As melhores partes da minha vida hoje se apresentam, na retrospectiva, como uma série de surpresas – surpresas felizes, presentes das mãos de um Deus muito gracioso.
Já se passaram mais de vinte e cinco anos desde que aquele homem do clero, de cabelos longos, com seu violão, regeu as crianças da igreja a cantar “Deus é uma surpresa, bem na frente de seus olhos”. Mas aquelas palavras permaneceram comigo porque, tanto agora como naquela época, têm a ver com a minha própria experiência. As melhores partes da minha vida hoje se apresentam, na retrospectiva, como uma série de surpresas – surpresas felizes, presentes das mãos de um Deus muito gracioso. Será que isso é algo fora do comum? Eu duvido. Mas também duvido que nós compartilhamos as surpresas felizes com a freqüência ou a atenção que deveríamos.
Há grande sabedoria naquele antigo hino cujos versos dizem: “Conta as bênçãos, conta quantas são/Recebidas das divinas mãos/Uma a uma, dize-as de uma vez/E verás surpreso o quanto Deus já fez”. Recentemente, há poucos minutos, percebi que eu precisava responder a algumas doces palavras ditas a meu respeito – e deveria respondê-las de forma pessoal e também devocional. Instantaneamente, listei algumas das mais felizes surpresas que já me aconteceram e a história saiu mais ou menos como vou descrever a seguir.
Foi uma surpresa feliz quando Deus me tornou um cristão, após eu ter enganado a mim mesmo durante dois anos, achando que já era um, simplesmente porque ia à igreja. Jesus Cristo entrou na minha vida, reivindicou-me como seu e me tornou uma pessoa diferente – tudo isso em um espaço de cerca de 20 minutos após a segunda parte de um sermão evangelístico. Lembro desta experiência como se fosse ontem. Na época, eu considerava aquilo uma surpresa arrasadora. Mas agora, defino aquele encontro com a palavra “feliz”.
Feliz também é a palavra que encontro hoje para a surpresa de perceber que, cerca de um ano após a minha conversão, e em meu segundo ano na universidade, Deus estava me chamando para o ministério pastoral. Naquela época, eu era uma pessoa estranha, um tipo solitário; e, como eu pensava e sentia de uma forma pobre e simples no que dizia respeito a relações humanas, lutei contra o chamado. Mas o Senhor encheu-me de poder (preciso usar esta palavra), dizendo que eu deveria crer nele e seguir em frente. Confesso que fazer isso foi amedrontador, mas Deus sabia o que estava fazendo: desde então, meu chamado para pastorear almas tem moldado todas as atividades ao longo da minha vida.
Planejei ir direto para o seminário em Oxford, universidade onde eu já estudava. Mas outra surpresa feliz aconteceu quando, ao fim de meu primeiro curso de graduação, fui escolhido, sem haver me candidatado, para ser professor substituto de latim, grego e filosofia na Escola de Teologia de Londres. Lá, descobri que tinha o dom de lecionar para adultos e desenvolvi uma verdadeira paixão por ensinar pastores. Retornei a Oxford sabendo que o trabalho com aquele tipo de educação seria central no cumprimento de meu chamado pastoral.
A sucessão de surpresas em minha vida estava apenas começando. Pouco tempo antes da minha ordenação para uma igreja, conheci uma jovem em um retiro no qual nenhum de nós planejara estar. Após dois dias e uma noite sem dormir, percebi que havíamos sido feitos um para o outro – e, para minha alegria, pouco tempo depois ela chegou à mesma conclusão. Ao olhar para trás, nestes 55 anos juntos, só posso afirmar que aquele encontro foi arquitetado por Deus como outra de suas maravilhosas e felizes surpresas.
Logo veio outra feliz surpresa, que fez de mim um autor de livros. Certa ocasião, fui solicitado a escrever um esboço em um panfleto. Era coisa de seis ou sete mil palavras, mas relutei por um ano – e, quase sem querer, acabei escrevendo um livro de sessenta mil palavras. Fundamentalismo e a Palavra de Deus continua sendo impresso hoje, mesmo 50 anos depois. O sucesso deste livro me mostrou que a escrita tem um papel central no processo educacional que eu procurava preencher no meu chamado pastoral. Outra surpresa feliz na minha descoberta da escrita foi quando transformei alguns artigos de revista no livro O conhecimento de Deus, obra que se tornou não apenas uma ferramenta de alento para o mundo cristão, como também uma confirmação para mim.
