terça-feira, março 27, 2012

Medindo a FÉ


Penso que seja sábio eliminar de uma vez por todas a discussão sobre o quanto de fé possuímos, ou como precisamos de mais fé. Geralmente quando dizemos essas coisas não estamos falando sobre fé, mas de um sentimento que temos.
Quando definimos fé como um sentimento – de crença ou de piedade – o que na verdade estamos medindo não é a fé, mas uma emoção. A fé não é um sentimento. Ela é um ato de concordância, de abertura, de entrega... A fé, portanto, tem a ver com o que cremos que Deus está fazendo, está por fazer, e se fundamenta na perspectiva de Seu Poder, Soberania, Amor e Graça, mas não com o que estamos sentindo e nem com qualquer relação com a intensidade do que estamos sentindo. "Se o nosso coração nos acusa (ou duvida), Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas.” (1 João 3.20-22). Por exemplo, quando o pai do menino enfermo (cf.Marcos 9.24) ) disse "ajuda-me na minha falta de fé", não recebeu uma advertência de Jesus do tipo: "quando sua fé for grande, então, eu curarei o seu filho".
Embora em muitos textos encontremos a relação entre fé e cura, há muitos outros textos em que os milagres de Jesus foram realizados sem esta relação direta. Vejamos:
* Jesus curou em resposta à fé de um terceiro – caso da filha de Jairo (Mc 5.21-24)
* Jesus curou em resposta à fé pessoal – caso da hemorroísa (Mc 5.24-34)
* Jesus curou sem evidência de fé pessoal – caso do homem da mão ressequida (Mt 12.9-13); caso do cego (Jo 9.1-7); caso do paralítico do tanque de Betesda (Jo 5.1-13).
Quando Jesus diz: “grande é a tua fé” ou “homens de pequena fé”, não está se referindo ao sentimento ou a intensidade de emoção no coração das pessoas, mas quanto ao “objeto da fé” ou “ausência de crédito dado a quem merece todo crédito”.
Quando começo a medir a minha fé, faço isso a partir do meu ponto de vista e frustrações – e na maior parte das vezes faço isso porque estou olhando para as coisas numa perspectiva do meu fracasso, das minhas impossibilidades, do meu desânimo, etc. Enfim, olho para as coisas sob a perspectiva do meu “humanismo” que tende ser autônomo e controlar as coisas a partir daquilo que entendemos e queremos que sejam. Se, ao contrário,a fé é um repousar, descansar e entregar-me a Deus, passarei a ficar atento ao que Deus está fazendo, e assim torno-me mais e mais consciente de que tudo, inclusive minhas aparentes derrotas, fracassos e equívocos, fazem parte do Seu Plano perfeito que, aliás, tem como propósito a minha vida e não tanto o que eu quero nela e pra ela. O alvo da graça e do amor de Deus é tratar, curar, salvar a minha vida. Por isso Paulo brada: “todos as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. Crer nisso “é muito”. É tudo. É o suficiente.
Ah! E Jesus disse que o Pai concede o Espírito sem medida (João 3.34). Ele não o dá como uma esmola. Há imensidade no ato, extravagância – mas nunca terei a dimensão dessa imagem se estiver medindo coisas a partir de minha perspectiva...
Rev. Ézio Martins de Lima
 

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