“Expondo as Palavras da Fé e da boa Doutrina” (1 Tm 4.6)
“Daí, que os pastores ousem todas as coisas pela Palavra de Deus, da qual foram constituídos despenseiros...que eles, pela Palavra comandem a todos, do maior ao menor; que edifiquem a casa de Cristo, que destruam o reino de Satanás; que alimentem as ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem o dócil; que repreendam, reprovem, censurem, e convençam o rebelde, mas tudo pela e dentro da Palavra de Deus.” (João Calvino – Instrução na Fé)
Não há desafio maior para os pastores e líderes que a exposição da Palavra de Deus. Não se trata de um aspecto do ministério pastoral, mas da maior e mais sublime tarefa que Deus confiou aos seus servos.
A importância do Ministério da Palavra é tamanha a ponto dos apóstolos constituírem o ministério diaconal para atender as necessidades de caráter social e, assim, “se consagrarem à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6.4). Obviamente o ministério pastoral não se restringe à oração e à pregação. Se aquele, contudo, que fora chamado por Deus para o ministério da pregação falhar nesta tarefa, falhou justamente na sua atividade principal.
É por isso que a igreja confere ao vocacionados e preparados para o ministério o título de “Licenciados ao Ministério da Palavra”, antes que sejam ordenados ao Sagrado Ministério da Palavra e Sacramentos. Com isso a igreja destaca que a principal tarefa do ministro é a pregação da Palavra de Deus, pois é ela que, inclusive, dá sentido aos sacramentos (Ceia e Batismo) e estes a confirmam. É por isso que no Culto Reformado os sacramentos sempre são ministrados após a proclamação da Palavra de Deus.
A tarefa do ministro é proclamar a Palavra de Deus. Invencionices, fanfarrices, fábulas, anedotas, motivação pessoal, confissão positiva e sofismas pode ser o conteúdo das falas de animadores de auditório e dosgurus de plantão, mas não pode ser o conteúdo da mensagem do ministro! Ele é “o ministro da PALAVRA”. Literalmente ele é servo (ministro) da Palavra! No sentido radical, o pregador está cativo à Palavra de Deus. Esta é a pregação: manifestar a verdade tal como está escrita na Bíblia. Portanto, cada sermão que pregamos deve ser uma exposição da verdade de Deus. Paulo recebeu a comissão de dar pleno cumprimento à Palavra de Deus (Cl 1.25). Aos presbíteros em Éfeso, ele disse: “jamais deixei de anunciar todo o desígnio de Deus!” (At 20.27).
O ministro é o servo (a redundância se faz necessária!) chamado para demonstrar claramente o caminho que o povo de Deus deve seguir. Em 2 Tm 2.15, Paulo exorta Timóteo a estudar a fim de manejar bem a Palavra. Manejar pode ser traduzido por “cortar reto”, como em Pv 3.6: “Ele endireitará as tuas varedas”. Eis o sublime mister do ministro da Palavra de Deus: preparar para o povo uma estrada reta e segura de se seguir. O pregador não pode fazê-lo, portanto, senão pela própria autoridade da Palavra de Deus e pela iluminação do Seu Espírito Santo.
O Ministério da Palavra é essencial na vida da Igreja. Cremos que a Palavra proclamada do púlpito pelo ministro de Deus é Palavra de Deus ministrada à Igreja. O ministro, dizia Calvino “é a própria boca de Deus”. Ora, vivemos uma crise na pregação. Mas ela não é nova. Aliás, a crise no conteúdo da pregação é fato presente no Antigo Testamento. Por muitas vezes encontramos profetas proclamando mentiras em nome de Deus apenas para agradar os ouvidos dos incautos. Em Jeremias 14.14 lemos:“Disse-me o Senhor: os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem lhes deis ordem...”. Dura sentença cairá sobre estes profetas (Jr. 14.15). Mas também o povo que se deixa seduzir pelas palavras mentirosas receberá a paga pela dureza de coração (Jr. 14.16).
O Catecismo Maior expressa de forma esplêndida aquilo que a Palavra de Deus exige dos pregadores e dos ouvintes das Santas Escrituras:
Pergunta 159. Como a Palavra de Deus deve ser pregada por aqueles que para isso são chamados?
Resposta: Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a sã doutrina, diligentemente, em tempo e fora de tempo, claramente, não em palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, fielmente, tornando conhecido todo conselho de Deus; sabiamente, adaptando-se às necessidades e às capacidades dos ouvintes; zelosamente, com amor fervoroso para com Deus e para com as almas de seu povo; sinceramente, tendo por alvo a glória de Deus e procurando converter, edificar e salvar as almas.
Pergunta 160. Que se exige dos que ouvem a Palavra pregada?
Resposta: Exige-se dos que ouvem a Palavra pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo que ouvem; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e prontidão de espírito, como Palavra de Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a guardem nos seus corações e produzam os devidos frutos em suas vidas.
Que Deus nos conceda homens e mulheres aptos para pregar!
Que Deus nos conceda homens e mulheres aptos para ouvir!
Ézio Martins de Lima, rev.
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