“Talvez nossas fragmentadas experiências de vida
combinadas com nosso senso de urgência
não permitam um ‘manual para ministros’.
Entretanto, em meio a toda a fragmentação,
uma imagem lentamente surgiu como
o foco de todas as considerações:
a imagem do ministro ferido,
do sofredor que é capaz de curar.”
Henri J. M. Nouwen
As ações do pastor* são inúmeras. O pastor precisa ser um entendido em diversas ciências. Conhecer um pouco de administração, gestão e economia, porque, afinal, ele responde como presidente do Conselho, cuja função também é administrar ou zelar pela administração da igreja. É preciso que o pastor conheça também um pouco de Gestão de Recursos Humanos, afinal ele precisa lidar com funcionários da igreja, líderes de ministérios, departamentos internos, coordenadorias... É preciso também conhecer um ‘tantinho’ de psicologia para que possa aconselhar de uma forma não-diretiva, mas com fundamentação equilibradamente bíblica e acompanhada da sempre necessária sabedoria. Exige-se do pastor que conheça um pouco da Bíblia, (às vezes exige-se que ele conheça tudo da Bíblia, como se isso fosse possível), que tenha uma “oração boa” (quase sempre melhor que a dos outros, mais bonita e mais poderosa também). O pastor precisa ser um visitador. Embora a constituição da nossa igreja expresse que a visitação não é uma função exclusiva do pastor (presbíteros e diáconos, de forma específica, devem visitar os enfermos e os necessitados, etc), dele exige-se que visite, que tome um café (ou dois), que converse sobre amenidades e “marque presença”. O pastor precisa, obviamente, cuidar da agenda da igreja, organizar as programações, coordenar diretamente ou indiretamente os eventos, elaborar e supervisionar a liturgia do culto. Se a igreja possui um boletim informativo, então o pastor precisa pensar nos avisos, elaborar a pastoral/mensagem, definir a agenda a ser publicada, etc. Se a igreja tem ministérios e coordenadorias, células/grupos familiares ou de discipulado, então o pastor precisa também se reunir com os líderes/coordenadores. Se a igreja possui congregações, o pastor precisa também assisti-las, reunir com as lideranças destas igrejas e, quase sempre, resolver os ‘problemas’ que aparecem. Se a igreja tem pastores auxiliares e missionários, então o pastor titular precisa também se reunir os outros membros do corpo pastoral para os momentos de planejamento e divisão de tarefas. Se o pastor ou pastora é casado/casada, ele/ela não pode se esquecer de dar atenção ao cônjuge, separar um tempo de qualidade para estar com ele, não só porque ele/ela precisa, mas porque o/a pastor/pastora necessita. E os filhos? Bom, os filhos cobram atenção, especialmente se forem pequenos. Eles não querem saber da agenda cheia, da cobrança dos outros, dos compromissos visitas... Eles querem o colo do pai e da mãe, eles querem atenção. Eles precisam disso.
Pastor é gente, mas às vezes precisa viver como se fosse um semi-deus. Pastor é gente, mas às vezes é cobrado como se fosse uma máquina de cumprir tarefas. Pastor é gente, mas às vezes não pode chorar, não pode se abater, não pode enfrentar depressão, medo e decepções. Pastor é gente, mas às vezes não se lhe concede o ‘direito’ de ficar doente.
Na minha caminhada pastoral tenho construído amizades sinceras com muitos pastores. Nesta amizade sincera eu descubro que todos nós pastores podemos ser vítimas da nossa própria maneira de exercer o ministério. As cobranças, somadas às frustrações, podem levar-nos ao “desencanto” e a falta de paixão pelo ministério. Para meus amigos e colegas de ministério que compartilham comigo de suas angústias ministeriais tenho recomendado (e presenteado a muitos) como antídoto a leitura do livro “A vocação espiritual do pastor”, do Rev. Eugene Peterson (publicado pela editora Textus, anteriormente publicado pela United Press com o titulo “À sombra da planta imprevisível). Para ajudar na profilaxia, faz muito bem ler “O Perfil do Líder Cristão do Século XXI”, de Henri J. M. Nouwen. Ed. Atos.
A tarefa pastoral continua sendo necessária, especialmente num tempo em que há muitas ovelhas sem pastor. Quando a indiferença em forma de agnosticismo cresce vertiginosamente em nosso país, a presença pastoral se torna ainda mais necessária. Não será fácil pastorear quanto mais a religião se tornar uma mercadoria na mão de especuladores. Não será fácil pastorear quando as ovelhas do aprisco ficam encantadas com a grama verde dos modismos. Não será fácil pastorear quando o relativismo moral, o subjetivismo e a superficialidade determinarem cada vez a cartilha de regra de fé e prática das pessoas à nossa volta. Não será fácil pastorear quando as pessoas viciadas no consumo, entorpecidas pelo lucro e dominadas pelo individualismo, abandonarem os compromissos com a igreja e se justificarem com a velha frase “não tenho tempo, pastor”. É não será nada fácil pastorear! Eis porque este tempo necessita tanto de pastores!
No amor dAquele que nos amou primeiro,
Rev. Ézio Martins de Lima
Secretário Pastoral
*Usarei a palavra “pastor” sem fazer qualquer diferenciação de gênero, por concordar que a diferenciação reforça o que se pretende combater: a diferença.
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