sexta-feira, agosto 31, 2007

Identidade, comunhão e frutificação - João 15

João 15
Identidade, comunhão e frutificação
Culto - Presbitério de Campinas

Introdução:
* A geografia da minha infância foi a fazenda. A casa na fazenda tinha uma enorme cozinha. Casas das antigas fazendas geralmente possuíam uma grande cozinha... com uma grande mesa! A cozinha não era apenas o lugar das refeições, mas o lugar do encontro. Ao redor da mesa, da grande mesa, aconteciam os momentos íntimos do diálogo, da brincadeira, da amizade, da família.
* Os momentos mais marcantes do ministério de Jesus aconteceram à mesa. Entorno da mesa Jesus institui o sacramento que é a expressão do que é a igreja. Povo que se reúne por causa do Senhor que por ela morreu e por ela foi ressurreto dentre os mortos. Por isso, muito melhor que a conversa protocolar, é a conversa entorno da mesa! Jesus parece não ficar à vontade na sala de estar que é a sala da aparência superficial... lugar onde se precisa tomar muito cuidado para não derramar o cafezinho no tapete. Jesus fica à vontade entorno da mesa... onde se pode partir o pão... (e é impossível partir o pão sem que migalhas caiam). E quem se preocupa com os detalhes da superficialidade de beleza plástica quando se sabe, se reconhece e se vive o que é mais importante, a saber, a intimidade plena e que gera vida e vida de qualidade? Estes momentos nos curam, porque o que mais precisamos é de intimidade que nos traga consciência do que somos e qual o norte, qual a direção, precisamos tomar na vida!
* À volta dessa mesa Jesus nos chama para nos voltar para à sua Palavra. Ele (e só Ele pode fazer isso), quer nos dar a Sua Palavra. Não se pode falar da igreja, sobre a igreja e para a igreja, senão pela Palavra do Seu Senhor! A tentação de falar da igreja é muito grande. De falar do nosso jeito, conforme nossas preferências, nosso jeito. Mas ninguém está autorizado a fazê-lo! Jesus não transferiu esta autoridade para ninguém... Por isso é tão sério falar da igreja! Como eu amo o Senhor da Igreja, eu amo a Igreja do meu Senhor. Contudo, ainda que a ame, não posso falar dela a partir de mim. Eu pecaria, ainda que tivesse a melhor das intenções. O Senhor da Igreja é o noivo da igreja, cuida dela, e é zeloso por ela! É por isso que precisamos voltar para a Sua Palavra. E a Sua Palavra em volta dessa mesa é um chamamento para que enraizemos a Sua Palavra no nosso coração e sirvamos, assim, à nossa geração.
* Que bom que você está aqui! Que bom que você veio para esta celebração! Que bom que estamos aqui para outra vez e uma vez mais, sermos lembrados do amor de Deus por nós e da vocação de Deus, que nós cumprimos em nossa geração. Mas o tempo passa... e passa veloz! E é neste tempo que somos chamados para viver a fé! Porque depois, eu vou morrer. Assim como alguns dos meus pais na fé morreram. E você que é mais jovem que eu também vai morrer. Mas a obra de Deus continua, porque Deus é o Senhor da História. E Deus nos diz, volta pra minha palavra! Dá uma olhada nela Medita nela. Sirva-se dEla.
Nós já fomos mais a igreja da Palavra. Hoje somos a igreja da experiência e dos movimentos. É importante ser e continuar a ser a igreja da palavra. Vamos ler um texto que você já leu tantas vezes... que eu preguei tantas vezes! Mas é isso mesmo! Voltamos para a Palavra! Porque precisamos sempre voltar para ela. Alguns textos precisamos sempre ler de novo! A Bíblia, Palavra de Deus, é essa Palavra para a qual devemos voltar sempre de novo! Novidade, talvez não. Fidelidade, sim! A fidelidade nasce do encontro com a Palavra.