A última surpresa desta história foi quando fui “recrutado”, como dizem hoje em dia, por meu amigo mais antigo de Oxford, James Houston, para integrar o Corpo Docente da Regent College em Vancouver, Canadá, do qual ele foi fundador e diretor. Nada estava mais distante dos meus pensamentos naquele momento do que deixar a Inglaterra, e eu já havia inclusive recusado outros convites. Mas a aproximação com Houston me fez mudar para a situação que defino hoje, sem questionamentos, como os melhores 28 anos da minha vida até agora. Descobrir que Deus estava me chamando para fazer o que posso fazer como imigrante britânico no Canadá – britânico de nascimento, agora canadense por opção, como às vezes me apresento – foi mesmo algo maravilhoso e hoje interpreto essa guinada como mais uma das surpresas muito felizes que o Senhor me proporcionou.
Todas estas situações foram marcos de mudança na minha vida que eu utilizo para ilustrar a verdade de que os cristãos servem a um Deus de surpresas felizes. Disse isso em um encontro de que participei, e após o término da minha fala, a liturgia solicitava que cantássemos Onde meu Salvador me levar. Confesso que hinos vitorianos raramente me tocam (gosto mais de Watts, Wesley e Newton), mas como eu mesmo tenho minhas falhas ao formular idéias e comunicá-las, o conteúdo daquela antiga canção veio a mim como uma verdadeira interpretação teológica do que eu havia acabado de dizer a respeito dos meus 63 anos como cristão. Senti meu coração apertar-se e, quase às lágrimas, entendi que aquela era outra surpresa feliz de minha trajetória, na forma de uma inesperada confirmação divina.
Paulo, discipulando convertidos, fala sempre da virtude, da obrigação e da bênção de agradecer a Deus constantemente: “Deixem-se encher pelo Espírito, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas” (Efésios 5.18, 20); “Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, como foram ensinados, transbordando de gratidão” (Colossenses 2.6–7); “Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1 Tessalonicenses 5.18). Em seus momentos difíceis, o próprio apóstolo encontrou motivos para agradecer repetidamente o privilégio de exercer seu ministério (1 Timóteo 1.12–14), pelo trabalho da graça que enxergava através do evangelismo e na vida cotidiana das igrejas.
Cristãos pessimistas que dizem não ter muito a agradecer estão errados. Alguns momentos específicos de minha experiência são sem dúvidas peculiares para mim; mas não posso crer que a qualidade dessas situações seja de alguma forma especial. Portanto, incentivo todos os crentes a enxergar as surpresas felizes, pois elas nos ajudam a continuar expressando todos os dias a gratidão devida a Deus.
http://www.cristianismohoje.com.br/artigo.php?artigoid=35152
Já se passaram mais de vinte e cinco anos desde que aquele homem do clero, de cabelos longos, com seu violão, regeu as crianças da igreja a cantar “Deus é uma surpresa, bem na frente de seus olhos”. Mas aquelas palavras permaneceram comigo porque, tanto agora como naquela época, têm a ver com a minha própria experiência. As melhores partes da minha vida hoje se apresentam, na retrospectiva, como uma série de surpresas – surpresas felizes, presentes das mãos de um Deus muito gracioso. Será que isso é algo fora do comum? Eu duvido. Mas também duvido que nós compartilhamos as surpresas felizes com a freqüência ou a atenção que deveríamos.
Há grande sabedoria naquele antigo hino cujos versos dizem: “Conta as bênçãos, conta quantas são/Recebidas das divinas mãos/Uma a uma, dize-as de uma vez/E verás surpreso o quanto Deus já fez”. Recentemente, há poucos minutos, percebi que eu precisava responder a algumas doces palavras ditas a meu respeito – e deveria respondê-las de forma pessoal e também devocional. Instantaneamente, listei algumas das mais felizes surpresas que já me aconteceram e a história saiu mais ou menos como vou descrever a seguir.
Foi uma surpresa feliz quando Deus me tornou um cristão, após eu ter enganado a mim mesmo durante dois anos, achando que já era um, simplesmente porque ia à igreja. Jesus Cristo entrou na minha vida, reivindicou-me como seu e me tornou uma pessoa diferente – tudo isso em um espaço de cerca de 20 minutos após a segunda parte de um sermão evangelístico. Lembro desta experiência como se fosse ontem. Na época, eu considerava aquilo uma surpresa arrasadora. Mas agora, defino aquele encontro com a palavra “feliz”.
Feliz também é a palavra que encontro hoje para a surpresa de perceber que, cerca de um ano após a minha conversão, e em meu segundo ano na universidade, Deus estava me chamando para o ministério pastoral. Naquela época, eu era uma pessoa estranha, um tipo solitário; e, como eu pensava e sentia de uma forma pobre e simples no que dizia respeito a relações humanas, lutei contra o chamado. Mas o Senhor encheu-me de poder (preciso usar esta palavra), dizendo que eu deveria crer nele e seguir em frente. Confesso que fazer isso foi amedrontador, mas Deus sabia o que estava fazendo: desde então, meu chamado para pastorear almas tem moldado todas as atividades ao longo da minha vida.
