Uma reforma política já tinha acontecido em Genebra, na qual o bispo de Sabóia tinha sido removido e substituído pelo governo dos magistrados. Seguindo esta reforma política, a reforma espiritual de Genebra começou a florescer, especialmente sob a liderança de Guillaume (William) Farel e um colega no ministério, Pierre Viret. O concílio da cidade suspendeu a Missa em 1535, e subseqüentemente decretou diversas leis proibindo a prática da religião Católica Romana e requerendo que os sacerdotes se convertessem e anunciassem que a doutrina evangélica agora pregada em Genebra era deveras a santa doutrina da verdade. Estas ordenanças foram seguidas na primavera de 1536 pela exortação de que todos os cidadãos deveriam atender aos sermões, para ouvir o verdadeiro evangelho. Em outras palavras, os magistrados estavam tentando produzir uma reforma espiritual pela lei.
Mas como logo seria visto, a verdadeira reforma espiritual não pode vir pela imposição de lei. A verdadeira reforma é inteiramente espiritual, a obra de Deus pelo Espírito Santo nos corações dos homens. E para tal reforma Deus teria João Calvino desempenhando o papel de liderança.
Todos os labores de Calvino para com a reforma de Genebra estavam fundamentados nas Escrituras.
A obra de Calvino em Genebra começou no verão de 1536. Ele começou sua obra ali como um notável professor, o autor da Christianae religionis insitutio, as Institutas da Religião Cristã, publicada uns poucos meses antes.
A tarefa de reforma em Genebra era assombrosa. Calvino entendeu que tal reforma envolveria reorganizar a igreja de acordo com a Palavra de Deus, defender a autonomia da igreja em relação aos magistrados civis (por si mesma uma tarefa nada fácil), bem como trazer uma mudança para a mentalidade das pessoas com respeito tanto a doutrina como aos seus efeitos sobre a moral e a vida cristã.
Calvino se voltou para o trabalho, reconhecendo somente uma esperança para realizar esta tarefa humanamente impossível. Tal reforma poderia vir somente pelo poder da Palavra de Deus.
Sua primeira meta foi colocar em ordem a instituição da igreja. Calvino demonstrou que não somente as doutrinas da igreja, mas também a forma de governo da igreja, devem vir da Escritura.
A pregação ocupava o lugar principal na reforma da Igreja em Genebra. Na Catedral de São Pedro, onde Calvino geralmente pregava, os serviços de adoração do Domingo eram realizados ao amanhecer, novamente às 9 da manhã, e mais uma vez às 3 da tarde. As crianças eram trazidas à tarde para instrução. Cultos com pregações menores eram também realizados nas manhãs de Segunda, Quarta e Sexta-feira.
Muita atenção era dada ao ensino, seguindo também a forma de um Catecismo que Calvino preparou. Em adição, sabendo a importância da educação para a causa do evangelho, Calvino conduziu a promoção da educação com o estabelecimento da Academia de Genebra.
Como parte das ordenanças eclesiásticas, o diaconato também foi estabelecido. O próprio Calvino foi instrumental no estabelecimento de um hospital em Genebra.
João Calvino via a Palavra de Deus se aplicando a todo aspecto da vida cristã. Ele estava convencido de que o poder do evangelho no coração dos eleitos afetaria sua vida familiar, sua vida na igreja, o manusear de suas finanças, bem como o seu lugar na sociedade e qualquer função que eles pudessem desempenhar no governo. Mas básico para tudo isto é uma igreja verdadeira e saudável. Foi a isto acima de tudo que Calvino deu a sua atenção.
Embora a reforma de Genebra pudesse ser ela mesma limitada, a influência daquela reforma foi espalhada. A obra da Academia de Genebra fundada por Calvino continuou a espalhar sua influência pela causa da fé Reformada por décadas, mesmo após a morte de seu fundador. Além do mais, os refugiados que fugiram para Genebra voltaram para as suas casas levando a fé Reformada com eles. Deste ponto de vista, a reforma espiritual de Genebra foi apenas um microcosmo daquela obra poderosa de Deus por todo o continente da Europa e pelo mundo afora, visto que o Espírito da verdade continuava a guiar a Sua igreja — e assim Ele ainda o faz hoje, em nossas próprias igrejas.
(Rev. Steven Key)
Quatro grandes princípios da Reforma de Genebra
1. “O fim principal do ser humano é glorificar a Deus e nele ter prazer para todo o sempre” (Breve Catecismo de Westminster). No conceito reformado glorificamos a Deus, adorando-o em culto e em vidas de atividade obediente a sua vontade. Nisso o ser humano encontra o sentido e a felicidade do viver.
2. “Igreja Reformada, Sempre se Reformando” - A chave para entender a Reforma reside no fato de ela aceitar uma só autoridade suprema - a Palavra de Deus. Isto lhe confere a liberdade de reexaminar, à luz da Palavra, toda a teologia e o culto da Igreja de sua época. Este princípio reformado enfatiza a necessidade de a Igreja, em cada geração, submeter-se à atividade do Espírito Santo, que reforma e renova a Igreja segundo a Palavra de Deus testemunhada pelas Escrituras.
3. “Ofereço-te meu coração, Senhor, espontânea e sinceramente” – O famoso lema do brasão de Calvino exprime o sentido e o estilo da vida cristã.
4. “A verdade (existe) em função do bem” - A tradição reformada insiste na ligação inseparável entre a fé e a prática, entre a verdade e o dever. A grande pedra de toque da verdade consiste na sua tendência de promover a integridade de princípios morais e éticos no indivíduo e na sociedade, segundo a regra do Salvador: “Pelos frutos os conhecereis”.
(Rev. Richard Irwin)
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