segunda-feira, junho 12, 2006

O trono de Deus e a Espiritualidade da Igreja

Texto: Isaias 6.1; Ap. 4.1-3

INTR.: O texto de Isaias 6, tão sobejamente conhecido e pregado, inicia com a trágica notícia da morte do rei Uzias.

· Descobrimos pelo relato de 2 Crônicas 26, que Uzias reinara durante 52 anos em Jerusalém. 2 Crônicas destaca que durante seu reinado, o Reino do Sul gozou de expressivo crescimento do poderio bélico. Com a formação de um poderoso exercito, ampliou o domínio de Judá, apossando-se das terras dos filisteus e deles cobrando pesados impostos. Com a riqueza adquirida dos impostos, Uzias implementou a agricultura utilizando-se da irrigação.

· Pelo fato de ter ficado leproso e ser obrigado a morar numa casa separada do palácio, Jotão, seu filho assume o governo. Com a doença de Uzias, o poder judiciário de Judá entra em uma crise moral sem precedentes, a ponto de Isaias comparar os juízes à escória.(Isaias 1.21-23).

· Isaias compreende a morte de Uzias como uma terrível tragédia. O trono de Judá esta vazio, pois o rei está morto. Isaias não tem esperança de que Jotao traga justiça à nação. Por isso a busca do Templo, em contraste com a noticia da morte de Uzias, expressa que Isaias, desiludido com o poder na terra, busca socorro no poder do céu.

· A mensagem de Isaias é contundente: O trono de Judá pode estar vazio, mas o trono do universo não!

O contexto de Apocalipse é outro, mas a mensagem similar.

Os capítulos anteriores de Apocalipse apresentam-nos a visão do Cristo vencedor, que está no meio dos candeeiros, que representam as igrejas. (1.9-20). O Cristo glorificado não apenas pode ser encontrado no meio das igrejas, como sua voz pode ser ouvida: ele fala às igrejas (cap. 2 e 3). Mas a realidade das igrejas era de dor, perseguição e opressão disfarçada com máscara da Pax Romana. É fácil dizer que Deus está no controle quando nada ameaça a integridade física, mas quando ser fiel significa risco de perder a vida, a história toma outros contornos.

Qual a imagem de Esperança para a Igreja? A visão do trono! O trono, assim como em Isaias, está em volto da Adoração.

A mensagem é clara: é na adoração que a Igreja vislumbra que Deus está no controle.

O trono centraliza a autoridade. O culto é centralizador!

No culto, Deus reúne o seu povo e se coloca no centro. A adoração é um encontro que visa a levar nossa vida a ser centralizada em Deus para não sermos destituídos de um ponto centralizador. O fracasso na adoração nos relega a inclinações instáveis, ficamos à mercê de toda propaganda, sedução e engodo.

A espiritualidade cuja ênfase é o Trono, isto é, a Glória de Deus, não se deixa seduzir pela vaidade humana. No trono, somos imersos no sim de Deus que silencia todos os nãos e provoca em nós uma resposta afirmativa. Por isso os louvores entoados em volta do trono recebem o responso do AMÉM! Em outras palavras, Deus não é alguém de quem se possa aproximar impondo restrições que atendam aos nossos interesses, distribuindo "sim" e "não" de acordo com a nossa vontade.

Assim como para Isaias e para igreja perseguida do Apocalipse, nossa esperança está na visão do trono, visão esta que deve pautar nossa vida em todas as dimensões.

A crise da igreja na atual conjuntura tem sua fonte na espiritualidade que se desenvolve não a partir da visão do Trono de Deus, mas do ego humano. Não a partir da Glória de Deus, mas das necessidades do adorador.

O Culto a cada dia que passa se transforma mais e mais na busca do ser humano por ele mesmo e pelo suprimento de suas necessidades, quer sejam emocionais ou materiais.

A Missio Dei outorgada a igreja, é relegada à propaganda e ao marketing religioso. Não existe missão verdadeira se não há culto verdadeiro. Se o culto tornou-se a festa na qual eu concentro os meus desejos, tal e qual o culto ao Bezerro de ouro narrado no Êxodo, então a missão de proclamar a salvação aos "milhões que em trevas tão medonhas, jazem perdidos sem um Salvador", ou ação diaconal que promova a dignidade humana ao implantar aqui na Terra o ideal do Reino de Deus, não são do meu interesse e, portanto, não merecem que eu gaste o meu tempo.

Estou convicto de que a Teologia de Calvino, centralizada na Soberania de Deus, fundamentada na Sua Glória e sedimentada na autoridade da Sua Palavra, deve ser resgatada no culto, a fim de que a espiritualidade do Trono de Deus nos livre da espiritualidade centralizada em nós mesmos e em nossos mesquinhos interesses

Soli Deo Gloria.

Rev. Ézio Martins de Lima

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