Planejei ir direto para o seminário em Oxford, universidade onde eu já estudava. Mas outra surpresa feliz aconteceu quando, ao fim de meu primeiro curso de graduação, fui escolhido, sem haver me candidatado, para ser professor substituto de latim, grego e filosofia na Escola de Teologia de Londres. Lá, descobri que tinha o dom de lecionar para adultos e desenvolvi uma verdadeira paixão por ensinar pastores. Retornei a Oxford sabendo que o trabalho com aquele tipo de educação seria central no cumprimento de meu chamado pastoral.
A sucessão de surpresas em minha vida estava apenas começando. Pouco tempo antes da minha ordenação para uma igreja, conheci uma jovem em um retiro no qual nenhum de nós planejara estar. Após dois dias e uma noite sem dormir, percebi que havíamos sido feitos um para o outro – e, para minha alegria, pouco tempo depois ela chegou à mesma conclusão. Ao olhar para trás, nestes 55 anos juntos, só posso afirmar que aquele encontro foi arquitetado por Deus como outra de suas maravilhosas e felizes surpresas.
Logo veio outra feliz surpresa, que fez de mim um autor de livros. Certa ocasião, fui solicitado a escrever um esboço em um panfleto. Era coisa de seis ou sete mil palavras, mas relutei por um ano – e, quase sem querer, acabei escrevendo um livro de sessenta mil palavras. Fundamentalismo e a Palavra de Deus continua sendo impresso hoje, mesmo 50 anos depois. O sucesso deste livro me mostrou que a escrita tem um papel central no processo educacional que eu procurava preencher no meu chamado pastoral. Outra surpresa feliz na minha descoberta da escrita foi quando transformei alguns artigos de revista no livro O conhecimento de Deus, obra que se tornou não apenas uma ferramenta de alento para o mundo cristão, como também uma confirmação para mim.
A última surpresa desta história foi quando fui “recrutado”, como dizem hoje em dia, por meu amigo mais antigo de Oxford, James Houston, para integrar o Corpo Docente da Regent College em Vancouver, Canadá, do qual ele foi fundador e diretor. Nada estava mais distante dos meus pensamentos naquele momento do que deixar a Inglaterra, e eu já havia inclusive recusado outros convites. Mas a aproximação com Houston me fez mudar para a situação que defino hoje, sem questionamentos, como os melhores 28 anos da minha vida até agora. Descobrir que Deus estava me chamando para fazer o que posso fazer como imigrante britânico no Canadá – britânico de nascimento, agora canadense por opção, como às vezes me apresento – foi mesmo algo maravilhoso e hoje interpreto essa guinada como mais uma das surpresas muito felizes que o Senhor me proporcionou.
Todas estas situações foram marcos de mudança na minha vida que eu utilizo para ilustrar a verdade de que os cristãos servem a um Deus de surpresas felizes. Disse isso em um encontro de que participei, e após o término da minha fala, a liturgia solicitava que cantássemos Onde meu Salvador me levar. Confesso que hinos vitorianos raramente me tocam (gosto mais de Watts, Wesley e Newton), mas como eu mesmo tenho minhas falhas ao formular idéias e comunicá-las, o conteúdo daquela antiga canção veio a mim como uma verdadeira interpretação teológica do que eu havia acabado de dizer a respeito dos meus 63 anos como cristão. Senti meu coração apertar-se e, quase às lágrimas, entendi que aquela era outra surpresa feliz de minha trajetória, na forma de uma inesperada confirmação divina.
Paulo, discipulando convertidos, fala sempre da virtude, da obrigação e da bênção de agradecer a Deus constantemente: “Deixem-se encher pelo Espírito, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas” (Efésios 5.18, 20); “Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, enraizados e edificados nele, como foram ensinados, transbordando de gratidão” (Colossenses 2.6–7); “Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1 Tessalonicenses 5.18). Em seus momentos difíceis, o próprio apóstolo encontrou motivos para agradecer repetidamente o privilégio de exercer seu ministério (1 Timóteo 1.12–14), pelo trabalho da graça que enxergava através do evangelismo e na vida cotidiana das igrejas.
Cristãos pessimistas que dizem não ter muito a agradecer estão errados. Alguns momentos específicos de minha experiência são sem dúvidas peculiares para mim; mas não posso crer que a qualidade dessas situações seja de alguma forma especial. Portanto, incentivo todos os crentes a enxergar as surpresas felizes, pois elas nos ajudam a continuar expressando todos os dias a gratidão devida a Deus.
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