1. Somos identificados em Cristo
O ser humano está sempre em busca de si mesmo! É uma busca contínua. Quem sou? É a pergunta da vida!
A igreja é o povo que está em Cristo!
É tão simples! É só isso! E é isso tudo!
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós...”
Permanência é um estado de graça, não de esforço.

O que somos, somos porque estamos em Cristo! “Ser” tem a ver com essência!
E nessa busca pelo ser, como chegamos a ser? Como se forma a nossa identidade...
O verso 9 ajuda-nos a responder...
Vs. 9: O amor produz identidade. Quem sou? Disse Jesus: Sou o amado do Pai.
No batismo e na transfiguração: Meu filho amado em quem me comprazo (em quem tenho alegria)// Meu filho, o meu eleito, a ele ouvi. (Lucas 9.35)
Quem somos? Somos amados por Jesus. Eleitos em Jesus!
‘Quem não sabe quem é a para o que existe, não sabe o que pensar, que motivação deve ter ou aceitar, que atitude deve acalentar e que ação deve tomar!
* Barth: Jesus me ama, sim... (pesquisar na net)
VS. 10. Guardar os mandamentos.
A identificação com Jesus não é um amor apaixonado, desprovido de compromissos e responsabilidades. Não é um ‘ficar com’ Jesus, mas um viver pleno, integral e sem reservas. O que marca a existência em todas as suas dimensões. O amor verdadeiro é exigente, e não um sentimento desprovido de compromissos e responsabilidades!
A identificação se dá no amor. Amor é compromisso não apenas emocional. É “um ato de vontade”, que se revela concreto nas palavras de afirmação e nas ações.
O que ama vê na obediência um privilégio de servir....
VS. 11. Fala-nos do benefício da alegria/gozo. Em última instância Deus é glorificado, mas nós somos os beneficiados.
Deus não é beneficiado pelo que somos ou fazemos. Porque Deus não se torna maior quando nós o louvamos ou menor quando não o obedecemos. Por ser perfeito, não precisa de complemento. Na relação com Deus nós somos os beneficiados....
Vs.12/13: O mandamento é relacional – é amar. A igreja é o povo que está em Cristo, por isso ama como Cristo ama!
A fonte da identidade (o que somos) é amor do próprio Jesus por nós, mas a expressão dessa identidade com Jesus se dá na forma como me relaciono com o outro.
Nossa identidade é vivida em Comunhão
Somente quando praticamos a verdade de Jesus à maneira de Jesus é que temos a vida de Jesus. Não considero isso fácil!
É muito mais fácil falar sobre aquilo que os cristãos crêem. Os credos, doutrinas...
É muito mais fácil falar sobre aquilo que os cristãos fazem – o comportamento apropriada para os cristãos (na ética, na missão...)
O que ocupa o topo da lista é a vida cristã conforme ela é vivida. Porque a vida se processa no cotidiano. E no cotidiano é onde passo praticamente o todo da minha!
Neste tempo marcado pela tecnologia temos perdido o que é essencial para a nossa humanidade, relações que fazem a vida da gente ser vivida como a vida de gente tem que ser!
Com resultado, vivemos uma vida muito aquém do ideal: relacionamentos se atrofiam, o prazer diminui, a vitalidade desvanece..
Vida em comunidade é um desafio...
Eugene Peterson num livrinho maravilhoso cujo titulo é “Diálogos de Sabedoria”, escreve que “Muitos anos atrás, quando eu podia, participava das vésperas (orações da tarde), com uma comunidade de freiras beneditinas. Gostava muito da simplicidade silenciosa do culto: as freiras, anônimas em seus hábitos, a liturgia tão natural e espontânea. Sempre me pareceu muito mais espiritual do que o barulho religioso da minha congregação presbiteriana. Acabei fazendo amizade com uma das freiras. Certo dia, numa conversa, ela deve ter detectado minha inveja romantizada e disse: ‘Você acha que vivemos em êxtase o tempo todo aqui, não é Eugene?’. Talvez pense que levitamos quando lavamos a louça! Então ouça o que vou dizer: ‘Nós somos uma comunidade de santas e mártires –e as mártires são as que têm de conviver com as santas’. Isso me curou, pelo menos por um tempo!
A identidade em Cristo é vivenciada na comunhão, que é a vida interagida no Seu corpo.
Igreja é uma comunidade que expressa a trindade. A trindade é uma comunidade que só pode ser expressa outra comunidade.
A trindade é uma unidade, por isso só pode ser realmente expressa por uma unidade.
Por isso a igreja é onde essa unidade acontece!
Pai agricultor; Jesus a videira, o Espírito Santo, a seiva... e nós, os ramos que frutificam!

