sexta-feira, novembro 10, 2006

À Porta

À Porta

O garoto tropeçou no patamar e a porta bateu.

Foi um castigo.

Por um instante pensou no que acontecera, e não sendo capaz de aceitá-lo, atirou-se raivoso contra a porta impassível.



Socou-a, esmurrou-a, batendo os pés e urrando.

Mas na porta, de cara de pau, nem uma fibra se mexeu.

O guri descobriu o buraco da fechadura, olho irônico daquela triste porta.

Curvando-se, porém, viu que o olho estava fechado.



Então, desesperado, assentou-se e chorou.

Espiava-o sorrindo, e pensava, Senhor, que eu me esgoto assim muitas vezes frente a portas cerradas.



Quero justificar, provar, persuadir.

E falo, e desfraldo argumentos,

Bato grandes pancadas para atingir a imaginação ou a sensibilidade dos outros,

Mas, cortês ou violentamente, mandaram-me embora, e gasto minhas forças porque sou orgulhoso.

Fazei-me, Senhor, respeitoso e paciente,

Alguém que ama e ora em silêncio,

Assentado à soleira enquanto espera que lhe abram a porta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário