia, uma dor na coluna ou cólica menstrual e, pari passu, agradecer as bênçãos de um carro novo, um aumento de salário, uma casa nova, ou seja lá o que for.