O “assim como vos amei’, é determinante aqui!
· Amor abnegado: humilha-se para vir ao encontro do outro
· Amor gratuito: não estabelece preço.
· Amor sacrificial: que se entrega para o benefício do outro

VS. 14/15: Essa obediência não é o que os torna amigos; e sim, o que caracteriza seus amigos. Claramente, portanto, essa amizade não é estritamente recíproca: esses amigos de Jesus não podem se voltar e dizer que Jesus será amigo deles se ele, Jesus, fizer o que eles dizem. Embora Abraão e Moisés sejam chamados de amigos de Deus, Deus nunca é chamado de amigos deles; embora Jesus possa se referir a Lázaro como seu amigo (João 11.11), Jesus não é chamado de amigo de Lázaro. Deus jamais é referido nas escrituras como “o amigo” de qualquer pessoa. Obviamente, isso não quer dizer que Deus seja um ‘não-amigo’: se amizade for medida estritamente na base de quem ama mais, pecadores culpados não podem encontrar amigo melhor e mais verdadeiro que no Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. No entanto, a amizade mútua e recíproca do tipo moderno, com suas cumplicidades, não está em questão, e não pode estar sem rebaixar a Deus.
Os amigos de Jesus, são portanto, os objetos do seu amor (VS 13).e são obedientes a ele (VS.14), e por isso amam como ele ama (vs.12).
Se a obediência é necessária o que os distingue então dos servos? (douloi: escravos). Noções modernas de amizade e escravidão deixariam de fora o requisito obediência.
Um potentado absoluto exige obediencia de todos os seus súditos. A seus escravos, entretantom simplesmente se diz o que fazer, enquanto seus amigos são informados de seu pensamento, desfrutram de sua confiança e aprendem a obedecer com um sentimento de privilégio e com o pleno entendimento do coração de seu mestre. Igualmente nesta passaram, o direito absoluto de Jesus de comandar de nenhuma forma é diminuído, mas ele se esforça para informar seus amigos de seus motivos, planos e propósitos. As palavras “já não”, acrescentam uma significação histórico-salvífico. Em tempos passados, o povo da aliança de Deus não era informado do plano da salvação de Deus na medida plena nesse momento concedido aos discípulos de Jesus. Os discípulos de Jesus são assim mais informados, mais privilegiados, compreendendo mais que quaisquer crentes que vieram antes (1 Pedro 1.10-12).
“Foi a respeito dessa salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual ocasião ou quais circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo, enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que os anjos anelam perscrutar”
Aqui acontece as conseqüências dessa identidade e comunhão.
Somos amigos à medida que somos cooperadores da obra que é de Deus, que em Sua graça nos dá a conhecer o seu projeto de reconciliação e dele nos faz co-participantes.
Alguns estudiosos entendem que esta parte do texto é o comentário, a explicação, da parábola da videira.
Vs.16: A consciência do chamado aqui é para nos dar segurança: estou com vocês!
Chamados que são designados.
Esquecer-se da vocação é a causa de perdermos o norte na designação. Fazemos tantas coisas, mas nem sempre fazemos o que devemos fazer. Vocação em crise! Igreja em crise!
“e o pai concede tudo que pedirdes”. Qual o contexto? A missão de frutificar.
O ramo pede o quê para a videira? A seiva. Seiva é a vida cujo poder gera o fruto. Uma imagem perfeita para o Espírito Santo.
A igreja para produzir o fruto precisa da presença poderosa do Espírito!
Pedimos mal, diz-nos Thiago, porque pedimos mal. Porque somos egoístas.
