À Porta
O garoto tropeçou no patamar e a porta bateu.
Foi um castigo.
Por um instante pensou no que acontecera, e não sendo capaz de aceitá-lo, atirou-se raivoso contra a porta impassível.
Socou-a, esmurrou-a, batendo os pés e urrando.
Mas na porta, de cara de pau, nem uma fibra se mexeu.
O guri descobriu o buraco da fechadura, olho irônico daquela triste porta.
Curvando-se, porém, viu que o olho estava fechado.
Então, desesperado, assentou-se e chorou.
Espiava-o sorrindo, e pensava, Senhor, que eu me esgoto assim muitas vezes frente a portas cerradas.
Quero justificar, provar, persuadir.
E falo, e desfraldo argumentos,
Bato grandes pancadas para atingir a imaginação ou a sensibilidade dos outros,
Mas, cortês ou violentamente, mandaram-me embora, e gasto minhas forças porque sou orgulhoso.
Fazei-me, Senhor, respeitoso e paciente,
Alguém que ama e ora em silêncio,
Assentado à soleira enquanto espera que lhe abram a porta.
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