Milagres acontecem quando a igreja sai para o campo da batalha. O poder não nos foi prometido para expressão do nível de espiritualidade, mas como capacitação para a missão. A igreja evangélica brasileira vive em dois extremos. Por um lado uma parte da igreja que destaca o poder como expressão da espiritualidade. A ação do Espírito Santo foi reduzida à questão puramente litúrgica. São mais abençoados os que manifestam mais poder (entenda-se poder como as manifestações eufóricas e sentimentais). Por outro lado, com receio dos chamados exageros, uma outra parte da igreja se fechou com medo do poder.
· Meu irmão e a Harley Davison = linda.
· Pra ser colocada em movimento precisa de combustível = dynamis, para dar poder.
Toda figura de linguagem é limitada, mas permita-me tentar dizer o que estou querendo dizer.
Parece-me que estamos confundindo as coisas nesse nosso tempo.
Eu nunca vi (ainda), alguém parado frente a um posto de gasolina dizendo: “olha que gasolina linda! Olha a cor!” O propósito dela não é para ser admirada. Sua utilidade está no poder da combustão, para gerar poder para colocar em movimento.
É isso! Poder é para nos colocar em movimento. Não para ser colocado numa vitrina.
Precisamos resgatar a necessidade do poder revitalizador do Espírito!
O Pr. Ariovaldo Ramos esteve há alguns anos falando na IPI Central de Brasília. Na ocasião ele contou um fato que havia acontecido em sua igreja.
Ele disse que a igreja entoava aquele cântico: “Rompendo em Fé”. Depois que cantaram, ele disse pra igreja que queria conversar sobre aquela música...
· Abrir o mar.. Quem fez? Moisés. Por que? Para libertar os escravos (que saiam do Egito)
· Andar sobre as águas, quem fez? Jesus. Por que? Porque estava com pressa! Chegou e não tinha barquinho...então pra chegar rápido andou sobre águas! Pra Jesus é fácil assim! Por que ele estava com pressa? Porque queria curar as pessoas em Genesará. Diz o texto que as pessoas que vieram até Jesus foram todas curadas.
· E quem acalmou a tempestade? Jesus! Por que? Porque queria libertar o gadareno.
E ele continuou:
Todo mundo fala da fé de George Muller. Este homem orava e carroça do padeiro quebrava em frente à sua casa. E ele então usava os pães para alimentar os órfãos. George Muller cuidava de 2000 mil órfãos.
Por que precisamos romper em fé?
Que escravos você quer libertar que Deus precisa abrir o mar?
Que enfermos você procura curar, para poder andar sobre as águas?
Que gadareno você está indo libertar para precisar de poder para acalmar o vento e o mar?
E se você quer ter a fé de George Muller, então adote 2 mil órfãos!

A identidade (o que somos) e a comunhão (como vivemos) se expressa nos frutos.
Os frutos sempre serão da mesma natureza daquilo com o que se identifica e como se vive.
É da natureza do ramo da videira produzir fruto...
* Sem fruto o ramo nega a videira.
Sem fruto o ramo impede a vitalidade dos demais ramos, pois, bebe e não frutifica.
Sem fruto, mesmo o ramo que é belo e aparentemente sadio, começa a drenar a vitalidade dos demais ramos.
O significado do ramo é dar fruto.
O fruto não existe por si mesmo e para si mesmo, mas cumpre o propósito da existência da própria videira.
* O ramo é apenas um condutor da vida e natureza da videira na forma do fruto.
* Da videira nascem uvas e não espinhos.
* O espinho da videira é o ramo infrutífero.

Conclusão: Eu disse que ia falar coisas simples! Muito simples! É só isso, e é isso tudo!

Rev. Ézio Martins de Lima

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